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"Provocação Desnecessária"

Por pressão de militares, Itamaraty desconvida representante de Guaidó para cerimônia com Bolsonaro

Representante de Juan Guaidó no Brasil, María Teresa Belandria, em reunião com o vice-presidente Hamilton Mourão, em 15 de abril
Representante de Juan Guaidó no Brasil, María Teresa Belandria, em reunião com o vice-presidente Hamilton Mourão, em 15 de abril (Foto: Reprodução/Twitter María T Belandria)

Pressionado pela ala militar do governo, o Itamaraty desconvidou a representante no Brasil do presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, para a cerimônia de entrega de cartas credenciais ao presidente Jair Bolsonaro na próxima semana.

Os militares avaliaram que a participação na cerimônia de uma liderança da oposição ao regime chavista seria uma "provocação desnecessária" ao ditador Nicolás Maduro, justamente no momento em que os generais conseguiram reduzir a tensão entre os dois países.

Segundo uma circular diplomática à qual a reportagem teve acesso, María Teresa Belandria, indicada em fevereiro para atuar como embaixadora de Guaidó no Brasil, também havia sido convidada a entregar suas credenciais a Bolsonaro no dia 4 de junho, quando o presidente recepcionará novos embaixadores de sete países: México, Colômbia, Paraguai, Arábia Saudita, Peru, Guiné e Indonésia.

Na tradição diplomática, a apresentação das credenciais ao chefe de Estado marca oficialmente o início da missão de um embaixador como representante do seu país em uma nação estrangeira. O Brasil reconhece Guaidó como presidente interino da Venezuela e Belandria como embaixadora do governo Guaidó.

Decisão estratégica

A fronteira entre as cidades de Pacaraima (em Roraima) e Santa Elena de Uairén (na Venezuela), que ficou fechada por quase três meses, foi reaberta no início de maio.

O governo também retomou nas últimas semanas as negociações com emissários de Maduro para que a Venezuela volte a vender energia elétrica para Roraima, o único estado brasileiro que depende da importação de eletricidade.

Mas além das questões práticas, há um cálculo político por trás do veto a Belandria.

Os militares avaliam que o levante liderado por Guaidó em 30 de abril não foi bem-sucedido e enfraqueceu sua posição.

Embora os conselheiros militares de Bolsonaro desejem uma mudança de governo na Venezuela, eles consideram que, ao menos no curto prazo, o mais provável é que Maduro continue no poder.

Sendo assim, dizem, o país precisa preservar alguma interlocução com os chavistas.

Maduro mantém um representante em Brasília, o diplomata Freddy Efrain.

Nesse cenário, igualar Belandria aos demais embaixadores acreditados poderia prejudicar o esforço feito pelo Palácio do Planalto nos últimos meses para reduzir a tensão com o país vizinho.

Segundo relatos feitos à reportagem, a área de inteligência do Planalto avaliou que havia o risco de que a formalização do reconhecimento diplomático da indicada de Guaidó levasse a um novo fechamento da fronteira com a Venezuela.

Nas palavras de um assessor presidencial, não cabe fazer esse tipo de sinalização neste momento, ainda mais diante do enfraquecimento do líder opositor.

A opinião sobre a posição delicada em que se encontra Guaidó foi vocalizada, em 30 de abril, pelo ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno.

À época, Heleno disse que o apoio das Forças Armadas venezuelanas ao presidente interino não alcança "os altos escalões" e que "não há uma expectativa de solução no curto prazo".

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Resposta de Belandria

O Ministério das Relações Exteriores não comentou o desconvite a Belandriam mas divulgou uma nota na quinta-feira (30) em que "reitera seu apoio irrestrito ao Presidente Juan Guaidó" e "reafirma sua disposição" de "contribuir para restaurar plenamente a democracia na Venezuela".

A representante de Guaidó, por sua vez, disse que o tema é "protocolar".

"Será agendada uma nova oportunidade para a Venezuela. O apoio do Brasil continua sendo sólido, forte e decidido. É um tema meramente protocolar", disse Belandria.

Disputa no governo

A ação dos militares para barrar a representante de Guaidó deixa novamente em evidência a disputa entre os generais do governo Bolsonaro e o chanceler Ernesto Araújo.

Os militares desaprovaram, desde o início do mandato, a forma como Araújo conduziu a resposta do Brasil à crise na Venezuela.

Para eles, o ministro alinhou o Brasil a uma estratégia, liderada pelos Estados Unidos, excessivamente agressiva contra Maduro, que goste o Brasil ou não ainda controla o território venezuelano.

Desde o fim de fevereiro os militares atuam para limitar a influência de Araújo nas principais decisões que envolvem o país vizinho.

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