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Imagem capturada de um vídeo divulgado em 29 de junho mostra a capitã do navio alemão de resgate Sea-Watch 3, Carola Rackete, sendo presa pela polícia italiana, no porto de Lampedusa, Itália, 28 de junho
Imagem capturada de um vídeo divulgado em 29 de junho mostra a capitã do navio alemão de resgate Sea-Watch 3, Carola Rackete, sendo presa pela polícia italiana, no porto de Lampedusa, Itália, 28 de junho| Foto: Anaelle LE BOUEDEC / várias fontes / AFP

Nesta segunda-feira (1º), a Alemanha pediu a libertação da capitã do navio Sea-Watch 3 que foi presa na Itália após desafiar autoridades e levar a embarcação, que transportava 42 imigrantes resgatados no mar, a um porto italiano. O caso ressalta as tensões entre os países europeus em relação à imigração.

A capitã alemã Carola Rackete, 31 anos, foi presa no sábado, mais de duas semanas depois de ter resgatado 53 migrantes de um bote no Mediterrâneo. "Eu decidi entrar no porto de Lampedusa. Sei o risco que estou correndo, mas as 42 pessoas resgatadas estão exaustas. Estou levando-as para a segurança agora", disse Rackete na quarta-feira (26), segundo a rede alemã de notícias Deutsche Welle.

Ela imediatamente surgiu como um símbolo de resistência às políticas para deter a migração do Norte da África que grupos humanitários consideram desumanas. Ao mesmo tempo, é vista como criminosa por outros grupos.

O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, disse no sábado, após a prisão da alemã, "missão cumprida". "Capitã criminosa presa. Navio pirata confiscado. Máxima multa para a ONG estrangeira. Todos os imigrantes distribuídos por outros países europeus", escreveu Salvini pelo Twitter.

As regras rígidas das políticas que buscam reduzir a migração da África tiveram sucesso em desacelerar as ondas de pessoas que chegam à Europa buscando refúgio, mas críticos dizem que elas têm um grande custo humano.

Rackete reiniciou o debate no sábado, quando ela levou o seu navio para o porto de Lampedusa. O ministro Salvini a chamou de "pirata" e disse que a ação foi "um ato criminoso, um ato de guerra". A capitã está em prisão domiciliar na Itália e pode enfrentar 10 anos na prisão.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, disse na segunda-feira pelo Twitter que "na nossa perspectiva, apenas a liberação de #CarolaRackete pode ser o resultado de um julgamento sob a regra da lei". O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse no domingo que "alguém que resgata pessoas não pode ser uma criminosa".

Porto seguro

O governo da Itália aumentou a pressão sobre grupos privados de resgate a imigrantes nos últimos meses, procurando banir navios que transportam imigrantes de seus portos. Rackete foi orientada a levar os imigrantes de volta à Líbia, que está devastada pela guerra, após alguns dos resgatados terem sido levados à Itália para tratamento médico de emergência.

Mas Rackete desobedeceu à ordem, argumentando que as leis do mar exigiam que ela levasse as pessoas para um porto seguro e que esse não era o caso de Trípoli. Após um impasse de 17 dias, ela entrou no porto italiano, provocando um confronto com autoridades italianas de alto escalão.

Para os seus apoiadores pela Europa, ela é uma heroína, que - com outros voluntários, muitos dos quais também são alemães - preencheu um vácuo deixado por muitos governos europeus à medida que diminuíram suas missões de resgate no Mediterrâneo.

O incidente expôs fissuras entre os governos da Itália e da Alemanha, onde os sentimentos pró-refugiados permanecem mais fortes do que em outras nações da União Europeia.

Políticos progressistas europeus criticaram a decisão da Itália de encerrar as operações privadas de resgate como um esforço calculado para deter imigrantes de se arriscarem na jornada ao torná-la mais mortal. Essa abordagem, eles argumentam, têm um alto custo. Cerca de 2.300 pessoas morreram tentando atravessar o Mar Mediterrâneo no ano passado, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

Mas o governo da Itália argumentou que missões privadas de resgate estão oferecendo incentivos para que imigrantes continuem a embarcar em jornadas perigosas. Roma também criticou outras nações europeias por não abrirem os seus próprios portos para resgatar embarcações.

A Itália considerou as ações de Rackete irresponsáveis. Enquanto entrava no porto de Lampedusa, Rackete supostamente virou o seu navio em direção a um barco do governo que tentava bloquear a sua entrada. O governo italiano disse que essa manobra foi um ato "pirata".

Alguns observadores alemães suspeitam que a retórica rígida da Itália seja uma jogada política. As chegadas de migrantes via Mediterrâneo são hoje "simbólicas", já que os números caíram significativamente, disse Gerald Knaus, fundador da Iniciativa Estabilidade Europeia, um think tank europeu.

Os migrantes que chegam em portos italianos são normalmente enviados a outros países mais receptivos a refugiados. Autoridades italianas disseram que os migrantes a bordo do Sea-Watch 3 seriam redistribuídos para Alemanha, França, Finlândia, Luxemburgo e Portugal.

Doações

As doações à organização Sea-Watch atingiram um valor recorde após a prisão da capitã. Desde a manhã de sábado, já foram doados cerca de 1,1 milhão de euros, segundo a Deutsche Welle. Personalidades alemãs fizeram campanha para incentivar as doações. Um porta-voz da organização disse que os recursos serão usados para custas processuais, e também para substituir o navio, caso ele permaneça confiscado.

Rackete pode ter que pagar uma multa de 50 mil euros por sua decisão, além de enfrentar as acusações criminais no âmbito de uma nova lei italiana que proíbe o auxílio à imigração ilegal.

A alemã é capitã do Sea-Watch 3 desde 2018 e trabalha para a organização não-governamental da Alemanha há quatro anos. Ela treinou para ser oficial náutica e fez mestrado em Gestão da Conservação na Inglaterra. Também trabalhou para o Instituto Alfred Wegener de Pesquisa Polar e Marinha, na Alemanha, e atuou no Greenpeace, segundo a imprensa alemã.

Em uma de suas primeiras missões nesse navio, Rackete ajudou a retirar 45 corpos que boiavam no mar após um naufrágio.

Em entrevista ao jornal italiano La Repubblica, ela disse que as pessoas a bordo "não podiam aguentar por mais tempo. As vidas delas vieram na frente de qualquer jogo político".

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