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Pensilvânia perdeu quase 800 mil empregos com a crise causada pelo novo coronavírus| Foto: Pixabay

Desde que a economia fechou por causa da Covid-19, os moradores da Pensilvânia, nos EUA, entraram com quase 800.000 pedidos de auxílio-desemprego. O estado ficou atrás apenas da Califórnia, que tem três vezes a população de 13 milhões da Pensilvânia. As novas solicitações representam surpreendentes 13% dos 6,1 milhões de moradores da Pensilvânia que estavam trabalhando em fevereiro – um número que evoca a Grande Depressão de 1929. O que está acontecendo na Pensilvânia é um prenúncio do que está por vir, pelo volume da perda de empregos que deve se repetir em outros estados e, potencialmente, pelo que deve ocorrer em relação às esperanças do presidente Donald Trump em conquistar a reeleição em novembro.

O Departamento de Trabalho do estado é terrivelmente eficiente. Seu sistema para processar solicitações de desemprego não travou mesmo com um número recorde de consultas. A quantidade de perdas de empregos relatada pela Pensilvânia começará a aparecer em outros estados nas próximas semanas, à medida que mais pessoas acessarem sites ou as linhas telefônicas em busca do benefício. O estado de Nova York, por exemplo, registrou 450.000 novas solicitações nas últimas duas semanas. Dois meses atrás, ele tinha 9,2 milhões de trabalhadores – 50% maior do que a força de trabalho da Pensilvânia.

Como os números nacionais de desemprego continuam aumentando, vale a pena ficar de olho no Keystone Sate. A Pensilvânia é um estado que acompanha de perto as médias nacionais: em dados demográficos raciais (82% brancos), renda familiar anual (quase US$ 60.000), participação na força de trabalho (63%), adultos com formação superior (31%), impostos e gastos do setor público e política pragmática. Com isso, oferece uma visão geral dos Estados Unidos.

O mercado de trabalho do estado também é impressionantemente diversificado, desde suas duas grandes cidades – Filadélfia e Pittsburgh – a áreas afluentes e cidades em dificuldades no Cinturão da Ferrugem. Dos 6,2 milhões de empregos em fevereiro, a Pensilvânia ostentava 820.000 em áreas de negócios e que exigem formação superior; 580.000 empregos na indústria; outros 580.000 empregos em lazer, entretenimento, hotéis e restaurantes; 330.000 empregos no setor financeiro; e 270.000 na construção civil. O estado também é a casa de 140.000 agricultores.

A Pensilvânia começou 2020 com um crescimento saudável do emprego e baixo desemprego – mesmo que, com 4,7%, a taxa do estado fosse mais alta que a dos EUA, de 3,6%, em grande parte o resultado de cortes acentuados no setor de petróleo e gás que ocorreram antes da Covid-19 se espalhar domesticamente. No geral, o crescimento do emprego foi constante, com ganhos alcançados em quase todos os setores.

Porém, a economia da Pensilvânia mostrou algumas fraquezas pré-pandêmicas. O emprego no setor manufatureiro encolheu um pouco, mesmo com o contínuo crescimento modesto no resto do país. De fato, apenas uma semana antes da Covid-19 capturar a atenção do país, o jornal Philadelphia Inquirer publicou um artigo intitulado "Trump prometeu trazer de volta a indústria para a Pensilvânia. Ele não fez isso. Ele pagará por isso?". A reportagem observou que a Pensilvânia havia perdido 7.400 dos seus mais de meio milhão de empregos na indústria nos últimos dois anos, em parte por causa de novas tarifas sobre aço e plástico.

A paralisação econômica anulou o que restou desse modesto sucesso. Para algum contexto, considere que, após a explosão da bolha tecnológica em 2000, a Pensilvânia perdeu cerca de 150.000 empregos, ou 3% de sua força de trabalho privada. Após a crise financeira de 2008, o estado perdeu quase 300.000 empregos, ou cerca de 5% de sua força de trabalho privada. Os dados atuais apequenam esses números e provavelmente piorarão. Os setores de hospitalidade e varejo estão imediatamente em risco, com hotéis, restaurantes e lojas de varejo praticamente fechados, exceto por alguns trabalhos de mercearia e entrega de alimentos.

Esses fechamentos de hotéis, restaurantes e lojas são particularmente ruins para a Filadélfia, que construiu um negócio global de turismo nos últimos 15 anos. A cidade de 1,6 milhão de habitantes, muitos sem educação superior, depende desproporcionalmente do turismo para seus empregos de varejo, lazer e hospitalidade, que aumentaram 43% desde 2000. Quarenta e cinco milhões de pessoas visitaram a Filadélfia em 2018, sendo a China a segunda maior fonte de turistas estrangeiros. Alguns condados dependem intensamente do turismo.

Mas decretos prolongados de saúde pública – e uma longa recessão – se espalharão pela economia, além das pessoas que interagem diretamente com o público que gasta dinheiro em hotéis e lojas. Indústrias de fora do país estão reduzindo as demandas e isso pode prejudicar a produção de aço do estado; as restrições de viagem aos trabalhadores migrantes podem prejudicar a agricultura. Perdas no setor bancário, já que trabalhadores desempregados não terão como pagar suas contas, significariam demissões no setor financeiro. Até os funcionários do governo não são imunes. Embora o governador Tom Wolf tenha proposto um orçamento equilibrado em fevereiro, o coronavírus provavelmente significará um déficit de bilhões de dólares.

A Pensilvânia, então, será um microcosmo de quão bem as medidas de resgate e recuperação, aprovadas pela Casa Branca e o Congresso, estão funcionando. Os trabalhadores agora ociosos do estado se beneficiarão do seguro suplementar de desemprego, aprovado pelo Congresso na semana passada, que substituirá a maior parte sua renda perdida. O governo do estado, assim como cidades e distritos, provavelmente receberá US$ 5 bilhões em ajuda federal direta, parte do mesmo pacote de resgate. Pequenas empresas podem solicitar empréstimos com subsídio governamental.

Quando Wolf e Trump decretarem que os moradores da Pensilvânia estão livres para retomar suas vidas, com que rapidez os donos de pequenas empresas poderão reabrir? As empresas recontratarão as pessoas em breve, para que possam recuperar a confiança e começar a gastar dinheiro novamente?

Cidades como a Filadélfia podem sofrer meses ou anos, pois as pessoas estão evitando os sistemas de transporte público, evitam ambientes urbanos densos ou passaram a trabalhar em casa. Por outro lado, as cidades podem experimentar um novo boom, à medida que as pessoas recuperam rapidamente o emprego e se divertem em viagens e saindo para comer, depois de meses em quarentena.

Ninguém sabe as respostas para essas perguntas ainda. Pode levar anos para que tenhamos um veredicto final, embora um julgamento provisório ocorra em novembro. É difícil imaginar a reeleição de Trump, a menos que ele vença novamente na Pensilvânia. O futuro político do presidente depende, portanto, de que o resgate e a retomada econômica durante os próximos meses atendam às expectativas dos eleitores.

*Nicole Gelinas é editora colaboradora do City Journal, bolsista sênior do Manhattan Institute e autora de "After the Fall: Saving Capitalism from Wall Street - and Washington".

©2020 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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