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Pôster em Riga, capital da Letônia, mostra o presidente russo, Vladimir Putin, caracterizado como a morte
Pôster em Riga, capital da Letônia, mostra o presidente russo, Vladimir Putin, caracterizado como a morte| Foto: EFE/EPA/TOMS KALNINS

Como esperado, já que as eleições presidenciais na Rússia foram realizadas sem transparência e oponentes de verdade (os reais adversários estão mortos, presos, no exílio ou foram impedidos de participar), Vladimir Putin conquistou seu quinto mandato para a presidência, em votação realizada entre sexta-feira (15) e este domingo (17).

Putin permanecerá no Kremlin até 2030, quando vai ultrapassar três décadas no poder como primeiro-ministro ou presidente e superar o ditador Josef Stálin (1924-1953), o mais longevo líder russo desde o fim da monarquia no país.

Com 80,02% das urnas apuradas, ele tem 88,41% dos votos. Nikolai Kharitonov, do Partido Comunista, obteve 4,28%; Vladislav Davankov, do partido Novo Povo, 4,10%; e Leonid Slutsky, do Partido Liberal Democrático da Rússia, 3,21%.

Segundo a agência Sputnik, o comparecimento eleitoral foi de 74,22%.

Em um discurso para apoiadores no seu comitê de campanha, em Moscou, Putin disse esta noite que a sua vitória “permitirá à Rússia consolidar a sua sociedade” e mostra que o país “estava certo ao escolher o caminho atual”.

Depois, em entrevista coletiva, ele afirmou que os protestos convocados para este domingo pela oposição “não tiveram efeito” e que os eleitores que destruíram cédulas de votação para manifestar repúdio ao seu governo “deveriam ser processados”.

Putin começou sua carreira como agente da KGB, serviço secreto da União Soviética. Ele trabalhava no escritório da agência na Alemanha Oriental em 1989, quando aconteceu a queda do Muro de Berlim.

Putin nunca se conformou com o fim da União Soviética, ocorrido em 1991, que descreveu como “a maior catástrofe geopolítica do século XX”. Seu sonho era restabelecer uma Rússia de perfil imperial, capaz de rivalizar com os Estados Unidos.

De volta à Rússia, ele foi assessor na prefeitura de São Petersburgo, gerente de patrimônio do Kremlin e diretor do FSB, um dos serviços de segurança que substituíram a KGB.

Em agosto de 1999, Putin se tornou primeiro-ministro do governo de Boris Iéltsin. No mês seguinte, atentados atribuídos a separatistas chechenos ocorreram em diferentes cidades russas e teve início a segunda guerra da Chechênia, que jogou a popularidade de Putin nas alturas.

Até hoje, desconfia-se que os atentados foram uma operação de bandeira falsa para projetar o então primeiro-ministro. No final de 1999, Putin se tornou presidente interino com a renúncia de Iéltsin e em 2000, foi eleito pela primeira vez para a presidência. Suas outras eleições foram em 2004, 2012 e 2018.

Entre 2008 e 2012, impedido pela Constituição russa de tentar um terceiro mandato consecutivo, Putin colocou um fantoche, Dmitri Medvedev, para presidir o país. Este, obviamente, nomeou o padrinho político como primeiro-ministro para que continuasse dando as cartas.

Para evitar o teatrinho de 2008, em 2020 ele realizou um referendo no qual foi aprovada uma mudança na Constituição para que pudesse concorrer nas eleições de 2024 e 2030 (os mandatos presidenciais passaram a ser de seis anos após Medvedev).

Internamente, Putin agiu com mão de ferro, prendendo, reprimindo e matando dissidentes (em alguns casos, até fora da Rússia). Dos oligarcas beneficiados com as privatizações na era Iéltsin, exigiu submissão e parte dos lucros – quem não aceitou foi morto, preso ou substituído por aliados de Putin.

Na sua política externa, a Rússia voltou a ser um agente de desestabilização mundial. Putin se mostrou a princípio disposto a dialogar com o Ocidente, mas depois se aproximou de ditaduras como a China, Coreia do Norte, Irã e Venezuela.

O seu sonho de recuperar o domínio russo sobre o antigo bloco soviético o levou a invadir a Geórgia em 2008, sob o pretexto de salvar do “genocídio” os habitantes da Ossétia do Sul (argumento parecido com o que utilizou para invadir a Ucrânia), e a apoiar os governos de Belarus, em 2020, e do Cazaquistão, em 2022, a reprimir grandes protestos.

Mas o alvo preferencial de Putin sempre foi a Ucrânia, que considera um “Estado artificial”, que deveria voltar a ser parte da Rússia.

Para sujeitar o país aos seus interesses, ele apostou suas fichas em Viktor Yanukovych, político pró-Kremlin que venceu a eleição presidencial ucraniana de 2004. Entretanto, após a constatação de fraudes, o que motivou os protestos da chamada Revolução Laranja, o pleito foi realizado novamente e Yanukovych perdeu para Viktor Yushchenko, que quase havia morrido envenenado durante a campanha.

Yanukovych venceu a eleição presidencial de 2010, mas suas políticas pró-Rússia foram respondidas com grandes manifestações e em 2014 ele foi deposto.

Em retaliação, Putin anexou a província ucraniana da Crimeia e apoiou separatistas nas regiões de Donetsk e Lugansk.

Era um ensaio para a invasão em grande escala de fevereiro de 2022. Putin realizou referendos fraudulentos para anexar quatro regiões da Ucrânia ocupadas (Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia) no mesmo ano e até hoje mantém sua agressão com os alegados objetivos de “desnazificar” e “desmilitarizar” o país vizinho. Com a vitória deste domingo, sua ameaça ao mundo segue mais viva que nunca.

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