A organização não-governamental (ONG) Assembléia Permanente de Direitos Humanos da Bolívia (Apdhb) atribuiu o massacre ocorrido no último dia 11, no departamento (estado) de Pando, a funcionários do governo local que contaram com a colaboração de pistoleiros brasileiros, peruanos e bolivianos.
Segundo relatório da entidade divulgado nesta quarta-feira (24) pela Agência Boliviana de Informação (ABI), a ação deixou 18 campesinos mortos, mais de 30 feridos e uma centena de desaparecidos. De acordo com a ONG, que afirma ter conversado com testemunhas nos primeiros dias após o ocorrido, as vítimas estavam desarmadas e só tinham pratos, colheres e copos em mãos quando foram emboscados.
Os funcionários da prefeitura e os pistoleiros dispararam covardemente contra homens, mulheres, crianças, idosos e estudantes, afirma o relatório da ONG, que acusa o Serviço Departamental de Estradas de ter cedido equipamentos para que valetas de até dois metros de profundidade fossem abertas ao longo da estrada que liga as províncias de Cachuelita e Filadelfia. A finalidade seria dificultar a fuga dos campesinos.
Segundo a ONG, quando foram emboscadas, algumas pessoas tentaram fugir se jogando no Rio Tahuamanu, habitado por jacarés, cobras venenosas e outros animais. Muitas teriam sido baleados. Os campesinos que não conseguiram fugir ou não foram baleados foram presos por funcionários do governador Leopoldo Fernández e cruelmente golpeados com paus e chicotes.
Fernández foi preso no último dia 16 sob a alegação de ter desobedecido a determinação do presidente Evo Morales, que declarou estado de sítio em Pando. Dois dias após ser preso, o governador foi transferido para uma penitenciária da capital, La Paz, onde cumpre prisão preventiva, acusado de instigar a oposição a Morales.
De acordo com a ONG, os campesinos se dirigiam a uma reunião para discutir problemas sociais de Pando, como a falta de combustível, a defesa dos recursos naturais locais e do meio ambiente, a analise e a redistribuição de terras públicas, além da autonomia regional e indígena. Esse ato de violência não distinguiu mulheres grávidas, velhos e crianças. Os testemunhos dão conta de que foram cometidos assassinatos públicos como forma de represália.
A ONG informou ainda ter constatado que fazendeiros, servidores públicos e pistoleiros têm ameaçado os campesinos de diversas cidades de Pando. A assembléia recomenda que o governo cumpra seu dever de garantir a segurança das famílias de trabalhadores.
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