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Ativista pró-Mursi da Irmandade Muçulmana guarda a entrada de acampamento islamita perto da Praça Rabaa Adawiya | Amr Abdallah Dalsh/Reuters
Ativista pró-Mursi da Irmandade Muçulmana guarda a entrada de acampamento islamita perto da Praça Rabaa Adawiya| Foto: Amr Abdallah Dalsh/Reuters

Decreto

Decisão dá direito ao governo do Egito de mandar prender civis

O presidente interino do Egito, Adly Mansur, emitiu um decreto que dá ao primeiro-ministro, Hazem Beblaui, o direito de ordenar a polícia militar a deter civis, informou a agência Efe. Segundo o jornal Al Wasat, que divulgou a medida publicada no diário oficial egípcio, Mansur delegou outras prerrogativas presidenciais a Beblaui. O movimento pode ser interpretado como um passo para aumentar a repressão contra os manifestantes favoráveis ao ex-presidente Mohamed Mursi. Desde o fim da lei de emergência, em maio de 2012, que esteve em vigor no Egito desde 1981 sob o argumento de luta contra o terrorismo, a polícia é o único órgão que pode deter civis. Mas um mês depois, em 13 de junho, o Ministério da Justiça emitiu um decreto em que autorizava a polícia militar a prender civis por alguns delitos do direito comum. A decisão foi derrubada ainda em junho de 2012 pela Corte Suprema Administrativa do Cairo.

80 mortos foram confirmados nos embates entre manifestantes pró e contra os militares que depuseram Mohamed Mursi.

  • Manifestantes gritam slogans em defesa do ex-presidente

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Hu­­ma­­nos, Navi Pillay, advertiu ontem que a escalada de violência no Egito pode levar o país "ao desastre". Em comunicado, ela também solicitou que as partes em conflito deixem de lado suas diferenças e abram um diálogo nacional para restaurar a ordem por meio de eleições diplomáticas e pacificadoras.

No governo egípcio, há discursos conflitantes a respeito da violência. O ministro do Interior, Mohamed Ibrahim, disse no sábado que evacuaria os acampamentos islâmicos e ontem reafirmou que a polícia confrontará "com toda dureza" as tentativas de "invejosos" de desestabilizar o país.

Já o vice-presidente Mo­­ham­­med El-Baradei, nobel da Paz de 2005, escreveu no Twitter que "condena energicamente o uso da força e as mortes" no país.

"Esta situação está levando o país ao desastre", escreveu Pillay. "Estou preocupada com o futuro do Egito se o Exército e outras forças de segurança, bem como alguns manifestantes, continuarem com os confrontos e com a agressão como bandeiras. Os ativistas da Irmandade Muçulmana têm o direito de protestar pacificamente como qualquer outra pessoa".

Na madrugada de sábado, as forças de segurança do Egito atacaram um acampamento de apoiadores de Mohamed Mursi, o presidente eleito deposto por um golpe militar no começo de julho. O governo já reconheceu 80 mortos. Segundo Pillay, "é extremamente urgente que se leve a cabo uma investigação confiável e independente, e se ela concluir que as forças de segurança usaram força excessiva, os oficiais responsáveis devem ser levados à Justiça".

A situação já atraiu reações de diversos países.

O secretário de Estado americano, John Kerry, disse ontem que seu país está "profundamente preocupado" com "o derramamento de sangue e a violência" das últimas horas no Egito.

As autoridades egípcias "têm a obrigação moral e legal de respeitar o direito de se manifestar de maneira pacífica e a liberdade de expressão", declarou Kerry, em nota. "A violência fez o processo de reconciliação e de democratização do Egito retroceder, mas também tem um impacto negativo na estabilidade da região", destacou.

A Alemanha encaminhou comunicado ao gover­­no egípcio solicitando que sejam permitidas mani­­festações pacíficas e que seja feito todo o possível para evitar uma nova escalada de violência. "O futuro do Egito só pode se configurar pelo diálogo, não pela violência", escreveu Guido Westerwelle, ministro alemão das Relações Exteriores.

Sobe o número de vítimas nas ruas do Cairo

Agência Estado

Subiu para 80 o número de mortos nos confrontos deste fim de semana entre forças de segurança do Egito e apoiadores do presidente deposto Mohamed Mursi, segundo Khaled el-Khateeb, chefe do departamento de emergência do Ministério da Saúde do país. Um funcionário do principal necrotério do Cairo, no entanto, disse que 11 corpos foram levados ontem ao local, elevando o total para 83.

Confrontos violentos o­­cor­­reram ontem durante os funerais de apoiadores de Mursi. Mohamed Badie, líder da Irmandade Muçulmana, grupo ligado ao presidente deposto, pediu a seus seguidores que não abandonem a luta, mesmo com o grande número de mortos.

Com a onda de violência, diminuíram as chances de reconciliação entre os dois lados, que estão bastante divididos desde o golpe militar de 3 de julho, que derrubou o primeiro presidente eleito democraticamente no Egito.

Os islamitas rejeitam a nova liderança e dizem que a única solução para a crise é a volta de Mursi ao poder. Enquanto isso, o governo interino elabora um plano de transição para que um governo democraticamente eleito retorne ao poder até o começo do ano que vem.

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