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O líder cubano Fidel Castro dificultou as tentativas de reaproximação de Cuba com os Estados Unidos ao afirmar em um artigo publicado nesta quarta-feira (22) que o presidente americano, Barack Obama, interpretou de maneira incorreta declarações supostamente conciliatórias feitas por Raúl Castro na semana passada. Fidel também deu a entender que Cuba não fará concessões para pôr fim ao embargo econômico imposto à ilha há quase 50 anos e criticou Obama por não levantar a restrição.

"Não há dúvidas de que o presidente não soube interpretar a declaração de Raúl", escreveu Fidel, referindo-se aos comentários feitos na quinta pelo presidente cubano de que Havana estaria preparada para discutir "todos os temas" com Washington, entre eles questões polêmicas como os presos políticos e os direitos humanos.

As palavras de Raúl foram recebidas nos EUA como um sinal de esperança de que as relações entre os dois países poderiam melhorar. No encerramento da 5ª Cúpula das Américas, realizada no fim de semana em Trinidad e Tobago, Obama disse que as declarações de Raúl eram um "avanço" e pediu a Cuba que liberte seus presos políticos. No entanto, segundo Fidel, o comentário de seu irmão foi uma "mostra de valentia e confiança nos princípios da revolução".

"Ninguém deve se assombrar de que falasse de indultar aos sancionados em março de 2003 e enviá-los todos aos Estados Unidos, se esse país estivesse disposto a liberar os cinco heróis antiterroristas cubanos. Aqueles, como já ocorreu com os mercenários em Girón, estão ao serviço de uma potência estrangeira que ameaça e bloqueia a nossa pátria", acrescentou Fidel.

O ex-líder se referiu à invasão da Baía dos Porcos, também conhecida como Praia Girón, em 1961, quando dissidentes apoiados pelos EUA tentaram realizar uma contrarrevolução na ilha, sem sucesso.

O ex-governante também defendeu a cobrança de um imposto sobre o dólar e seu impacto no envio das remessas, indicando que todos os países impõem comissões sobre a transferência de divisas.

"Se são dólares, com mais razão devemos fazê-lo, porque é a moeda do Estado que nos bloqueia. Nem todos os cubanos têm familiares no exterior que enviem remessas. Redistribuir uma parte relativamente pequena em benefícios aos mais necessitados de alimentos, medicamentos e outros bens é absolutamente justo", afirmou.

Ainda que tenha demonstrado admiração por Obama, Fidel indicou que nessa ocasião o novo titular da Casa Branca "deu mostras de autossuficiência" e "superficialidade", especialmente ao argumentar sobre as razões de não levantar o embargo à ilha.

Cuba deixa de receber milhões de dólares anualmente e vê limitado seu comércio e desenvolvimento pelas sanções impostas pelos Estados Unidos em 1962. Washington argumenta que é uma forma de pressionar por uma mudança no regime comunista da ilha.

Apesar das ressalvas, as palavras de Raúl Castro e Obama foram consideradas por observadores e outros líderes como um sinal de distensão bilateral.

Nesta quarta, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que as diferenças de opinião entre Fidel e Raúl são o exemplo do início de um debate que buscará definir o futuro das relações entre Havana e Washington.

Em depoimento à Comissão de Relações Exteriores da Câmara, ela afirmou que as contradições entre os dois líderes são sinais de que o regime castrista está próximo do fim. As informações são da Associated Press.

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