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John Kelly, chefe do Departamento de Segurança Interna, e o presidente Donald Trump, em reunião na Casa Branca | The Washington Post
John Kelly, chefe do Departamento de Segurança Interna, e o presidente Donald Trump, em reunião na Casa Branca| Foto: The Washington Post

Você se lembra dessa cena? “Este é o departamento de casting. Se eu estivesse dirigindo um filme, escolheria você para o papel de um general”, disse um presidente Trump sorridente alguns meses atrás, no almoço do dia de sua posse, no Capitólio, apontando para o secretário de Defesa Jim Mattis. “E o general Kelly”, ele acrescentando, fazendo um gesto em direção a John F. Kelly - o nome que ele escolhera para comandar o Departamento de Segurança Interna. 

Eram tempos mais simples. Agora estamos em agosto, e, enquanto trabalha em seu campo de golfe em Bedminster, Nova Jersey, Trump está diante de uma das maiores crises de sua presidência: a escalada de hostilidade vinda da Coreia do Norte, que, segundo revelam os serviços de inteligência americanos, já conseguiu miniaturizar uma ogiva nuclear para que ela caiba na ponta de um de seus mísseis.  

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Parlamentares e líderes mundiais estão em clima de incerteza ansiosa enquanto Trump enfrenta o desafio e intensifica seu discurso, avisando Pyongyang que ela enfrentará “fogo e fúria” se continuar a ameaçar os Estados Unidos. E todos querem saber como os homens que Trump chamou de “meus generais” estão guiando o presidente nos bastidores.  

Teste crucial

A Coreia do Norte representa um teste crucial não apenas para o presidente, mas para esse grupo de figuras militares experientes na administração. Muitas vozes da política externa esperavam que eles infundissem calma e ordem ao presidente quando ele trata de questões de guerra e paz. Esses militares contam com a admiração e o respeito de Trump – ele é fascinado pelos militares desde seus tempos de adolescente na Academia Militar de Nova York. Mas será que vão gastar esse capital para moldar profundamente a resposta da administração à crise? Vão tentar frear Trump ou vão apenas ecoar suas palavras?  

Os acontecimentos desta semana até agora nos deram uma resposta incerta. Trump está com Kelly, agora seu novo chefe de gabinete, a seu lado em Nova Jersey. Mattis é um dos principais responsáveis por traçar uma estratégia, além do assessor de segurança nacional H.R. McMaster, general três estrelas do Exército. No entanto, quando Trump deu sua declaração inicial, na terça-feira, ele o fez de improviso. Ele tinha sido informado sobre os desdobramentos mais recentes relativos à Coreia do Norte, mas as palavras incendiárias que inflamaram o impasse foram dele próprio, segundo funcionários da Casa Branca que conversaram com Philip Rucker, do “Washington Post”. Os generais se mantiveram em grande medida longe das vistas do público. Rucker postou no Twitter: “Kelly & Trump falaram em enviar à Coreia do Norte ‘uma mensagem forte em termos nada incertos’, mas a frase sobre “fogo e fúria” veio apenas de Trump, segundo funcionário sênior da Casa Branca”. 

De acordo com a CNN, Kelly conversou com Trump antes de chamar a imprensa, apresentando ao presidente as informações mais recentes sobre “a península coreana, com o secretário de Estado Rex Tillerson dando sua contribuição ao telefone”. Mas, como é o caso com o uso contínuo e destemperado que Trump faz do Twitter, houve “poucos sinais de que a presença de Kelly ao lado de Trump tenha moderado a ação do comandante em chefe volátil e não censurado”. 

Figuras para observar

Enquanto isso, os críticos de Trump ressaltavam que os generais são as figuras mais importantes a serem observadas

Malcom Nance tuitou: “É bom que McMaster, Kelly e Mattis desativem e coloquem um freio na língua de Trump nas próximas 24 horas, senão vai ficar claro que eles incentivaram o discurso de guerra com a Coreia do Norte”.  

Dan Pfeiffer escreveu no Twitter: “Quero saber se Kelly, Mattis, Tillerson ou McMaster sabiam o que ia sair da boca de Trump sobre a Coreia do Norte”.  

Minhas fontes dentro da Casa Branca fizeram pouco caso das palavras ditas pelo presidente de improviso, dizendo que sua declaração foi típica do modo como Trump trabalha: ele prefere mandar uma mensagem que condiz com seu estilo, e não ler argumentos que lhe parecem conservadores e entediantes. Mesmo assim, as palavras de Trump foram vistas como perturbadoras mesmo por alguns republicanos, como o senador John McCain, do Arizona, que as descreveu como provocação. 

“Não sei o que ele está dizendo e já desisti há muito tempo de tentar interpretar o que ele fala”, disse McCain numa estação de rádio. “Não é terrível, mas é o discurso clássico de Trump, exagerando as coisas.”  

Na quarta-feira, Rex Tillerson minimizou as declarações de Trump, dizendo que não estava preocupado “com essa retórica particular dos últimos dias. Acho que o presidente mais uma vez, como comandante em chefe, achou necessário lançar uma declaração muito forte dirigida diretamente à Coreia do Norte.” 

Jake Tapper tuitou: “Tillerson: ‘Acho que os americanos podem dormir bem à noite, não estou preocupado com essa retórica particular dos últimos dias’”. 

Mattis adotou tom semelhante ao de Trump, dizendo à Coreia do Norte que ela “deve parar de cogitar de quaisquer ações que possam levar ao fim de seu regime e à destruição de sua população”. 

Em entrevista que deu à Fox News na terça-feira, Kelly descartou a sugestão de que os generais e outros que cercam Trump concordariam com tudo o que ele diz ou estariam facilitando ao presidente dar vazão a seus instintos combativos. “Jim Mattis define o que é falar a verdade a quem está no poder, a meu ver”, disse Kelly a Chris Wallace. “Gosto de pensar que eu também faço isso.” 

Críticas

Kelly também defendeu McMaster, criticado por alguns partidários de Trump por advogar uma presença americana reforçada no Afeganistão – uma posição que discorda com a do estrategista chefe da Casa Branca, Stephen Bannon, veterano da Marinha e ex-presidente do Breitbart News. 

“Eu o vejo diariamente falando a verdade a quem está no poder quando ele fala comigo, em meu cargo atual”, disse Kelly a respeito de seu colega general. 

É claro que, quando Mattis, Kelly e McMaster estão sentados em volta de Trump em alguma sala dos fundos do clube de golfe, com hambúrgueres e Coca-Cola ao lado, a pergunta que paira no ar é o que é exatamente “falar a verdade a quem está no poder?”. O que os generais estão dizendo ao presidente, e será que o presidente os está ouvindo?  

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