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Lula com Hugo Chávez e Nicolás Maduro, em Manaus, em setembro de 2007: membro da equipe de transição deixou claro na semana passada o que já vinha sendo sinalizado pelo PT.
Lula com Hugo Chávez e Nicolás Maduro, em Manaus, em setembro de 2007: membro da equipe de transição deixou claro na semana passada o que já vinha sendo sinalizado pelo PT.| Foto: EFE/Raimundo Valentim

Assim como fizeram países vizinhos onde a esquerda chegou à presidência, o Brasil vai voltar a reconhecer o ditador Nicolás Maduro como presidente da Venezuela assim que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começar seu terceiro mandato.

No início de 2019, os Estados Unidos, a União Europeia e outros países, entre eles o Brasil, já presidido por Jair Bolsonaro (hoje no PL), reconheceram o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, como chefe de Estado.

A Argentina deixou de reconhecer o opositor a Maduro como presidente da Venezuela depois que o peronista Alberto Fernández chegou à Casa Rosada, no final de 2019. Este ano, a Colômbia fez o mesmo depois que Gustavo Petro se tornou o primeiro presidente de esquerda do país. A UE deixou de reconhecer Guaidó no ano passado.

Embora Lula ainda não tenha manifestado explicitamente que reconhecerá Maduro como presidente venezuelano, no domingo passado (13) o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), membro da equipe de transição, anunciou que isso acontecerá no novo governo brasileiro.

Pimenta participou de um ato na Embaixada da Venezuela para lembrar três anos da entrada de diplomatas de Guaidó na representação diplomática do país caribenho em Brasília.

Militantes de esquerda, que falavam em “invasão”, e de direita estiveram no local em 13 de novembro de 2019. Houve tumultos e um vídeo mostrou Pimenta ajudando funcionários de Maduro a arrastar um apoiador de Guaidó para fora da embaixada. Todos os representantes do opositor deixaram o local no mesmo dia.

Pimenta depois apresentou pedido de habeas corpus para que fosse suspensa a expulsão pelo governo brasileiro de 34 diplomatas venezuelanos ligados a Maduro, que resultou em liminar concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso.

“Foram três anos de luta, de resistência, para que pudéssemos chegar a essa data, [com] Lula eleito presidente. Em breve, teremos a oportunidade de restabelecer a normalidade das relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela”, disse Pimenta na embaixada venezuelana no último domingo.

No ato, no qual o deputado federal foi “homenageado”, foi estendida uma faixa de campanha de Lula em frente a retratos de Hugo Chávez e de Maduro e o jingle “Lula lá” foi executado no sistema de som.

Apoio declarado

A declaração de Pimenta apenas confirmou o que já vinha sendo sinalizado desde a campanha do presidente eleito. Um dia depois da vitória de Lula no segundo turno da eleição presidencial em 30 de outubro, Maduro informou no Twitter que havia tido uma “boa conversa” com o brasileiro e que ambos falaram de “retomar a agenda de cooperação binacional”.

Em entrevista a jornalistas estrangeiros em agosto, Lula defendeu a alternância de poder, inclusive na Venezuela, mas cobrou que os Estados Unidos reconheçam o governo Maduro “porque só tem um jeito de restabelecer a convivência democrática, é não criminalizando as pessoas”. Além disso, criticou o reconhecimento de Guaidó como presidente venezuelano: “Ele era um impostor, está provado que era um impostor”.

Depois, em setembro, em entrevista no Programa do Ratinho, do SBT, o petista alegou que o Brasil se beneficiou de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a regimes de esquerda durante os governos do PT, apesar das denúncias de calote – só a Venezuela deixou de pagar R$ 3,45 bilhões.

“Quando você está financiando uma obra, você exporta sua engenharia. Quem começou a fazer o metrô de Caracas foi o presidente Fernando Henrique Cardoso. Então, primeiro, quando o BNDES empresta dinheiro, é obrigado a contratar uma empresa brasileira. Segundo, os componentes são comprados do Brasil. Então, o que você está fazendo é estar exportando, além de receber o dinheiro de volta”, argumentou.

Quando o apresentador mencionou os calotes sofridos pelo Brasil, Lula respondeu: “Todo mundo paga, você pode ter dificuldade aqui ou ali, mas todo mundo paga”.

Em 2019, quando Bolsonaro reconheceu Guaidó como o presidente venezuelano, o PT divulgou nota em que criticou a decisão do governo brasileiro.

“Essa decisão agressiva do governo brasileiro demonstra que o nosso país já não tem mais política externa autônoma, tendo-se alinhado acriticamente, e contra seus próprios interesses, à agenda geopolítica belicista e antilatinoamericana de Donad Trump [então presidente americano]”, apontou o comunicado.

Representantes de Guaidó

O reconhecimento de Maduro pelo Brasil deixará em situação incerta os representantes de Guaidó no país. Em entrevista à Gazeta do Povo, María Teresa Belandria, embaixadora do governo Guaidó no Brasil, preferiu não divulgar qual será seu destino e o do ministro-conselheiro Tomás Silva (o restante da representação é composto de voluntários) a partir de 2023, mas adiantou que ambos não voltarão à Venezuela por ora.

“Eu não posso voltar para a Venezuela, todo mundo sabe que eu não posso voltar para o meu país até pelo menos depois das negociações do México”, disse Belandria, em referência às conversas entre a ditadura chavista e a oposição para eleições presidenciais livres no país e abertura política, negociações que estão paralisadas.

No último dia 11, Alberto Fernández, Petro e o presidente da França, Emmanuel Macron, organizaram um encontro em Paris entre representantes do regime e da oposição do país caribenho e falaram da volta das conversas no México, que ainda não têm data para serem retomadas.

Belandria afirmou que ela e Silva só devem voltar à Venezuela “quando tivermos uma data para as eleições”.

“Eu acho que foi bom [o encontro em Paris], porque as pessoas que estão colocando pressão nas costas do Maduro para voltar a negociar são todas amigos deles: os presidentes da Argentina, da Colômbia”, avaliou a embaixadora. “A nossa vontade de negociar sempre existiu, nós nunca saímos da mesa.” (Colaborou Isabella Mayer de Moura)

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