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Produtores de laticínios na Colômbia protestam contra um acordo firmado entre o país e a UE. Latinos ainda desconfiam de aproximação | Raul Arboleda/Reuters
Produtores de laticínios na Colômbia protestam contra um acordo firmado entre o país e a UE. Latinos ainda desconfiam de aproximação| Foto: Raul Arboleda/Reuters

Madri - A retomada das negociações entre o Mercosul e a União Euro­­peia (UE) aumentou as perspectivas de que os dois blocos consigam fechar um acordo de livre-comércio até 2011, acreditam os especialistas em relações internacionais. No dia 18 de maio, na VI Cúpula entre a UE e a América Latina, realizada em Madri, o bloco europeu fechou um pacto de livre comércio com seis países da América Central, outro movimento que indica a possibilidade de estar próximo um acordo entre o Mercosul e a UE, que terá implicações não apenas no co­­mércio e na economia, mas também na geopolítica, dizem os analistas.

Além disso, existe o fator político interno dos países. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, está no último ano de mandato e poderá deixar ao país um marco realmente importante na política externa, se houver acordo com a UE.

Os europeus, por sua vez, lu­­tam para contrabalançar a crescente influência da China e não desejam perder para os Estados Unidos o espaço no Mercosul, que tem fortes laços históricos e culturais com o sul da Europa. "O acordo europeu com a América Cen­­tral é uma consequência da retomada das negociações entre UE e Mercosul", diz o professor de Re­­lações Internacionais Mário Gas­­par Sacchi, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo.

Segundo ele, existe uma pressão do governo brasileiro para que o acordo seja fechado até o final de 2010, pouco antes do fim do mandato de Lula. "Lula quer o acordo concluído antes de ele entregar o poder, em janeiro de 2011. A União Europeia também pressiona para que o acordo seja concluído rapidamente, por causa da China e dos Estados Unidos. Os europeus não querem perder a região para a China ou para os EUA", afirma Sacchi. "Temos la­­ços de sangue muito fortes com a Europa, principalmente Espanha e Portugal".

Lucro certo

O primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, estima que um acordo entre os 27 países da UE e os quatro do Mercosul (Brasil, Argentina, Uru­­guai e Paraguai) incremente as trocas comerciais em 5 bilhões de euros por ano entre os blocos.

"A aceleração para sair o acordo até 2011 é possível. O calendário político brasileiro é favorável e também é favorável a conjuntura internacional, principalmente por causa dos espanhóis, que querem ampliar os investimentos na América Latina", diz o professor Roberto Brazil, da Business School São Paulo.

"É uma disputa dos grandes tigres, de um lado os Estados Unidos com o Nafta, e do outro a União Europeia, pela hegemonia no continente americano", acredita.

Sacchi afirma que, até julho, funcionários dos governos dos países do Mercosul e da UE negociarão reduções de tarifas, produto a produto, inclusive "industriais e agrícolas". "Para nós, do Mercosul, será uma vantagem enorme entrar com produtos agrí­­colas na Europa", diz.

Barreiras europeias e a forte resistência de agricultores subsidiados, principalmente na França e na Itália, travaram totalmente as negociações para um acordo em 2004. O professor Sacchi acredita que, desta vez, por causa da ameaça da China passar a ter um papel de protagonista no comércio da região, existe vontade política na UE para superar a resistência do setor agrícola local. "Agora, um acordo convém às duas partes, Europa e Mercosul", acredita Sacchi.

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