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Arqueologia

O mundo perdido da Europa antiga

Pesquisadores encontram resquícios de culturas mais avançadas que as de Grécia e Roma antigas na Europa

 | Fotos: Marius Amarie
(Foto: Fotos: Marius Amarie)
Saiba mais sobre os artefatos europeus |

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Saiba mais sobre os artefatos europeus

Muito antes da glória alcançada pela Grécia e Roma antiga e das primeiras cidades da Mesopotâmia e Egito, viveu um povo no Vale do Danúbio e nos contrafortes dos Bálcãs que estava muito à frente do seu tempo nas artes, tecnologia e comércio a distância.

Nos 1,5 mil anos anteriores a 5.000 a.C., eles fizeram plantios e construíram cidades, algumas com até 2 mil casas. Domi­naram a fundição de cobre em larga escala, a nova tecnologia da­quela era. Em seus túmulos foi encontrada uma quantidade im­­pressionante de adereços e a mais antiga grande coleção de artefatos de ouro do mundo.

Os desenhos marcantes da cerâmica demonstram o refinamento da linguagem visual dessa cultura, até agora perdida. As pesquisas recentes, de acordo com arqueólogos e historiadores, au­­mentaram a compreensão dessa cultura há muito esquecida, e que parece ter se aproximado do li­­miar do status de civilização. A escrita ainda não havia sido inventada e ninguém sabe como o povo se chamava. Para alguns acadêmicos, o povo e a região são simplesmente a Europa Antiga.

Em seu auge, cerca de 4.500 a.C., "a Europa Antiga estava en­­tre os lugares mais sofisticados e tecnologicamente avançados do mun­­do e desenvolveu muitos si­­nais políticos, tecnológicos e ideológicos de civilização", disse Da­­vid W. Anthony, professor de an­­tropologia do Hartwick College, em One­­onta, Nova Iorque, e autor de The Hor­­se, the Wheel, and Lan­­guage: How Bronze-Age Riders from the Eurasian Steppes Shaped the Modern World. Historiadores sugerem que a chegada de povos das estepes ao su­­des­­te da Europa pode ter contribuído para o colapso da cultura da Europa Antiga, por volta de 3.500 a.C.

Embora escavações ao longo do último século tenham descoberto vestígios de antigos assentamentos e estátuas de deusas, os arqueólogos locais só descobriram em 1972 um grande cemitério do quinto milênio a.C., em Varna, Bulgária, época em que começaram a suspeitar que aquelas não eram pessoas pobres vivendo em sociedades igualitárias pouco estruturadas.

A história que agora surge é que agricultores pioneiros mudaram-se para o norte em direção à Europa Antiga por volta do ano 6.200 a.C., vindos da Grécia e da Macedônia. Eles estabeleceram colônias ao longo do Mar Negro e nas planícies e colinas do rio, que evoluíram em culturas relacionadas, mas um tanto distintas, conforme descobriram os arqueólogos. Os assentamentos mantinham contato próximo através de redes de comércio de cobre e ouro e também compartilhavam pa­­drões de cerâmica.

Conchas

A concha Spondylus do Mar Egeu era um item especial de comércio. Talvez as conchas, usadas em pingentes e braceletes, fossem símbolos de seus ancestrais egeus. Ou­­tros acadêmicos veem essas aquisições de longa distância como motivadas em parte pela ideologia de que os produtos não eram bens comuns no sentido moderno, mas sim itens "de valor", símbolos de status e reconhecimento.

Notando a difusão desse tipo de concha, Michel Louis Seferiades, antropólogo do Centro Nacional para Pesquisa Científica, na Fran­­ça, suspeita que "os objetos eram parte de um halo de mistérios, uma mistura de crenças e mitos".

Seja como for, Seferiades escreveu no catálogo da exposição que a predominância das conchas sugere que a cultura possuía ligações com "uma rede de rotas de acesso e elaborados sistemas de escambo – incluindo a permuta, a troca de presentes e a reciprocidade".

Algumas cidades do povo Cu­­cuteni, uma cultura posterior e aparentemente robusta que se assentou ao norte da Europa An­­tiga, foram erguidas ao longo de mais de 800 acres, o que os arqueólogos consideram maior do que qualquer assentamento humano da época.

A cerâmica caseira decorada em estilos diversos e complexos sugere a prática de refeições ritualísticas. Enormes travessas dispostas em prateleiras eram típicas da "apre­­sentação socializante do alimento" da cultura, revelou a Dra. Chi.

Inicialmente, a falta de uma arquitetura de elite levou acadêmicos a presumir que a Europa Antiga possuía pouca ou nenhuma estrutura hierárquica de po­­der. Tal crença foi abandonada após a descoberta dos túmulos do cemitério de Varna. Durante vinte anos após as descobertas de 1972, os arqueólogos encontraram 310 túmulos datados de aproximadamente 4.500 a.C.. Anthony afirmou que isto foi "a melhor prova da existência de uma posição social e elite política claramente distintas".

O cobre, não o ouro, pode ter sido a principal fonte do sucesso econômico da Europa Antiga, acredita Anthony. Como a fundição do cobre foi desenvolvida por cerca de 5.400 a.C., as culturas da Europa Antiga exploraram as ricas jazidas da Bulgária e do que hoje é a Sérvia.

Estatuetas foram encontradas em praticamente todas as culturas da Europa Antiga, em vários contextos: em túmulos, altares do­­mésticos e outros prováveis "espaços religiosos".

Uma das mais conhecidas é a figura em argila de um homem sentado, com os ombros curvados e as mãos no rosto em aparente contemplação. Chamada de "Pen­­sador", essa peça e outra figura feminina comparável foram en­­contradas em um cemitério da cultura Hamangia, na Romênia. Estariam eles pensativos ou de luto?

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