Homem fixa um cartaz de apoio ao ditador sírio Bashar Al-Assad: ações polêmicas| Foto: ALI DIA/AFP

Mais uma vez o ditador sírio Bashar Al-Assad é acusado de usar armas químicas contra a população do seu próprio país. Relatos de várias fontes revelam detalhes do ataque que parece ser incontestável apesar das negações russas. 

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Nesse mesmo período, no ano passado, houve uma situação muito parecida. Mas, na época, os ataques militares em resposta aos ataques químicos sírios tiveram um efeito perceptível muito pequeno. O campo de aviação que fora alvo dos ataques americanos estava em operação novamente em um dia. Dessa vez, quatro fatores devem fazer com que a situação seja mais catastrófica. 

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Em primeiro lugar, a ineficácia dos ataques do ano passado criaram a demanda pela resposta mais forte que foi feita agora – uma armadilha típica do combate, que faz com que os envolvidos aumentem a escala da sua força com o tempo. 

Em segundo lugar, Mike Pompeo, a escolha de Trump para ocupar o cargo de Secretário de Estado no lugar de Rex Tillerson, tem um histórico com combates. E também é relevante que o novo Conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, tem uma notável preferência por opções militares. Isso faz com que os EUA estejam extremamente militarizados, ao mesmo tempo que o apoio à diplomacia diminui. 

Em terceiro lugar, a presença russa em solo sírio significa um risco maior de baixas russas nas ações. 

Em quarto lugar, na época dos ataques aéreos de abril do ano passado, os EUA não tinham conseguido produzir uma estratégia diplomática e progressiva para a Síria que desse para a ação militar uma contenção e um contexto. 

Por mais custosa que a inação tenha sido nos últimos sete anos desde que os levantes da Primavera Árabe começaram a mudar o poder na Síria, a história sugere que remover o Assad rapidamente ou aumentar as estacas militares na ausência de uma estratégia diplomática de reconstrução seria um erro ainda maior. Depois de 16 anos estudando e trabalhando com conflitos complexos na Síria, ainda estou esperando para ver uma exceção a essa regra. 

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Nós sabemos onde isso vai parar

Transformar Assad em alvo criaria, provavelmente, o mesmo tipo de catástrofe que vimos na Líbia depois da queda do presidente Muammar Gaddafi. Na Líbia, nenhum governante civil conseguiu manter o país unido, fazendo com que alianças entre as tribos fossem criadas. Emergiu, assim, uma briga por poder com quatro frentes. Ela continua até hoje, acentuada pela presença persistente do Estado Islâmico. A ausência de poder que seguiria de uma remoção repentina de Assad na Síria provavelmente seria pior que a situação atual, além de alimentar as condições atuais já existentes para extremistas violentos e agentes paramilitares. 

Assad, porém, não deve permanecer no poder. Ele já tem provado isso há sete anos. Mas minha experiência diz que a saída dele deve ser política e legal. Esse processo deve vir dos próprios sírios, não de forças externas. A saída dele deve ser negociada com os líderes da sociedade civil síria para legitimar a reivindicação por um poder por um governo civil. 

A sociedade síria já saiu do fundo do poço e pode promover uma justiça imparcial sozinha, mas seria um erro responder à crise tirando ainda mais poder deles. Trump desdenha a ideia de construir a nação, que significaria uma intervenção dos EUA em larga escala para desenhar e construir sistemas para os sírios. Mas ajudar os sírios a desenhar e construir seus próprios sistemas é outra coisa – completamente necessária. Enquanto isso, outras opções, como forças de manutenção da paz e a Corte Penal Internacional, devem ser consideradas como substitutos. Isso não vai fechar todas as feridas – mas pode prevenir alguns regressos previsíveis. 

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Aqui estão as razões: 

A natureza detesta o vazio: ao contrário de um jogo de xadrez, remover um rei não é o fim de uma guerra, apenas outro começo. A ideia que a Síria existe como olhamos no mapa é uma fantasia. A Síria não se uniria de forma limpa se seu líder fosse tirado. Tensões entre grupos rebeldes, que já são altas, vão apenas aumentar se o líder for removido. Nós podemos apenas tentar prever para onde os aliados de Assad iriam caso ele não estivesse mais no poder. O califado pode até deixar de existir, mas o Estado Islâmico permaneceria, assim como os recrutas de várias outras organizações. 

Para que as ações militares fossem benéficas, elas devem fazer parte de um plano diplomático para lidar com as consequências involuntárias de outros atores – como a Rússia. Além disso, deve ser feito um plano local para transformar a retenção imediata de violência em um estado de segurança liderado pelos civis sírios. Nenhum plano desse tipo existe atualmente. 

Qual é o fim do jogo? A base clássica da nossa própria doutrina estratégica ressalta que a ação militar nunca deve ser usada sem um objetivo claro de onde se quer chegar com isso. Ataques militares de retaliação para punir o Assad por ter usado armas químicas podem parecer necessários. Certamente, o uso dessas armas deve ser prevenido e as vidas civis devem ser protegidas, mas a ação – sem falar de uma tentativa de remover o próprio Assad – sem planejamento é um convite para o fracasso. 

Os ataques do ano passado apenas aumentaram o sentimento de crise e confusão, sem nenhum ganho visível. E, o que é pior ainda, parece que tanto agora como no ano passado o próprio Trump é mais motivado por capricho do que por uma compreensão clara de estratégia e consequências. Num ambiente caótico como esse, isso só aumenta o risco de consequências involuntárias, sem fornecer nenhuma vantagem. 

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Para onde vai o estado? O Departamento de Estado dos EUA está mais frágil agora do que há um ano. Cargos que deveriam gerenciar políticas e processos complexos permanecem vagos, e o número de vacâncias aumentou. Em tempos normais, essas pessoas deveriam fazer análises necessárias sobre dinâmicas e mudanças em zonas de conflito. Eles também ajudariam a mitigar as probabilidades exaltadas de encontros acidentais com atores internacionais, como a Rússia, a Turquia, o Irã e até mesmo Israel, durante a confusão e a tensão alta que permanece depois de uma ação militar. 

Ao menos que os EUA estejam dispostos a se comprometer com uma campanha sustentável e substancial ou a apostar em um fim político para a guerra, qualquer ação militar isolada, como foi feita, é um gesto vazio. Mas mesmo uma ação militar sustentável e substancial pode acabar sendo um gesto vazio, a não ser que seja parte de um plano diplomático. O plano é a questão chave – e ele não existe ainda. 

Mas ainda há tempo de evitar um desastre. 

Os EUA ainda podem criar a estratégia que já deveriam ter criado. O país tem experiência, talento e recursos para criar um plano e uma estratégia – o que falta é a vontade política de produzi-los e mantê-los. O Congresso pode reunir a vontade política de afastar a Rússia e o Irã diplomaticamente para evitar o aumento da violência. O Departamento de Estado pode ter poder para diminuir as tensões com pressões não militares. Apesar de sua posição precária, o departamento ainda tem funcionários dispostos a fazer isso. A Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional pode fornecer as ferramentas e os materiais necessários para reunir a sociedade Síria novamente. O impulso para encontrar ações rápidas é compreensível, mas as lições históricas são inevitáveis: agir sem planejamento ou estratégia só leva a mais caos. 

Traduzido por Gisele Eberspächer.

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©2018 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês