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François Legault, da coalização Quebec Avenir, foi o grande vencedor nas eleições regionais na província canadense de fala francesa | Christinne Muschi/Bloomberg
François Legault, da coalização Quebec Avenir, foi o grande vencedor nas eleições regionais na província canadense de fala francesa| Foto: Christinne Muschi/Bloomberg

O Parti Quebecois, fundado há meio século com o objetivo de separar o Quebec - uma província de fala francesa - do resto do Canadá, sofreu uma derrota humilhante nas eleições provinciais de segunda-feira, levantando dúvidas, inclusive, sobre a sobrevivência do partido e o futuro do movimento separatista. Ele conseguiu apenas 17% dos votos e conquistou apenas 9 assentos na Assembléia Nacional do Quebec, perdendo o status de partido oficial. O principal líder também perdeu em seu distrito de Montreal. 

A grande vencedora na votação de segunda-feira foi a coalizão Avenir Quebec (Futuro de Quebec, em francês), um partido de centro-direita fundado em 2011, que obteve 74 dos 125 assentos na assembleia, derrotando o atual Partido Liberal, que veio em um segundo distante. 

A coalizão é liderada por François Legault, ex-político do Parti Quebecois , ex-executivo de uma companhia aérea e que renunciou às intenções de secessão. Ele conduziu uma campanha populista, considerada sem brilho, que incluiu promessas de cortar impostos, frear a imigração e aumentar os gastos em saúde e educação. 

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Legault qualificou a vitória de seu partido como "histórica", pondo fim à batalha eleitoral entre os separatistas do Parti Quebecois e o Partido Liberal federalista que há muito tempo dominou a política na província de fala francesa, a segunda mais populosa do Canadá. "Há muitos quebequenses que deixaram de lado um debate que nos dividiu por 50 anos", disse o dirigente político a seus partidários nas comemorações da vitória.

Apesar de Legault ter dito que o lugar de Quebec permanece no Canadá, o político é considerado um nacionalista de Quebec que provavelmente renovará as reivindicações tradicionais por uma transferência de poderes do governo federal para a província. 

Ele prometeu reduzir a imigração e forçar os recém-chegados a aprender francês e passar por um "teste de valores" dentro de três anos ou enfrentar a expulsão. Isto é visto como uma ameaça sem sentido, já que o governo federal do Canadá é responsável por conceder residência permanente e cidadania. 

Partidos tradicionais perdem muito espaço

Para o Parti Quebecois, cuja popularidade esteve em alta nos anos 70 e 80, e cujo segundo referendo sobre independência em 1995 ficou perto da vitória, o resultado de segunda-feira não foi menos que catastrófico. O partido perdeu um referendo de separação em 1980. 

"Este é o pior resultado para o Parti Quebecois desde sua criação em 1968", disse Graham Fraser, professor visitante do Instituto para o Estudo do Canadá da McGill University e autor de uma história do partido. O partido apresentou candidatos pela primeira vez nas eleições provinciais de 1970 e conquistou 23% dos votos. O número se elevou para quase 50%, em 1981. Na segunda-feira, ele ficou um pouco acima de 17%. O partido se manteve no poder em 2014. 

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 O professor disse que o problema para o Parti Quebecois é que não conseguiu entusiasmar uma geração mais jovem. “Foi o partido da geração baby boomer", referindo-se à geração nascida entre o final da Segunda Guerra Mundial e a metade dos anos 60. 

Os moradores de Quebec foram influenciados pela ascensão do presidente Donald Trump, a experiência da Grã-Bretanha com o esforço fracassado do Brexit e da Catalunha de se separar da Espanha, diz Fraser, da McGill University. 

 O resultado também torna a vida mais difícil para o primeiro-ministro Justin Trudeau. Desde que assumiu o poder em 2015, seus colegas liberais perderam o poder nas três províncias mais populosas do Canadá - Ontário, Colúmbia Britânica e agora Quebec - e agora enfrentam a perspectiva de um relacionamento mais tenso com o Quebec. Mas Trudeau disse à imprensa que parabenizou o novo premiê do Quebec, e eles prometeram trabalhar juntos para construir uma economia mais forte e "um futuro melhor para todos nós". 

Novas gerações tem outras necessidades

Valérie-Anne Mahéo, cientista política da Universidade de Montreal, disse que os millenials – nascidos entre meados dos anos 80 e 90 - não veem mais as mesmas desigualdades sociais e econômicas entre falantes de francês e inglês em Quebec e que motivaram seus pais e avós a apoiar a ideia de um país separado. "Esta geração não vê a necessidade e a urgência do projeto de um Quebec soberano”, disse ela. 

No entanto, muitos jovens eleitores compareceram às eleições para votar no partido de esquerda Quebec Solidaire, que conquistou quase tantos votos e mais assentos na assembleia do que o Parti Quebecois. Ele promove a separação, mas coloca mais ênfase em sua campanha em questões como o meio ambiente. 

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O pesquisador Jean-Marc Leger disse que o resultado da eleição reflete o colapso dos partidos tradicionais de Quebec, que juntos conquistaram apenas 42% do total dos votos. "A maioria dos votou em novos partidos", disse Lege. 

E, enquanto admite que o futuro do Parti Quebecois é sombrio, Leger diz que o separatismo continuará a ser um fator relevante e que cerca de 35% do público ainda se sente fora do Canadá. O que mudou é que o Quebec Solidaire se tornou o novo porta-estandarte do movimento. "O separatismo ainda permanece. É uma história sem fim", disse o pesquisador.

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