
Um grupo de piratas que realizou um ataque contra um cargueiro norte-americano carregado de auxílio alimentar disse, nesta quarta-feira (15), que está escolhendo embarcações dos Estados Unidos para atacar e que vai matar suas tripulações. Já a Marinha francesa atacou um navio de suprimento utilizado por piratas somalis que atuam no Golfo de Áden e deteve 11 suspeitos.
Piratas somalis lançaram granadas e dispararam com armas automáticas contra o cargueiro Liberty Sun, que levava auxílio alimentar, mas a tripulação norte-americana conseguiu impedir que eles tomassem a embarcação. O navio sofreu alguns danos, mas seguiu para o Quênia, escoltado pela Marinha dos Estados Unidos.
Um pirata cujo grupo atacou o navio nesta quarta-feira disse que seu grupo tem como alvo embarcações norte-americanas e seus marinheiros. "Nós vamos perseguir os norte-americanos e, se os capturarmos, vamos matá-los", disse Ismail, um pirata de 25 anos cuja base fica no porto somali de Harardhere.
"Nós teremos como alvo os navios porque conhecemos suas bandeiras. Na noite passada, uma embarcação de bandeira norte-americana escapou por um fio. Nós os atacamos com granadas propelidas por foguetes", afirmou Ismail, que não tomou parte no ataque contra o Liberty Sun.
O ataque aconteceu depois que franco-atiradores da marinha norte-americana mataram três piradas no domingo para libertar Richard Phillips, que estava no comando do navio Maersk Alabama.
A secretária de Estado norte-americana, Hillary Rodham Clinton, disse que os Estados Unidos vão insistir em novos esforços para localizar e congelar os ativos dos piratas, que conseguiram resgates multimilionários pelo navios que capturaram. "Nós podemos estar lidando com crime do século 17, mas precisamos de soluções do século 21", disse ela numa entrevista coletiva em Washington.
Hillary e a administração do presidente Barack Obama também fizeram um pedido pela realização de reuniões internacionais sobre uma força-tarefa antipirataria para ampliar a coordenação naval contra as operações de piratas em rotas marítimas na costa somali.
Forças francesas lançaram um ataque na manhã desta quarta-feira contra um navio de suprimento depois de ter passado a madrugada observando os piratas. Um helicóptero de vigilância havia identificado a embarcação pirata na terça, informou nesta quarta o Ministério da Defesa da França por meio de um comunicado. A ação frustrou um plano de ataque pirata contra um navio Safmarine Asia, de bandeira liberiana, prosseguia a nota. A embarcação pirata foi interceptada a 900 quilômetros da cidade queniana de Mombaça.
Os 11 piratas detidos são mantidos o Nivose, uma fragata francesa que serve à frota internacional que tenta proteger a navegação no Golfo de Áden.
A França tem tradição na luta contra a pirataria. A operação militar desta quarta foi a nona contra piratas. Três piratas somalis estão sob investigação judicial na cidade francesa de Rennes após terem sido capturados durante o resgate de um refém na sexta-feira. Vários outros piratas também estão detidos sob custódia francesa desde o ano passado.
O ataque impediu a reunião do capitão Richard Phillips, resgatado no domingo, e sua tripulação de 19 homens. Phillips estava no USS Bainbridge, que teve sua rota alterada para escoltar o Liberty Sun.
Antes, Phillips planejava se reunir com a equipe no porto queniano de Mombaça, para depois voltarem juntos para os EUA. O capitão se ofereceu como reféns para os piratas, a fim de salvar sua tripulação. Ele foi resgatado em uma operação na qual atiradores de elite mataram três piratas. A tripulação norte-americana voltou para os Estados Unidos sem Phillips. Eles seguiram para a base da Força Aérea de Andrews, em Maryland, num voo fretado.
O Liberty Sun havia partido de Houston com uma tripulação de 20 norte-americano e uma carga de auxílio alimentar para o Programa Mundial de Alimentos da ONU.
"Estamos sob ataque pirata, estamos sendo atingidos por foguetes e também projéteis", escreveu Thomas Urbik, de 26 anos, um dos tripulantes, num e-mail para sua mãe. "Estamos na sala de máquinas e até agora ninguém ficou ferido. Um foguete penetrou uma das paredes mas o buraco é pequeno. Incêndio pequeno, mas já apagado". Quando o Bainbridge chegou, cinco horas depois, os piratas tinham ido embora.
Apesar da promessa do presidente Barack Obama de tomar medidas contra o aumento da criminalidade na região e das mortes de cinco piratas em operações de resgate lideradas pelos Estados Unidos e pela França, os piratas capturaram quatro navios e fizeram 75 reféns no Chifre da África, desde a dramática operação de um capitão norte-americano no domingo.
Nesta quarta-feira, os piratas libertaram um cargueiro grego e autoridades da Grécia disseram que todos os 24 tripulantes do Titan estão bem. A embarcação havia sido sequestrada no dia 19 de março no Golfo de Áden.
Este ano, os piratas já atacaram 79 navios e sequestraram 19 deles. Atualmente, mantêm 15 embarcações, com 280 reféns de mais de dez nacionalidades diferentes. Pelo menos 76 desses marinheiros foram capturados nos últimos dias.
Os Estados Unidos pediram para a Cruz Vermelha Internacional e funcionários somalis que ajudem a localizar as famílias dos três piratas mortos no domingo, de maneira que seus corpos possam ser entregues aos familiares, disse um funcionário norte-americano em condição de anonimato.
O porta-voz do Programa Mundial de Alimentação da ONU, Peter Smerdon, disse que mais auxílio alimentar estava sendo levado por outro cargueiro sequestrado terça-feira, a embarcação libanesa MV Sea Horse. O navio seguia para Mumbai, na Índia, onde seria carregado com 7.327 toneladas de comida que seria embarcada para a Somália.
Aproximadamente a metade dos 7,2 milhões de habitantes da Somália dependem de auxílio alimentar. O Programa Mundial de Alimentação tem usado escoltas desde novembro de 2007 para impedir ataques. No ano passado, a iniciativa da ONU enviou 260 mil toneladas para os somalis, atingidos pela seca e pela violência. Aproximadamente 90% desses alimentos chegam por via marítima, já que o transporte aéreo fica muito caro e nas rodovias há muitos problemas com roubos. Geralmente a ajuda alimentar segue até o porto de Mombaça, onde a carga é dividida em embarcações menores e segue para a Somália.
Horas antes do ataque ao Sea Horse, os piratas capturaram MV Irene E.M., durante uma rara ação noturna. Eles também capturaram dois barcos de pesca egípcios com 36 pescadores.
O Golfo de Áden, que liga o Canal de Suez e o Mar Vermelho ao Oceano Índico, é a rota mais próxima entre a Ásia e a Europa e uma das mais movimentadas do mundo. As informações são da Associated Press.



