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Palestinos rezam  em Jerusalém Ocidental: tensão com árabes dentro do país aumenta | Ahmad Gharabli/AFP
Palestinos rezam em Jerusalém Ocidental: tensão com árabes dentro do país aumenta| Foto: Ahmad Gharabli/AFP

Jerusalém - Enquanto os olhos do mundo estão voltados para a catástrofe humanitária na Faixa de Gaza, em Jerusalém Oriental e em dezenas de aldeias espalhadas por Israel uma guerra silenciosa vem sendo travada entre os cerca de 1,4 milhão de árabes com cidadania israelense e a polícia. Revoltados com a operação militar em Gaza, os chamados árabes-israelenses — terminologia aceita por alguns, mas rejeitada pela maioria — vêm tomando as ruas em ondas de protesto e manifestações contra a guerra sem serem notados pela imprensa internacional e deixando exposta uma crise de identidade.

Segundo organizações de defesa dos direitos humanos, temendo por uma onda de rebelião civil, a polícia de Israel lançou nas últimas semanas uma onda de prisões sem precedentes para intimidar a comunidade árabe e tentar calar cidadãos que, mesmo donos de uma carteira de identidade israelense, se identificam com o sofrimento dos palestinos.

No último sábado, pelo menos 100 mil pessoas reuniram-se na cidade de Sahnin na maior manifestação árabe desde que uma violenta onda de protestos mobilizou a comunidade em outubro de 2000, com a eclosão da segunda intifada. Num sinal de que os ânimos se exaltaram até mesmo no pacífico município, que é a casa do primeiro time de futebol árabe a conquistar o campeonato israelense, o Bnei Sahnin, a polícia tentou bloquear as saídas da cidade. Houve confrontos e uma onda de prisões foi deflagrada.

Segundo o ativista político Samir Jabareen, de 40 anos, trata-se de um momento histórico, já que essas manifestações podem se alastrar e influenciar toda a estabilidade do Oriente Médio e ameaçar a existência de Israel. Jabareen foi preso durante dois dias, interrogado pela polícia e por agentes do serviço secreto interno de Israel. Ele acusa o país de querer apagar sua identidade palestina. "Não podem roubar o direito básico de protestar. Minha família vive nesta região há séculos e sou, antes de tudo, um árabe palestino. Emocionalmente, sinto-me como em Gaza. Israel diz que há coexistência, mas como, se o Exército do país onde vivo massacra e comete genocídio contra o meu povo? A comunidade árabe vive numa panela de pressão prestes a explodir e, quando acontecer, será radical e violento. Israel não vai conseguir apagar nossa identidade palestina", afirmou Jabareen.

O organizador da manifestação, Ibrahim Zabidat, reafirmou que o setor árabe não vai se intimidar e dezenas de atos de protesto e passeatas estão previstos para os próximos dias em todas as cidades árabes da Galiléia, da região de Wadi Ara e Baka el-Garbieh.

Desafiando a polícia, ele disse que a "máquina de guerra israelense tem que parar" e convocou a população de Gaza a resistir para que a declaração de um Estado palestino seja viabilizada.

"O verdadeiro povo da Palestina vai continuar nos defendendo a todos. Como não posso chorar a morte de irmãos inocentes mortos em Gaza? Podem me chamar de terrorista, mas sou apenas palestino. Querem me chamar de israelense, mas sou também árabe, muçulmano e palestino. Eu não sou imigrante, não vim a Israel, Israel é que veio a mim", disse Zabidat.

De acordo com a ONG Adallah, que representa os direitos da minoria árabe em Israel (25% da população), pelo menos 741 pessoas foram detidas pela polícia de Israel somente semana passada, sendo que 244 eram menores de idade.

A advogada da organização, Abir Baker, afirma que a polícia alega que as manifestações precisam de autorização para serem realizadas. Mas, de acordo com ela, a alegação é falsa, já que, segundo a lei, apenas protestos com mais 50 pessoas e discursos de cunho político precisam da permissão.

"É uma tentativa vergonhosa de nos calar. É inevitável que, diante dos crimes na Faixa de Gaza, as pessoas se exaltem e acabem expressando opiniões políticas, mas não houve discursos políticos nesses protestos. Acusam as pessoas de agredir policiais e de perturbar a ordem, prendem e torturam psicologicamente. Vamos entrar com uma ação no Supremo Tribunal de Justiça denunciando os abusos", disse Baker.

O porta-voz da polícia de Israel, Miki Rosenfeld, confirmou a onda de prisões, mas negou que haja uma ofensiva contra as manifestações em aldeias árabes. O policiamento foi reforçado em todo o distrito norte e, somente em Jerusalém, mais de três mil homens foram deslocados para patrulhar a Cidade Velha e os vilarejos árabes da zona leste da cidade, onde vivem cerca de 250 mil palestinos.

"Além de protestos não autorizados, houve agressões a policiais, além do fechamento de ruas. Diante dos pedidos negados para dispersar a multidão, não houve outra maneira a não ser a detenção de algumas pessoas", disse Rosenfeld.

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