Alguns inusitados grafites, assinados por quatro artistas diferentes, tomaram o coração de Paris desde segunda-feira com base nos rostos dos próprios moradores do centro da capital francesa, uma iniciativa municipal que pretende dar vida às fachadas dos prédios mais emblemáticos da região.

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"São pessoas do bairro. Pessoas que não são famosas, mas são conhecidas e representam bem o bairro, sendo morador ou comerciante... Posteriormente, os artistas levam essas imagens em grande escala aos emblemáticos edifícios da cidade", explicou à Anna Dimitrova, responsável pela empresa Nobulo, autora da iniciativa.

Ao todo serão oito obras, todas buscando uma aproximação gratuita e popular entre as pessoas e a arte contemporânea, expostas no exterior dos edifícios situados ao redor do Museu do Louvre, da Comedie Française e do centro comercial de Les Aches.

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Desta forma, as obras buscam devolver o espaço público aos moradores, expondo seus retratos em lugares transitados por milhares de pessoas todos os dias.

"A ideia é pegar uma pessoa querida e conhecida dentro de seu círculo e ampliar um pouco essa dimensão. Vamos dar um ângulo diferente e ver como as pessoas e seus vizinhos reagem", afirmou Axel Void, artista americano que inicia o percurso artístico com uma grande pintura de Elza, um bebê de 9 meses e a mais jovem escolhida para fornecer seu rosto e história aos muros de seu bairro até o final do mês de dezembro.

"Sempre quis fazer um recém-nascido em um mural. Não há um motivo, mas se deve ao fato de não ter uma história, não se saber sobre seu futuro e nem quem será essa pessoa... Aliás, isso também pode ser perigoso porque ela pode crescer e dizer: 'porque você fez isso?'", brinca Void.

O grafite, além de ser a técnica que se associa por excelência com a arte urbana que invade os muros e paredes, também traz ao projeto uma "linguagem mais popular". "O que quero dizer com meu trabalho é importante que todos possam entender. Neste ponto, é importante que a linguagem utilizada seja popular", completou Void.

Entre os oito selecionados, todos escolhidos em uma votação, há comerciantes, empresários, vendedores, voluntários e a senhora Chaleyat, uma ex-professora e militante feminista de 95 anos cujo retrato ocupa a fachada da Prefeitura do primeiro distrito de Paris.

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Desta forma, o artista espanhol "El niño de las pinturas de la calle", que também assina outras duas das pinturas, buscou dar vida não somente ao rosto, mas também a história de seu modelo Jean Noel Julien.

"É um senhor que tem uma padaria. Começou a trabalhar com pão desde pequeno e, após muita luta, conseguiu montar uma padaria muito boa e a que faz o melhor pão de Paris", comentou o grafiteiro.

Além de "Axel Void" e "El niño de las pinturas de la calle", o projeto também conta com a participação do francês "Atma" e do italiano "Macs", os quatro pseudônimos que assinam as obras e que se unem em nome da paixão pela pintura figurativa em grande formato e pela arte urbana.

"Aprendi a pintar fazendo grafite. Depois, para não ir ao serviço militar, estudei um pouco. Após escapar do serviço militar, eu segui pintando grafites", resumiu o artista espanhol.

A iniciativa, chamada "Les Etres Aimés" (Os seres queridos), é uma adaptação do projeto realizado no México (Campeche e Monterrey, em 2010) e em Paris (distrito VI, em 2011). Segundo seus responsáveis, os próximos destinos devem ser Bruxelas e Casablanca.

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