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Mesmo que os protestos que abalam o Egito cessem nos próximos dias, o caos instaurado no país mudou para sempre a relação entre o povo egípcio e seu governo. A raiva e as aspirações que impulsionam a mais repleta gama de cidadãos a irem às ruas não irão desaparecer sem mudanças radicais no pacto social entre a população e o governo – os eventos dos últimos dias também podem levar a mudanças no relacionamento entre os Estados Unidos e um fiel aliado árabe.

O presidente Hosni Mubarak deve aceitar que a estabilidade de seu país depende de sua vontade pessoal de sair de cena a fim de abrir espaço para uma nova estrutura política. Uma das tarefas mais difíceis para um líder que se encontra a tanto tempo no poder é estruturar uma transição pacífica. Os egípcios, por sua vez, deixaram claro que não aceitam nada menos do que a democracia completa e mais oportunidades econômicas.

Conduzir tal transformação oferece ao presidente Mubarak a chance de acabar com a violência e a ilegalidade, e a começar a melhorar as combalida situação econômica e fiscal em seu país e marcar sua imagem na história.

Não basta que o presidente prometa eleições "justas", como fez no sábado. Os egípcios não toleram mais o regime atual, e a melhor forma de evitar que a inquietação do povo se torne um motim é ver o presidente Mubarak e sua família fora da política.

Além disso, ele deve garantir que a eleição será honesta e aberta para todos os candidatos legítimos que quiserem nela concorrer e que será conduzida, sob a vigilância de monitores internacionais, sem a interferência das forças armadas egípcias ou qualquer outro aparato de segurança. O povo egípcio quer uma transformação completa, não apenas de aparência. Como parte da transição, Mubarak precisa trabalhar com as forças armadas e a sociedade civil para estabelecer, o quanto antes, um governo interino a fim de monitorar uma transição organizada nos próximos meses.

Mubarak contribuiu significativamente para a paz no Oriente Médio. Agora é imperativo que ele contribua para a paz em seu próprio país convencendo os egípcios de que seus anseios e preocupações estão sendo sanados.

Se demonstrar liderança e conseguir atingir estes objetivos, ele pode fazer com que o país mais populoso do mundo árabe seja um exemplo de como realizar as reformas pelas quais toda a região clama.

Os eventos da semana que passou geraram muitas críticas à tolerância americana para com o regime egípcio. É verdade que a retórica pública dos EUA nem sempre reflete as preocupações privadas dos americanos. Todavia, existia um entendimento pragmático de que a relação dos EUA com o Egito beneficiava a política externa norte-americana e promovia a paz na região. E, que ninguém se engane, uma relação produtiva com o Egito continua sendo crucial tanto para os EUA quanto para o Oriente Médio.

Para esta finalidade, os EUA devem adicionar à sua retórica um auxílio real ao povo egípcio. O financiamento militar do Egito dominou por muito tempo a relação entre os dois países. A prova se deu no fim de semana: embalagens de gás lacrimogêneo onde se lia "Made in USA" foram atiradas nos protestantes. Os EUA forneceram caças F-16 que sobrevoaram o centro do Cairo. O Congresso dos EUA e a administração Obama precisam considerar a possibilidade de fornecer assistência aos civis no Egito, o que criaria empregos, e melhorar as condições sociais no país, além de garantir que a assistência militar americana cumpra seus objetivos – da mesma forma que os EUA estão tentando fazer no Paquistão através de um pacote de assistência não-militar com cinco anos de duração.

O despertar do mundo árabe deve trazer uma nova luz também a Washington. Os interesses americanos não são atendidos com o colapso de governos amigáveis sob o peso da raiva e da frustração de seus próprios povos, nem com a transferência de poder para grupos radicais que irão espalhar o extremismo. Muito pelo contrário, a melhor forma para que os aliados estáveis dos EUA sobrevivam é atender as necessidades políticas, legais e econômicas de seus povos.

Em outros momentos históricos decisivos, nem sempre os EUA agiram com sabedoria. Em 1986, os americanos realizaram uma importante aliança com as Filipinas livres ao apoiar seu povo quando eles escolheram Ferdinand Marcos. Todavia, os EUA continuam a pagar um alto preço por suportar por tempo demais o xá do Irã. O comportamento americano no atual desafio no Cairo é crítico. É vital que os EUA forneçam apoio ao povo, que anseia por nada mais que os mesmos valores e esperanças americanos e busca os objetivos mundiais de liberdade, prosperidade e paz.

Os EUA deram suporte à política de Mubarak por três décadas. Chegou a hora de olhar além da era de Mubarak e desenvolver uma nova política para o Egito.

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