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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, discursa ao lado de sua vice, Delcy Rodriguez, e do presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello, no Palácio de Miraflores, em Caracas, 4 de junho
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, discursa ao lado de sua vice, Delcy Rodriguez, e do presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello, no Palácio de Miraflores, em Caracas, 4 de junho| Foto: Palácio de Miraflores / AFP

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, fez uma avaliação sincera da oposição venezuelana durante uma reunião a portas fechadas em Nova York na semana passada, dizendo que os opositores do ditador Nicolás Maduro estão divididos e que o esforços dos EUA para mantê-los unidos têm sido mais difíceis do que o que é conhecido publicamente.

"Nosso quebra-cabeça, que é manter a oposição unida, acabou se tornando terrivelmente difícil", disse Pompeo em uma gravação de áudio obtida pelo jornal The Washington Post. "No momento em que Maduro sair, todo mundo vai levantar as mãos e dizer: 'Me escolha, eu sou o próximo presidente da Venezuela'. Seriam mais de quarenta pessoas que acreditam ser o legítimo herdeiro [do poder] de Maduro."

As observações dão uma ideia de como são os desafios que o governo Trump enfrenta no momento em que a tentativa de derrubar Maduro entra em estagnação e alguns dos países que inicialmente apoiaram a oposição exploram caminhos diplomáticos alternativos para resolver a crise.

Pompeo disse que estava confiante de que Maduro acabaria sendo forçado a sair, mas que "eu não saberia dizer quando".

Ele disse que a dificuldade de unir a oposição não aconteceu em público apenas "nos últimos meses, mas desde o dia que me tornei diretor da CIA, isso era algo que estava no centro do que o presidente Trump estava tentando fazer".

"Estávamos tentando apoiar várias instituições... religiosas para conseguir que a oposição se unisse", disse ele.

Ele lamentou que, durante a tentativa fracassada de levante militar em 30 de abril, interesses conflitantes entre os inimigos e rivais de Maduro tenham impedido a saída do ditador socialista.

"Você deve saber, [Maduro] está cercado principalmente por cubanos", disse Pompeo. "Ele não tem confiança nenhuma nos venezuelanos. Eu não o culpo. Ele não deveria [confiar]. Eles estavam todos tramando contra ele. Infelizmente, eles estavam tramando por si mesmos."

Sinceridade pública

As declarações representam um grande afastamento da linha oficial do governo Trump, que divulga a unidade e a força da oposição liderada por Juan Guaidó, o líder da Assembleia Nacional reconhecido por cerca de 60 países como presidente interino.

"Esta é a primeira alta autoridade que eu ouvi ser tão sincera publicamente sobre a fraqueza da oposição e como isso pode fazer com que o retorno da democracia à Venezuela seja muito mais difícil", disse Shannon O'Neil, especialista em Venezuela no Conselho de Relações Exteriores.

"É uma visão preocupante, mas precisa", ela acrescentou. "Eles continuam divididos sobre como enfrentar o regime de Maduro - se devem ou não entrar em diálogo, se devem ou não enfrentar os militares, se querem ou não ter um candidato presidencial ou se vão boicotar as eleições. Eles nem mesmo retuitam uns aos outros."

O áudio vazado vem de uma reunião surpreendentemente franca que Pompeo teve com líderes judeus na semana passada, na qual ele também fez uma avaliação contundente sobre o aguardado plano de paz para o Oriente Médio do governo Trump.

Durante a reunião privada, Pompeo expressou hesitação em responder a perguntas particularmente sensíveis, dizendo que "alguém provavelmente tem um gravador ligado, então não vou dizer".

Isso levou um líder do grupo a dizer: "Quero enfatizar que essa reunião é confidencial".

A agitação sobre a gravação vazada criou um raro momento para Pompeo, cuja cuidadosa disciplina em relação a mensagens e à sincronia com o presidente têm sido fundamentais para sua sobrevivência em uma administração famosa pela alta rotatividade.

Ao contrário do conselheiro de segurança nacional de Trump, John Bolton, Pompeo tem sido cuidadoso em não se afastar muito do presidente em questões importantes de política externa.

Pompeo fez referência ao hábito do presidente de demitir altos funcionários via Twitter, e disse em tom de brincadeira: "O presidente pode tuitar enquanto eu estiver aqui", provocando risos na plateia.

Saída de Maduro é "insuficiente"

Pompeo também falou sobre como seria difícil trazer a mudança para a Venezuela mesmo no caso da derrubada de Maduro.

"A saída de Maduro é importante e necessária, mas completamente insuficiente", disse ele.

Geoff Ramsey, especialista em Venezuela no Departamento de Washington para América Latina, disse que os comentários do secretário foram surpreendentemente espontâneos, mas "absolutamente verdadeiros".

"A triste verdade é que muitos na oposição estão mais interessados ​​em tentar ser a figura de Nelson Mandela do que em encontrar um caminho pragmático", disse ele.

Um representante de Guaidó contestou a caracterização de desunião e disse que o jovem líder reuniu um movimento democrático diversificado.

"Guaidó é a figura local mais popular do país atualmente. Qualquer pesquisa de opinião lhe dirá isso", disse o assessor, que falou sob condição de anonimato para discutir as declarações de Pompeo. "Ele conseguiu coligar um movimento para conduzir a luta contra Maduro e conquistar mudanças. Esse é o status atual agora".

O Departamento de Estado se recusou a comentar para este artigo.

Pompeo disse que levou muito tempo para que a posição de Guaidó fosse consolidada, mas que a situação permaneceu "delicada".

"Estamos trabalhando e demorou tanto para chegar onde estamos hoje, onde você tem um líder - por mais tênue que seja - que poderia ser preso enquanto estamos sentados nesta sala, que conseguiu remendar a oposição", disse ele.

O representante de Guaidó disse que sustentar as forças democráticas da Venezuela não tem sido uma tarefa fácil, enquanto Maduro manda prender alguns membros da Assembleia Nacional e retira a imunidade parlamentar de outros.

Outras figuras de destaque na oposição incluem María Corina Machado, Henri Falcón e o mentor de Guaidó, Leopoldo López. Existem rumores sobre disputas de "todos eles por um perfil de liderança em um momento ou em outro", disse Ramsey.

Diálogo com Maduro

À medida que o esforço para remover Maduro se arrasta, a situação humanitária piorou, com o sistema de saúde em "colapso total, com aumento dos níveis de mortalidade materna e infantil", segundo um relatório da Human Rights Watch publicado em abril. O grupo verificou um aumento em doenças que podem ser evitadas ​​por vacinas, incluindo sarampo e difteria, e "altos níveis de insegurança alimentar e desnutrição infantil" - fatores que contribuíram para um êxodo em massa de mais de 3,4 milhões de venezuelanos nos últimos anos.

Diante das terríveis circunstâncias, alguns países que inicialmente prometeram apoio a Guaidó começaram a explorar negociações com Maduro, ignorando os apelos dos EUA contra um diálogo com o regime. Líderes de países europeus e latino-americanos se reuniram na ONU na segunda-feira e divulgaram um comunicado de apoio a Guaidó, esforços para encontrar uma solução negociada e contatos crescentes com todos os lados na Venezuela.

Enquanto isso, os Estados Unidos estão aumentando a pressão contra Cuba, apoiadora da Venezuela, emitindo, na terça-feira, regulamentações que estabelecem novas restrições às viagens para o país.

Em seus comentários, Pompeo ressaltou sua opinião de que "os cubanos estão no centro dos problemas econômicos" da Venezuela. "Acho que temos que encontrar uma maneira de desconectá-los da Venezuela", disse ele. "Estamos trabalhando duro para conseguir isso."

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