Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Perfil

Cardeal Pietro Parolin

O cardeal Pietro Parolin.
O cardeal Pietro Parolin foi nomeado secretário de Estado por Francisco em 2013. (Foto: Mario Guzmán/EFE)

Ouça este conteúdo

Este conteúdo foi atualizado

A Gazeta do Povo publica, com exclusividade no Brasil, o perfil do cardeal Pietro Parolin preparado pelos vaticanistas Diane Montagna e Edward Pentin, autores do projeto The College of Cardinals Report. Jornalistas com décadas de experiência na cobertura do Vaticano, Montagna e Pentin escreveram perfis de todos os cardeais apontados como principais candidatos a suceder Francisco no comando da Igreja Católica, com informações biográficas e suas posições sobre temas em debate dentro da Igreja.

O cardeal Pietro Parolin nasceu em Schiavon, na província e diocese de Vicenza, no norte da Itália, filho de um gerente de loja de ferragens e de uma professora de ensino fundamental, ambos católicos praticantes. Quando Pietro tinha apenas 10 anos, seu pai morreu em um acidente de carro, o que o desestabilizou por um tempo.

Ele sentiu o chamado ao sacerdócio muito cedo, e ingressou no seminário de Vicenza aos 14 anos. Após sua ordenação ao sacerdócio, em 1980, aos 25 anos, seus superiores o enviaram para estudar Direito Canônico na Universidade Gregoriana, em Roma. Durante esse período, ele começou a se preparar para o serviço diplomático do Vaticano. Após completar uma tese sobre o Sínodo dos Bispos, iniciou formalmente sua carreira como diplomata em 1986.

Após um período de três anos na Nigéria, Parolin trabalhou na Nunciatura Apostólica no México, onde ajudou a restabelecer laços diplomáticos entre aquele país e a Santa Sé. Em 1992, foi chamado de volta a Roma e começou a trabalhar na “Segunda Seção” da Secretaria de Estado, sob o cardeal Angelo Sodano, então secretário de Estado do Vaticano. Parolin foi encarregado das relações diplomáticas com Espanha, Andorra, Itália e San Marino. Em 2000, colaborou com o então bispo Attilio Nicora em questões relacionadas à implementação da revisão da Concordata do Latrão, de 1984.

Fluente em italiano, francês e espanhol, ele também é proficiente em inglês. De 2002 a 2009, Parolin foi subsecretário de Estado para as Relações com os Estados – uma posição discreta, mas influente, na qual dirigiu as relações com Vietnã, Coreia do Norte, Israel e China. Em 2009, foi ordenado bispo por Bento XVI e nomeado núncio apostólico na Venezuela. O papa Francisco o nomeou secretário de Estado em 2013; em 2014, Francisco incluiu Parolin no “Conselho de Cardeais”, que o aconselha sobre a reforma da Igreja.

Há muito tempo Pietro Parolin é tido em alta consideração por diplomatas seculares, como um representante papal confiável e digno de confiança no cenário mundial, alguém que parece estar em uma trajetória rumo ao papado semelhante à do ex-diplomata São Paulo VI.

Parolin é um dos poucos oficiais sêniores da Cúria Romana que pode se orgulhar de ter permanecido em seu cargo por quase toda a duração do pontificado de Francisco

Protegido do falecido cardeal Achille Silvestrini, também núncio papal e um dos principais membros do Grupo de St. Gallen – que tentou impedir a eleição de Bento XVI em 2005 –, entre 2002 e 2009 o então monsenhor Parolin usou suas habilidades diplomáticas e uma rede de contatos cada vez maior para atuar em diversas áreas, principalmente o desarmamento nuclear, a aproximação com países comunistas e até atividades de mediação. Ele é particularmente especializado em questões relativas ao Oriente Médio e à situação geopolítica do continente asiático. Desempenhou um papel crucial no restabelecimento do contato direto entre a Santa Sé e Pequim em 2005 – um feito elogiado na época, mas uma abertura diplomática que poderia se revelar seu calcanhar de Aquiles.

Sua abordagem obstinada a respeito das relações sino-vaticanas culminou, em 2018, em um controverso acordo provisório secreto sobre a nomeação de bispos, renovado em 2020, 2022 e 2024. O acordo atraiu críticas generalizadas, não apenas do cardeal Joseph Zen Ze-kiun, bispo emérito de Hong Kong, e de católicos chineses comuns que juram lealdade a Roma, mas também de católicos proeminentes na Europa e nos Estados Unidos, que acusaram a Igreja de se vender à China comunista no momento errado e com consequências devastadoras. Sem se abalar, Parolin pediu paciência e tipicamente evitou ceder ao rancor público sobre o assunto.

Em 2016 e 2017, ele foi criticado pela forma como administrou outra crise, desta vez na Ordem de Malta, com a renúncia forçada de seu grão-mestre, Fra’ Matthew Festing. A gestão de certos aspectos das finanças do Vaticano por parte de Parolin também foi questionada – mais exatamente, seu papel em dificultar, ou pelo menos em não promover, a reforma financeira, além de seu obscuro envolvimento em um escândalo imobiliário em Londres, pelo qual nunca foi indiciado, mas que levou a sentenças de prisão para alguns de seus colaboradores na Secretaria de Estado.

Durante a emergência da Covid, o cardeal se empenhou em garantir o que o Vaticano considerava uma resposta global compassiva, enquanto impunha um dos mais rigorosos mandatos de vacinação do mundo dentro do Vaticano.

Persistem dúvidas a posição do cardeal Pietro Parolin em relação à contracepção. Ele também se revelou um ardente opositor da missa tridentina, vendo-a como contrária a um “novo paradigma” para a Igreja, descentralizado, mais global e sinodal. Ele vê o papa Francisco como a implementação mais plena dos ensinamentos do Concílio Vaticano II.

O cardeal Parolin também tem relações amigáveis com a Maçonaria italiana desde 2002, de acordo com o depoimento de um ex-grão-mestre do Grande Oriente da Itália, Giuliano di Bernardo. Não está claro se eles continuam em contato, mas Di Bernardo afirmou em testemunho, em 2009, ter ajudado o cardeal Parolin a “resolver um problema com o governo chinês” alguns anos antes.

O cardeal Pietro Parolin é visto como um sucessor natural do papa Francisco se os cardeais eleitores quiserem uma figura de continuidade

Para seus críticos, o cardeal Pietro Parolin é um modernista progressista com uma visão globalista, um pragmático que colocará ideologia e soluções diplomáticas acima das verdades da fé. Eles também o consideram um mestre de uma linha desacreditada da diplomacia, a Ostpolitik dos anos 60, especialmente ao lidar com a China. Para seus apoiadores, Parolin é um idealista corajoso, um defensor entusiasta da paz e um mestre da discrição e da arbitragem, que apenas deseja abrir um novo futuro para a Igreja no século 21.

Ainda relativamente jovem, ele sofreu um grave problema de saúde em 2014, mas acredita-se que tenha se recuperado totalmente.

Parolin é um dos poucos oficiais sêniores da Cúria Romana que pode se orgulhar de ter permanecido em seu cargo por quase toda a duração do pontificado de Francisco. Sua relação com o pontífice teve altos e baixos, mas o papa frequentemente expressou sua apreciação por Parolin, que se manteve como um membro confiável de seu Conselho de Cardeais desde 2014.

Uma característica significativa que pesa contra Parolin é sua falta de experiência pastoral. Embora sua fé tenha sido nutrida em sua paróquia local quando jovem, e ele tenha servido como coroinha, sua carreira sacerdotal foi dedicada à diplomacia e à administração do Vaticano, em vez do ministério paroquial.

Como alguém que deseja estar próximo dos pobres e com uma visão eclesial e política semelhante à de Francisco, o cardeal Pietro Parolin é visto como um sucessor natural do papa se os cardeais eleitores quiserem uma figura de continuidade, alguém de quem se espera que continue buscando aprofundar muitas (quando não todas) das reformas radicais de Francisco, mas de uma maneira mais calma, sutil e diplomática.

O que o cardeal Pietro Parolin pensa sobre...

Ordenação de diaconisas: É contra. Em uma carta oficial, datada de 23 de outubro de 2023, endereçada à conferência episcopal alemã a respeito do “caminho sinodal” alemão, o cardeal Parolin disse que a ordenação de mulheres ao sacerdócio “não é negociável” e não deve ser discutida pelos bispos alemães. Embora a carta não faça menção ao diaconato feminino, o tom do documento sugere uma posição conservadora a respeito de mudanças em papéis dentro da Igreja.

Bênção para casais do mesmo sexo: É ambíguo. O cardeal Parolin saudou cuidadosamente Fiducia supplicans, dizendo ao mesmo tempo que o texto necessitava de mais estudo. Ele ressaltou que uma mudança destas tem de ser “fiel” à tradição e à herança da Igreja, e que deve haver “progresso na continuidade”.

Tornar opcional o celibato para os padres: É ambíguo. O cardeal Pietro Parolin disse que o celibato poderia, em tese, ser discutido, embora ele afirme também que percebe as vantagens do celibato sacerdotal.

Restrições à missa tridentina: É a favor. O cardeal Parolin tem reafirmado privadamente que se opõe firmemente à liturgia tradicional. Ele comprovadamente desempenhou um “papel chave” na elaboração de Traditionis custodes, o motu proprio de Francisco que restringiu a celebração da missa tridentina, e segue pressionando por mais restrições.

Acordos secretos entre China e Vaticano: É a favor. O cardeal Parolin foi o grande arquiteto dos acordos entre Vaticano e China. Ele tem insistido na necessidade de paciência para se colher os frutos do que ele prevê ser um processo longo, e tem dito que conta com a “boa fé” do Partido Comunista Chinês. Falando a jornalistas durante uma conferência em Roma, no ano passado, Parolin disse, a respeito da postura de ambos os lados em relação ao acordo, que “estamos todos interessados na renovação” em outubro de 2024.

Promover uma “Igreja sinodal”: É a favor. O cardeal Parolin tem manifestado com frequência o seu desejo de uma Igreja sinodal, mais descentralizada.

Foco nas mudanças climáticas: É a favor. Como secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin é um defensor da ciência do clima e tem frequentemente pedido por esforços globais para combater as mudanças climáticas.

Reavaliar Humanae vitae: É ambíguo. Embora o cardeal Parolin tenha descrito a encíclica como “profética” ao vislumbrar os desafios éticos à estrutura familiar tradicional, ele também participou da apresentação de um livro organizada por pessoas que gostariam de ver a Igreja mudar o ensinamento da Humanae vitae sobre contracepção. Esse apoio implícito de Parolin ao livro e sua falta de apoio a Fra’ Matthew Festing e ao cardeal Raymond Burke, em suas posições fortemente contrárias à distribuição de grandes quantidades de contraceptivos pela Ordem de Malta em 2008, aumentam a possibilidade de que Parolin gostaria de ver essa doutrina alterada.

Comunhão para divorciados “recasados”: É a favor. Parolin tem manifestado apoio a um acesso mais amplo aos sacramentos, especialmente para casais em nova união civil, vendo esse acesso como parte de um novo paradigma para a Igreja, de “acompanhamento e escuta”. Parolin também foi importante para a formalização, dentro da Igreja, de uma abordagem dos bispos de Buenos Aires para permitir que esses casais recebam os sacramentos em alguns casos.

“Caminho sinodal alemão”: É ambíguo. Ainda que Parolin tenha se oposto com veemência a certas posições heterodoxas do “caminho sinodal” e à criação de um conselho permanente, ele não condenou o processo propriamente dito.

Dados pessoais

Nome: Pietro Parolin
Data de nascimento: 17 de janeiro de 1955 (70 anos)
Local de nascimento: Schiavon (Itália)
Criado cardeal: 22 de fevereiro de 2014, pelo papa Francisco
Posição atual: Secretário de Estado do Vaticano
Lema: Quis nos separabit a caritate Christi? (“Quem nos separará do amor de Cristo?”)

© 2025 The College of Cardinals Report. Publicado com permissão. Original em inglês: Cardinal Pietro Parolin

Atualização

O perfil foi atualizado com a informação sobre a relação de Parolin com a Maçonaria italiana.

Atualizado em 21/04/2025 às 20:37

Use este espaço apenas para a comunicação de erros