Os violentos confrontos étnicos que ocorrem há uma semana no sul do Quirguistão forçaram pelo menos 400 mil pessoas a fugirem do país ou de suas casas, afirmou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quinta-feira. "De acordo com as mais recentes estimativas das agências da ONU, há pelo menos 400 mil refugiados ou desalojados", afirmou a porta-voz do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, Elisabeth Byrs.

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O número das pessoas que buscaram refúgio no Usbequistão está "estimado entre 75 mil e 100 mil pessoas, contando apenas os adultos", afirmou a funcionária. "Nossas estimativas do número de deslocados (que permanecem no próprio país) são de cerca de 300 mil", afirmou a porta-voz. O Quirguistão tem no total 5,3 milhões de habitantes.

Os confrontos entre quirguizes étnicos e comunidades usbeques deixaram pelo menos 191 pessoas mortas e quase 2 mil feridas, segundo dados oficiais do governo.

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O governo interino do Quirguistão acusou o presidente deposto em abril, Kurmanbek Bakiyev, de insuflar os tumultos e a violência. Bakiyev está exilado na Bielo-Rússia e negou as acusações. Ole Solvang, pesquisador da Human Rights Watch, organização de defesa dos direitos humanos com sede em Nova York, disse ter visto soldados que não protegeram civis e que muitas testemunhas disseram que os militares na verdade ajudaram as turbas a cometerem os crimes. Solvang disse ter visto soldados quirguizes a 200 metros da entrada do bairro usbeque de Cheryomushki, quando os saques e assassinatos começaram, mas afirma que eles não impediram a turba.

Nesta quinta-feira, usbeques étnicos acusaram as forças de segurança de não intervirem e até de participarem da violência ao lado da maioria étnica quirguiz. O coronel Iskander Ikramov, chefe dos militares quirguizes no sul do país, rejeitou as acusações de envolvimento das tropas nos tumultos, incêndios e saques, mas afirmou que o exército não interferiu nos conflitos porque não se espera que ele faça o papel de força policial.

Usbeques entrevistados pela Associated Press em Osh, segunda maior cidade do país, disseram que em apenas uma rua, homens quirguizes violentaram e bateram em mais de 10 mulheres e meninas usbeques, incluídas algumas mulheres grávidas e meninas de 12 anos.

Matlyuba Akramova mostrou aos jornalistas uma parente de 16 anos que parecia estar em estado de choque, e disse que ela se escondeu quando uma multidão de quirguizes invadiu a casa dela e espancou seu pai. Ela disse que quando a garota desceu as escadas para socorrer o pai, foi estuprada por quirguizes na frente dele. "O que eles fizeram a ela, nem animais fariam".

A pesquisadora Anna Neistat, também da Human Rights Watch, que está investigando a violência em Osh, disse que é difícil dizer quantos estupros aconteceram na cidade. "Eu documentei pelo menos um caso, no qual eu conversei com a mulher que foi estuprada", ela disse. "Com certeza, casos como esse aconteceram A questão é a escala".

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Já os integrantes da comunidade quirguiz negaram as acusações de brutalidade e acusaram os usbeques de terem estuprado mulheres quirguizes.

Testemunhas e especialistas dizem que muitos quirguizes foram mortos nos tumultos, mas a maioria das vítimas parecia ser de usbeques, que tradicionalmente são fazendeiros e comerciantes e falam uma linguagem turca. Os usbeques são mais prósperos que os quirguizes, os quais vem de uma tradição nômade.

Odinama Matkadyrovna, uma médica usbeque em Osh, disse que provavelmente aconteceram mais estupros que os casos denunciados, mas muitas vítimas estão relutantes em falar sobre a violência.

Líder conversa com Hillary

A líder do governo interino do Quirguistão, Roza Otunbayeva, conversou por telefone nesta quinta-feira com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, pedindo auxílio para recuperar o país.

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Um diplomata graduado dos Estados Unidos já partiu para Bishkek, onde deverá se reunir com Otunbayeva na sexta-feira. A Embaixada dos EUA em Bishkek disse que Washington já reservou US$ 10,3 milhões em ajuda de curto e médio prazo. O porta-voz do Departamento de Estado, P.J. Crowley, disse que mais de US$ 6,5 milhões desse total é para assistência humanitária imediata.

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