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Enquanto cidades ucranianas comemoram o Dia do Trabalho com bandeiras e cartazes pró-Rússia, e milhares tomam a Praça Vermelha em Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, e a chanceler federal alemã, Angela Merkel, tentam uma saída diplomática para a crise. Em conversa por telefone nesta quinta-feira, Putin ressaltou os pontos-chave para um diálogo nacional: a retirada das unidades militares ucranianas do Sudeste do país e o fim da violência. E pediu a ajuda de observadores militares europeus na mediação.

"A chanceler alemã lembrou o presidente Putin da responsabilidade da Rússia como um Estado membro da OSCE e convidou o presidente exercer sua influência", disse Christiane Wirtz, porta-voz do governo alemão. "Eles também falaram sobre a importância das eleições na Ucrânia em 25 de maio, cruciais para a estabilidade do país".

De Frankfurt, um dia antes, Merkel já havia criticado uma eventual intervenção militar na disputa e disse que conta com uma solução diplomática para a maior crise entre o Ocidente e Moscou desde o fim da Guerra Fria: "Será que aprendemos alguma coisa cem anos após o início da Primeira Guerra Mundial e 75 anos após o início da Segunda Guerra Mundial se recorrermos aos mesmos métodos? Não".

O destino dos observadores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), mantidos reféns desde a semana passada por separatistas em Slaviansk, permanece incerto. Mas, na noite de quarta-feira, o chanceler russo Serguei Lavrov, destacou que Moscou apoia um diálogo na Ucrânia para solucionar a crise, sob o amparo justamente dos observadores europeus. No mesmo dia, separatistas afirmam que só libertarão os reféns se a UE suspender as sanções ampliadas na terça-feira contra políticos russos e líderes separatistas ucranianos - o que o Ocidente, até agora, rejeita.

"A Rússia é favorável ao estabelecimento de um diálogo na Ucrânia entre as autoridades de Kiev e das demais regiões", destacou Lavrov em entrevista coletiva na sede da chancelaria peruana. "Esperamos que nossos sócios e colegas ocidentais permitam aos ucranianos estabelecer este diálogo sem maiores impedimentos".

Mais cedo, no Chile, Lavrov anunciou que a Rússia estuda medidas para o caso de o Ocidente manter as sanções contra Moscou devido à crise na Ucrânia.

"Não vamos fazer coisas estúpidas rapidamente. Queremos dar aos nossos sócios a oportunidade de se acalmar. Se suas ações continuarem, neste caso, estudaremos a situação."

Um dia antes, em conversa por telefone, Putin e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, concordaram que uma saída para a crise na Ucrânia "só pode ser alcançada por meios pacíficos", segundo um comunicado do Kremlin. O governo russo admite, em outra frente, que estuda a adoção de sanções caso EUA e UE mantenham as represálias. O Fundo Monetário Internacional, por outro lado, aprovou na quarta-feira uma ajuda de US$ 17 bilhões para a Ucrânia. A aprovação do comitê executivo do FMI abre caminho para o envio imediato de US$ 3,2 bilhões a Kiev, que enfrenta graves problemas fiscais.

Depois de semanas de ofensivas que fracassaram em expulsar os separatistas que ocuparam vários prédios públicos no Leste da Ucrânia, o governo interino do país admitiu na quarta-feira, pela primeira vez, ter perdido o controle das regiões de Donetsk e Luhansk para ativistas pró-russos. A tomada dos territórios por partidários da Rússia amplia ainda mais seu alcance no outro lado da fronteira: há menos de três meses, o país anexou a Península da Crimeia, região russófona, mas até então pertencente à Ucrânia. E, se antes Kiev se negava a reconhecer o avanço de separatistas, ontem o presidente Oleksander Turchinov foi além e advertiu que colocou as forças militares em "estado de alerta máximo" ante uma possível invasão das tropas russas deslocadas para a fronteira.

Os separatistas aumentaram seu domínio nos últimos dias sobre várias cidades do Leste, controlando locais estratégicos como prefeituras e prédios das forças de segurança em mais de dez cidades. Ontem, tomaram a prefeitura de Gorlivka e edifícios em Altchevsk, perto de Luhansk.

O governo interino ucraniano, apoiado pelo Ocidente, acusa Moscou de fomentar os ataques. Estados Unidos e União Europeia já aplicaram duas rodadas de sanções à Rússia, a última delas na terça-feira. Mas as punições, até agora, afetam principalmente políticos, alguns poucos empresários próximos ao presidente Vladimir Putin e suas empresas, nenhuma delas pública.

O Kremlin, por sua vez, nega intervenções no conflito, apesar de EUA e UE terem indicado possuir provas da ação de agentes russos em território ucraniano. Ontem, o governo russo reagiu ao anúncio de novas manobras militares da Ucrânia insistindo "no fim imediato da retórica belicosa de Kiev, que visa a intimidar seu próprio povo".

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