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Estátua de Mao Tsé-Tung em Henan foi financiada por empresários, mas demolida pelo governo. | China Foto Press via Getty images/AFP
Estátua de Mao Tsé-Tung em Henan foi financiada por empresários, mas demolida pelo governo.| Foto: China Foto Press via Getty images/AFP

Mao Tsé-Tung demorou só alguns dias para cair. Obviamente, não a figura histórica, o controverso líder da revolução chinesa que comandou a República Popular por quase 30 anos. Mas, sim, sua mais recente e megalomaníaca representação: uma estátua gigantesca dourada, de 36 metros, que estava sendo construída numa zona rural do país, Henan. O “Mega Mao” virou chacota no mundo pelos seus traços pouco fiéis. Na China, foi alvo de duras críticas. “Por que não usar este dinheiro [custou o equivalente a R$ 2 milhões] para ajudar a população pobre da província”, escreveu um usuário no Weibo, espécie de Twitter chinês. Menos de uma semana depois, a estátua amanheceu destruída e coberta por uma lona preta – não teve as “aprovações do governo”, justificaram as autoridades.

A forma como o regime precisou lidar com a efígie diz muito sobre sua a nova realidade. Embora lute, não parece ter mais o controle onipresente de outrora. Protestos em 2010 e 2011 (estes inspirados na Primavera Árabe) levaram massas para sair às ruas por direitos humanos e trabalhistas, transparência ou contra a corrupção. As ações foram duramente reprimidas, mas a tensão ficou e o país parece à beira de uma ebulição social. “O regime controla a população com mão-de-ferro, mas até quando? Uma faísca pode ser o estopim para uma revolta popular sem precedentes. E se a desaceleração econômica se transformar em uma séria recessão?”, questiona Valdomiro Ferraz, professor de Relações Internacionais e estudioso dos mercados asiáticos.

A questão econômica é um ponto particularmente sensível para Pequim. Para estancar a desaceleração, com fábricas migrando para países mais baratos, o governo tem pressionado custos trabalhistas. Mas o efeito colateral é um descontentamento que elevou o número de greves em Guangdong, principal distrito industrial, de 23 em junho para 56 em novembro. No total, a China encarou 1,2 mil greves e protestos trabalhistas em 2015, segundo o China Labour Bulletin, de Hong-Kong.

O regime pode estar perdendo o controle. “Há mais de 100 mil protestos civis na China por ano na última meia década. O país gasta mais com sua segurança interna do que com seu massivo aparelho militar. O Partido Comunista tem medo dos chineses”, declarou Joseph Bosco, do Centro de Estratégias e Interesses Internacionais dos EUA e ex-diretor da Secretaria de Defesa, ao Epoch Times.

O alto número também aparece em relatórios internacionais. Em 2014, o Human Rights Watch (HRW) apontava para entre 300 e 500 protestos por dia.

Até mesmo a poluição tem agravado a situação. A população das cidades não esconde a frustração com a má qualidade do ar. Em dezembro, o governo chegou a emitir alertas vermelhos. “Está claro que o regime precisará encarar uma abertura gradual, aceitar mudanças e afrouxamentos. Afinal, falamos de uma força popular que pode mobilizar centenas de milhões de pessoas”, define Ferraz. Contra uma população de 1,3 bilhão de habitantes, será preciso bem mais do que se esconder em uma lona preta.

100 mil

protestos tomam as ruas chinesas todos os anos, segundo os cálculos mais conservadores de ativistas de direitos humanos e agências internacionais.

1,2 mil

greves e protestos trabalhistas foram realizados em 2015, de acordo com dados do China Labour Bulletin, um grupo de direitos humanos sediado em Hong Kong. O distrito industrial de Guangdong tem sido o epicentro deste movimento.

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