Foto: AFP / JESSICA TAYLOR / Parlamento Britânico| Foto:

A primeira-ministra Theresa May disse a parlamentares do seu Partido Conservador nesta quarta-feira (27) que estava preparada para renunciar antes da próxima rodada de negociações do Brexit, oferecendo seu posto de liderança em um esforço para convencer os parlamentares mais linha-dura a apoiar o seu plano de saída da União Europeia (UE).

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A oferta de May de reduzir sua carreira política para salvar sua visão do Brexit foi uma jogada desesperada. Se será o suficiente para conseguir a aprovação de seu plano de retirada, não está claro.

O que ficou óbvio é que o Parlamento ainda não sabe qual é a sua própria opinião sobre o Brexit.

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Em uma sessão especial de “votos indicativos” durante a noite desta quarta-feira, um esforço para encontrar novas maneiras de romper o impasse, a Câmara dos Comuns não conseguiu produzir uma maioria para nenhuma das oito propostas diferentes para o Brexit apresentadas pelos membros.

O voto mais próximo foi para um Brexit “suave” baseado em uma nova união aduaneira com a UE. Perdeu por oito votos. Um pedido de realização de um segundo referendo para o Brexit foi derrotado por 27 votos.

Em um dia em que o Parlamento pensou que assumiria o controle do Brexit, May e o seu acordo ainda dominavam.

Sem opções fáceis

O secretário do Brexit, Stephen Barclay, disse à Câmara que a votação que não levou a lugar algum demonstrou que “não há opções fáceis aqui. Não há uma maneira simples de avançar”.

Barclay disse que o melhor acordo em oferta ainda é o que May negociou, e ele pediu que a Câmara reconsidere. “Se não fizermos isso, não há garantias sobre onde esse processo terminará”, alertou.

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May não ofereceu nenhum cronograma para sua possível saída. Alguns parlamentares conservadores disseram que uma eleição de liderança dentro do partido poderia acontecer durante o verão europeu, com May deixando o cargo no outono. Outros relatos sugeriram que um novo líder poderia ser definido até julho. A troca de primeiros-ministros dentro do partido não exigiria uma eleição geral.

O anúncio de May foi feito a portas fechadas, em uma reunião de membros do Partido Conservador no Palácio de Westminster. Não havia repórteres na sala.

“Eu ouvi muito claramente o humor do partido parlamentar. Eu sei que há um desejo por uma nova abordagem, e uma nova liderança, na segunda fase das negociações do Brexit, e eu não vou ficar no caminho disso”, May disse aos legisladores conservadores, de acordo com trechos divulgados por Downing Street.

“Estou preparada para deixar este trabalho mais cedo do que pretendia, a fim de fazer o que é certo para o nosso país e nosso partido”, disse ela.

Votos necessários

Enquanto a oferta de May para se afastar encorajou vários rebeldes do Partido Conservador a dizer que eles agora apoiarão seu acordo Brexit, que já foi derrotado duas vezes, ela ainda pode não ter votos suficientes para que o acordo passe por este Parlamento dividido.

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Ir embora da União Europeia sem um acordo, bem como um longo adiamento, uma eleição geral ou um segundo referendo continuam a ser opções enquanto o caos do Brexit continua.

O anúncio surpresa da primeira-ministra foi visto como essencial para que dezenas de defensores linha-dura do Brexit, incluindo Boris Johnson e Jacob Rees-Mogg, apoiassem sua proposta de Brexit.

Johnson, ex-ministro das Relações Exteriores de May, sugeriu aos colegas que agora apoiará o acordo de May, após meses condenando-o como um tratado que tornaria o Reino Unido “vassalo” de Bruxelas.

Rees-Mogg, um membro da Câmara do partido Conservador que é um mediador nessas negociações, disse que apoiaria o acordo de May, desde que os sindicalistas democratas da Irlanda do Norte (DUP) o fizessem. Ele tuitou que “metade do pão é melhor que nenhum pão”. Ele teme perder o Brexit inteiramente.

Mas na noite de quarta-feira, o DUP disse que ainda não poderia apoiar o Brexit de May, citando um risco muito grande de que a Irlanda do Norte ficaria presa pelos arranjos feitos para manter aberta a fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda.

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Sem o DUP, o acordo de May enfrenta grandes dificuldades.

Sem precisão

Não ficou claro se a promessa de renúncia feita por May seria honrada se os legisladores não aprovarem seu acordo de saída.

Os críticos foram rápidos em observar a imprecisão de sua promessa de renunciar.

“Se eu fosse eles, eu iria querer que [a promessa] fosse escrita em sangue”, Margaret Beckett, uma política do Partido Trabalhista, disse à BBC. “Eu perdi a conta de quantas vezes ela prometeu que não iria levá-los para a próxima eleição e de repente acontece que ela poderia”.

May também foi criticada por se concentrar em seu partido e nos opositores dentro dele.

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“A promessa de Theresa May aos deputados do Partido Conservador de se demitir se votarem em seu acordo mostra de uma vez por todas que suas caóticas negociações sobre Brexit foram sobre a administração do partido, e não por princípios ou interesse público”, tuittou o líder do Partido Trabalhista Jeremy Corbyn. “Uma mudança de governo não pode ser uma costura dos conservadores, as pessoas é que devem decidir”.

O Partido Conservador tem uma longa história de líderes sendo derrubados por questões relativas à Europa. David Cameron, Margaret Thatcher e John Major foram todos derrubados em parte por causa de questões relacionadas ao relacionamento do Reino Unido com o continente.

Mas muitos legisladores – de todos os partidos – acham que May fez uma confusão do processo de saída.

Seus críticos de direita dizem que o plano de May para o Brexit pode deixar o Reino Unido muito preso às regras e regulamentações europeias, fracassando no objetivo de “retomar o controle” de Bruxelas. Aqueles que querem um Brexit mais suave dizem que May estabeleceu muitas linhas vermelhas durante as negociações.

Quem será o substituto

May diz que o acordo de retirada, negociado com suas contrapartes europeias nos últimos dois anos, é a melhor opção possível e honra os resultados do referendo de junho de 2016, em que 25% dos eleitores optaram por deixar a UE.

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Com a notícia de que May poderia deixar o governo, os britânicos imediatamente passaram a especular sobre quem seria o seu substituto.

Os principais candidatos, pelo menos na quarta-feira, incluíam Johnson e os ministros do governo Michael Gove, Jeremy Hunt, David Lidington e Sajid Javid.

Antes do anúncio de May, esperava-se que os votos na Câmara dos Comuns fossem o principal evento do dia. O presidente da Câmara John Bercow abriu o debate sobre as diferentes formas do Brexit, dizendo que esperava “dar à Câmara uma chance de iniciar o processo de indicar positivamente o que deseja”.

A resposta da casa foi uma confusão.

Não houve uma maioria clara para uma saída “suave” ou “dura” da UE.

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O plano do Partido Trabalhista para um Brexit “alternativo” também falhou.

No final do dia, a Câmara conseguiu apenas continuar a expressar o que não quer, o que inclui a saída do Reino Unido do bloco comercial sem um acordo.

Os votos não são vinculantes. Outra rodada de votação “indicativa” pode ocorrer na próxima semana.

Mais votações

Depois que os resultados foram anunciados, Oliver Letwin, membro do partido Conservador no Parlamento que ajudou a pavimentar o caminho para os votos indicativos, disse que não esperava que qualquer opção obtivesse a maioria, e disse que o Parlamento deve realizar mais uma rodada de votos na segunda-feira.

Alguns legisladores na câmara zombaram dele e puderam ser ouvidos dizendo “isso é ridículo” e “louco”.

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Do outro lado do Canal da Mancha, os europeus esperam e esperam. Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, disse aos legisladores na quarta-feira em Bruxelas que a UE deveria estar aberta a um longo adiamento se o Reino Unido quisesse "repensar" sua estratégia.

“Você não pode trair as seis milhões de pessoas que assinaram uma petição para revogar o Artigo 50 – o milhão de pessoas que marcharam pelo voto popular ou a maioria crescente das pessoas que querem permanecer na União Europeia”, disse Tusk.

A divisão geral do Parlamento britânico não deu uma indicação clara aos europeus do que Londres deve favorecer. Ainda assim, os líderes europeus que se reuniram na semana passada para dar ao Reino Unido um pequeno alívio da data inicial do Brexit também disseram que poderiam prolongar ainda mais o relógio – desde que os britânicos realizassem eleições no final de maio para o Parlamento Europeu.

Até agora, May recusou.

Os líderes da UE também apoiariam uma iniciativa britânica de permanecer na União Aduaneira Europeia. Embora essa possibilidade estivesse entre as propostas rejeitadas nesta quarta-feira, ainda foi uma das escolhas mais populares. Alguns negociadores disseram que as providências para que o Reino Unido permaneça na união aduaneira poderiam ser tomadas em poucas horas – não dias ou semanas – e que isso garantiria que a fronteira irlandesa permanecesse aberta. Mas o Reino Unido estaria preso sem uma política comercial independente, uma decepção para os ardentes defensores do Brexit.

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