Homem usa telefone móvel para fotografar protesto em Teerã, no Irã| Foto: via Your View / Reuters
Mirhossein Mousavi convocou a população a carregar velas negras com laços verdes em novos protestos para demonstrar solidariedade às vítimas das recentes rebeliões
Câmeras de celular registram morte violenta de uma mulher no Irã
Profissionais da mídia precisam desviar de barricadas e correm inúmeros riscos ao sair nas ruas em Teerã; dois importantes jornalistas foram presos e correspondentes, expulsos
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A polícia antidistúrbio atacou centenas de manifestantes com gás lacrimogêneo e atirou para o ar, a fim de dispersar um protesto no centro de Teerã, nesta segunda-feira (22). Autoridades já haviam advertido de que a mais poderosa força de segurança do país reprimiria qualquer protesto da oposição, por causa da contestada eleição presidencial do dia 12. A polícia iraniana informou nesta segunda que 457 pessoas foram detidas apenas no sábado, mas não informou quantas foram presas em uma semana de protestos.

Testemunhas disseram que helicópteros sobrevoavam a área da Praça Haft-e-Tir, enquanto aproximadamente 200 manifestantes se reuniam. Porém centenas de policiais rapidamente encerraram o evento e dispersaram qualquer agrupamento, inclusive de poucas pessoas.

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Na estação de metrô de Haft-e-Tir, segundo testemunhas, a polícia não permitia que as pessoas ficassem paradas, falando que deveriam caminhar, e separava grupos que andavam juntos. As testemunhas falaram sob condição de anonimato, por temeram represálias.

"Há uma grande, grande, grande presença policial", afirmou uma mulher a um repórter da AP que está no Cairo. "A presença deles é realmente intimidante."

O regime iraniano afirma que pelo menos 17 pessoas morreram durante os protestos, após o presidente Mahmoud Ahmadinejad ser declarado vencedor da eleição. A oposição, liderada pelo reformista Mir Hossein Mousavi, reclama de fraudes.

O Conselho dos Guardiães, que tem entre suas funções o monitoramento das eleições, informou nesta segunda-feira que houve possíveis irregularidades em 50 distritos (de um total de 360), onde o número de votos excedeu o de eleitores. Como os eleitores iranianos podem votar fora de seu distrito, não é possível afirmar que isso configura a fraude, mas pode também ser parte dela. O conselho afirmou que investigará os problemas, mas ressaltou que a proporção de votos que podem ter sido alterados, de 3 milhões, não mudaria o resultado final. Ahmadinejad foi reeleito em primeiro turno.

Mais cedo nesta segunda-feira, a Guarda Revolucionária fez uma dura advertência aos manifestantes sobre a repressão aos protestos. A milícia Basij, sob o comando da Guarda Revolucionária, tem sido bastante ativa para impedir protestos, inclusive atacando opositores.

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Ali Nader, um especialista em Irã na RAND Corp., um think tank, disse que a ameaça da Guarda Revolucionária não surpreende. "Eles não deixarão esses protestos se espalharem - foi assim que o xá foi derrubado em 1979", disse Nader, mas acrescentou: "Mesmo se os protestos perderem a força, você pode esperar um forte movimento opositor no Irã".

Entre agosto e dezembro de 1978, fortes protestos da oposição iraniana, reprimidos com violência pelo exército e a polícia, levaram à queda do xá Reza Pahlavi, monarca do Irã. O xá fugiu do país em janeiro de 1979 e quinze dias depois Khomeini voltou do exílio.

Mousavi pediu no domingo a manutenção dos protestos, desafiando uma ordem do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. "O país pertence a vocês", afirmou Mousavi em seu último comunicado "Protestar contra mentiras e fraudes é seu direito."

Pressão europeia

A Europa ampliou nesta segunda-feira a pressão sobre o Irã, para encerrar a sangrenta repressão aos protestos nas ruas do país. Os líderes europeus se mostravam menos constrangidos para tratar do tema que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que fez da aproximação com a República Islâmica uma de suas prioridades na política externa.

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Porém, como Obama, os líderes europeus temem a excessiva dureza, o que poderia só piorar a situação para os manifestantes em Teerã, além de atrapalhar os esforços para conter as ambições nucleares iranianas.

Em uma ação coordenada, os países europeus chamaram diplomatas iranianos a seus ministérios de Relações Exteriores, a fim de expressar preocupação com a violência contra os manifestantes no país. Os protestos começaram após a divulgação dos resultados oficiais da eleição presidencial, com a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad. A oposição, liderada pelo reformista Mir Hossein Mousavi, reclama de fraudes.

A República Checa, presidente de turno da União Europeia, disse ao embaixador iraniano em Praga que o país rejeita as alegações de Teerã, de que estaria havendo interferência indevida em assuntos internos do país. Segundo os checos, o bloco europeu tem o direito de questionar "se o critério objetivo de um processo eleitoral transparente e democrático foi seguido em qualquer país".

Não houve, porém, ameaças de sanções diplomáticas nem de restrições aos negócios. Milhares de expatriados iranianos realizaram manifestações em países europeus, denunciando a violência.

Londres retira cidadãos

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A Grã-Bretanha, acusada pelo Irã de fomentar os protestos, informou nesta segunda que está retirando famílias de diplomatas e funcionários do país - o primeiro país a fazer isso desde a Revolução Islâmica de 1979.

O escritório do Exterior da Grã-Bretanha disse que estava retirando os dependentes dos funcionários porque "as famílias deles não conseguem mais levar suas vidas como sempre".

Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que não quer virar um bode expiatório por causa da repressão contra os opositores iranianos, mas os republicanos continuaram a criticar o mandatário dos EUA, ao qual acusam de ser muito cauteloso em seus comentários. As informações são da Associated Press.