Primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, enfretará um voto de não confiança dos legisladores do partido conservador| Foto: OLI SCARFF/AFP

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, enfrentará um voto de desconfiança no Parlamento britânico nesta quarta-feira (12), o que ameaça sua liderança enquanto ela tenta garantir um acordo para que o país deixe a União Europeia.

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A decisão dos parlamentares veio depois que May adiou por tempo indeterminado a votação sobre o acordo de Brexit que seu governo fechou com autoridades da União Europeia, que estava marcada para terça-feira (11). A expectativa, segundo a própria primeira-ministra, era de que o acordo fosse rejeitado por ampla margem.

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De acordo com a Reuters, a Casa dos Comuns (equivalente à Câmara dos Deputados brasileira) do Parlamento votará a contestação à liderança de May entre 16h e 18h (de Brasília) e um anúncio do resultado será feito logo em seguida.

O iminente voto de desconfiança joga em um caos ainda maior o acordo do Brexit e o futuro relacionamento do Reino Unido com a Europa. 

Para que os Tories (parlamentares do partido conservador de May) contestem a primeira-ministra, que também é a líder do partido, eles precisam enviar pelo menos 48 cartas – equivalentes a 15% dos 315 legisladores conservadores – para Sir Graham Brady, presidente do Comitê dos Parlamentares Conservadores. 

"O limiar de 15% do partido parlamentar que busca um voto de desconfiança no líder do Partido Conservador foi superado", disse Brady em um comunicado. 

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Para que May seja removida à força da liderança do partido, uma maioria simples de legisladores conservadores, 158 de 315, devem votar contra ela. Também existe a possibilidade de que, mesmo que esse número de votos não seja alcançado, ela opte por renunciar. Com isso ela também perderia o posto de primeira-ministra, já que é esperado que o líder do Partido Conservador, o maior da Casa dos Comuns, também assuma o principal cargo do governo.

A escolha de uma nova liderança pode demorar até seis semanas, período no qual May continuaria como primeira-ministra. Isso poderia levar ao requerimento de um adiamento da saída do Reino Unido da União Europeia, que está marcada para 29 de março.

Se o voto de desconfiança falhar, a liderança de May não poderá ser contestada pelo prazo de um ano.

Reação de May

Theresa May disse que vai contestar com "tudo o que puder" o voto de não confiança contra ela. 

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 Afirmou estar preparada para terminar seu trabalho e salientou que uma mudança na liderança neste momento prejudicaria o Brexit. Para a premiê, a mudança só interessaria a Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista.  

May disse ainda que fez progressos em conversas que teve ontem com autoridades europeias na Bélgica, na Alemanha e na Holanda e que acredita na possibilidade de conseguir um acordo com a UE. 

Como será a votação e o que pode acontecer depois

Na cédula, os deputados terão duas opções de voto: "eu tenho confiança em Theresa May como líder do Partido Conservador" ou "eu não tenho confiança em Theresa May como líder do Partido Conservador". 

Para se manter no cargo, ela precisa do voto de ao menos 158 parlamentares – mais da metade da bancada. Caso consiga, se manterá como líder do partido e não poderá ser desafiada novamente por um ano. 

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A tendência até o momento é que ela consiga se manter no comando do partido, já que mais de 158 deputados já anunciaram publicamente apoio, segundo a rede de TV britânica BBC. Mas como a votação é secreta, podem acontecer surpresas. 

Mesmo se vencer, porém, ela ainda pode renunciar ao cargo. Tradicionalmente é isto que acontece quando votação é apertada. Essa é a primeira vez que ela é desafiada desde que chegou ao comando da sigla em 2016, logo após a renúncia de James Cameron. 

Caso ela seja derrotada, o partido vai iniciar o processo para escolher um novo líder. May não poderá participar da disputa, mas se manterá como primeira-ministra até uma definição. 

Não há prazo para que uma decisão da sigla, mas o processo costuma demorar até seis semanas e há ainda um recesso de final de ano. 

Segundo o pré-acordo do Brexit, porém, no dia 21 de janeiro o primeiro-ministro britânico deverá apresentar para o Parlamento as opções de como a saída da União Europeia vai acontecer. Por isso, a expectativa é que até esta data um novo líder dos conservadores já tenha sido escolhido. 

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Como o novo líder do partido seria escolhido

O processo de escolha é feito em duas etapas. Na primeira votam apenas os deputados da sigla. Os dois primeiros colocados passam então para a próxima fase, na qual todos os filiados podem votar. 

O vencedor se torna então o líder do partido e a tendência é que seja eleito pelo Parlamento como novo primeiro-ministro, mas isto não é garantido. 

Embora seja o maior partido da Casa, os conservadores não têm maioria e governam com apoio do DUP, uma sigla da Irlanda do Norte que tem dez deputados. 

O DUP até o momento afirmou que pretende manter a coalizão independente de quem seja o novo líder , mas alguns deputados conservadores já anunciaram que não apoiarão um representante da ala mais radical do partido – como o ex-prefeito de Londres Boris Johnson – como novo premiê. 

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Neste caso, a tendência seria a convocação de novas eleições, o que abriria a porta para que o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, se tornasse primeiro-ministro, já que a sigla lidera as pesquisas. 

Isso, porém, provavelmente obrigaria a um adiamento do Brexit, que está marcado para 29 de março. May já afirmou que caso ela seja derrotada, o prazo terá que ser estendido, mas seus rivais afirmam que isso não será necessário. 

Sua condução do Brexit é o principal motivo que levou à convocação do voto de desconfiança, com diversas alas se manifestando contra a negociação feita por ela com a União Europeia. A votação desse acordo, que estava marcada para terça (11) teve que ser adiada na véspera porque o governo seria derrotado. 

Existe ainda a possibilidade de que Corbyn peça um voto de desconfiança do Parlamento contra ela, um processo que ocorre de forma separada. Para ter sucesso, porém, ele teria que conseguir o apoio do DUP ou convencer parte dos conservadores a votar com a oposição, o que até o momento não aconteceu.