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Matrioshkas com imagens dos presidentes Trump e Putin | ALEXANDER NEMENOVAFP
Matrioshkas com imagens dos presidentes Trump e Putin| Foto: ALEXANDER NEMENOVAFP

A surpreendente visita do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à Europa, em julho, confirmou os piores medos dos europeus: se um movimento similar à tomada de controle da Crimeia ocorrer em algum lugar do continente, eles provavelmente ficarão sozinhos. 

Trump deixou bem claro que os líderes europeus não podem mais confiar nos Estados Unidos para sua proteção. Ele não foi apenas duramente criticado por seu próprio partido por ser muito conciliatório com o presidente russo, Vladimir Putin, durante a cúpula de Helsinque, como também atacou os aliados dos EUA mais uma vez, chegando ao ponto de chamar a União Europeia de inimiga. 

Os EUA podem ter mais de 60 mil soldados na Europa, mas um relatório recente aponta que o Pentágono está avaliando o impacto de uma possível redução no número de tropas. E juntamente com a imprevisibilidade de Trump, deixou os aliados tradicionais dos Estados Unidos nervosos. 

De fato, ao iniciar guerras comerciais e atacar continuamente seus aliados mais próximos, Trump enfraqueceu todo o Ocidente. 

Outra guerra na Europa continua sendo possível 

Apesar de suas garantias de que os EUA ainda valorizam a Otan, a visita divisiva de Trump à Europa pode encorajar Putin em sua avaliação de que ocupar mais território europeu pode não encontrar muita resistência militar. 

A Polônia está tão preocupada que, recentemente, se ofereceu para pagar até US$ 2 bilhões aos EUA para implantar, permanentemente, uma divisão de blindados em seu território. 

O conflito em curso na Ucrânia e a crescente ênfase de Putin, nos últimos anos, sobre o direito e a obrigação russa de proteger russos além de suas fronteiras contribuem ainda mais para o mal-estar entre Moscou e o Ocidente. Isto é particularmente sentido nos estados bálticos, dois dos quais (Estónia e Letónia) têm minorias russas consideráveis. 

Certamente não ajuda quando a Rússia realiza exercícios militares ou despacha aviões de guerra para as fronteiras com os países bálticos, dando uma sensação real de que a escalada militar nessa parte da Europa é inteiramente plausível . 

As tensões estão se acumulando na Europa Oriental 

O foco de qualquer possível incursão militar russa poderia ser um pequeno trecho de terra entre a Polônia e a Lituânia, conhecido como Suwalki Gap, que permitiria à Rússia reforçar seu único acesso ao mar Báltico no exclave de Kaliningrado e cortaria o acesso dos países bálticos ao resto da Europa. 

O Suwalki Gap também liga Kaliningrado à Belarus, um importante aliado russo. Moscou organiza regularmente exercícios militares estratégicos conjuntos com Minsk. O mais recente foi o jogo de guerra Zapad (que significa "Oeste" em russo), em setembro passado. 

Kaliningrado também é estrategicamente importante por ser a base de mísseis de curto alcance com capacidade nuclear, recentemente implantada. É também um local moderno para o armazenamento de armas nucleares. 

Refletindo as preocupações sobre uma possível invasão, os membros da Otan realizaram exercícios militares em junho, os quais se concentraram pela primeira vez na defesa desta faixa de terra de 104 km de um possível ataque russo. No mês passado, a OTAN realizou o exercício militar conjunto Trojan Footprint 18 na Polônia e nos países bálticos. Foi um dos maiores treinamentos já realizados na região. 

Estas operações militares no flanco leste da OTAN são reminiscências da Guerra Fria e alimentam tanto a “profunda sensação de vulnerabilidade da Rússia em relação ao Ocidente” quanto os próprios sentimentos de insegurança da Europa. 

Indo sozinho 

Mas, se a Rússia decidir invadir o Suwalki Gap, a Europa iria à guerra? 

É possível que não. As opções militares europeias permanecem limitadas, já que a OTAN não possui meios para entrar em guerra contra a Rússia sem os EUA. Conscientes disso, os líderes europeus lançaram um novo fundo de defesa regional no ano passado para desenvolver as capacidades militares do continente fora da OTAN. 

Embora uma invasão russa direta de um membro da OTAN seja o pior cenário, é mais provável que Putin busque desestabilizar ainda mais o flanco leste do bloco através de uma guerra híbrida que envolva ataques cibernéticos, campanhas de propaganda divisivas e uso de representantes armados como os que apareceram durante o conflito na Ucrânia. 

No entanto, está claro que a Europa não pode fornecer uma frente unificada para combater possíveis ações russas. Alguns países, como a Hungria e a Itália, buscam uma relação mais próxima com a Rússia, enquanto outros, como o Reino Unido, já estão envolvidos em conflitos diplomáticos com o país de Putin. 

França e Alemanha já anunciaram planos para aumentar os gastos com a defesa não por causa dos compromissos assumidos com Trump durante a última cúpula da Otan, mas por causa de preocupações reais de que outro enfrentamento com a Rússia esteja se convertendo uma ameaça real. 

Trump enfraqueceu a aliança ocidental em um momento em que a Europa não está pronta para dar um passo adiante e garantir sua própria segurança. Ele pode ter unido os europeus em torno de medos compartilhados e de sua resposta coletiva, mas também os tornou mais vulneráveis.

* Jean S. Renouf é professor de políticas e relações internacionais da Southern Cross University
©2018 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.
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