Deputada dos EUA, Ilhan Omar | Foto: Brendan Smialowski/AFP| Foto:

A deputada Ilhan Omar está, mais uma vez, no centro de um confronto político com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

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Ela é uma das congressistas recém-eleitas a quem o republicano disse para voltar a seus países, "infestados com o crime, de onde vieram". Apesar de não ter citado nomes, a mensagem foi claramente direcionada a quatro deputadas com agendas progressistas: Omar, Alexadria Ocasio-Cortez,  Rashida Tlaib e Ayanna Pressley. Todas elas são cidadãs americanas e apenas Omar não nasceu nos Estados Unidos - ela é imigrante da Somália. O comentário de Trump foi amplamente criticado, dentro e fora dos Estados Unidos, e lhe rendeu uma moção de repúdio na Câmara dos Representantes e um pedido de impeachment que será avaliado pela Casa.

Na segunda-feira (15), Trump voltou a falar de Omar, dizendo que a deputada apoia a al-Qaeda, grupo terrorista responsável pelos ataques de 11 de setembro de 2001 - provavelmente uma menção distorcida sobre o que a deputada disse em 2013, durante uma entrevista a um canal de televisão de Minnesota. Na ocasião, ela falou, sorrindo, sobre a expressão vocal e corporal mais intensa e negativa de um de seus professores da faculdade ao falar o nome "al-Qaeda", quando perguntada sobre o uso dos nomes árabes para grupos terroristas e por que eles não eram traduzidos - o que não pode ser interpretado como elogio ou apoio ao grupo terrorista.

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Omar e o 11 de setembro

A rixa entre Omar e o presidente não terminou por aí. No mesmo discurso, na segunda-feira, Trump lembrou que Omar, ao se referir aos ataques terroristas do 11 de setembro, disse que "algumas pessoas fizeram alguma coisa".

A frase realmente foi dita por Omar durante um evento do Conselho pelas Relações Islâmico-Americanas (Cair, na sigla em inglês), em 23 de março deste ano, em que ela falava sobre a situação dos muçulmanos no país. “Durante demasiado tempo vivemos com o desconforto de sermos cidadãos de segunda e, sinceramente, estou farta disto e cada muçulmano neste país devia estar também”, afirmou.

A congressista continuou: “O Cair foi fundado depois do 11 de setembro porque eles reconheceram que algumas pessoas fizeram uma coisa e que todos nós começamos a perder acesso às nossas liberdades civis”. O Cair, na verdade, foi fundado em 1994.

O caso ganhou repercussão em meados de abril e virou uma briga entre republicanos e democratas. O tabloide americano New York Post chegou a publicar uma capa que trazia uma imagem do atentado de 11 de setembro com a manchete “Aqui está o seu ‘alguma coisa’”.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez coro às críticas e publicou um vídeo no seu perfil do Twitter, com imagens intercaladas do discurso de Omar e do atentado de 11 de setembro, acompanhado da frase “nós nunca esqueceremos”.

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Os democratas reagiram ao tuíte, acusando o presidente de "instrumentalizar o 11 de setembro" para criticar uma muçulmana. Omar emitiu um comunicado em que afirmava ter recebido mais ameaças de morte desde que o presidente tuitou o vídeo - no início de abril, um homem foi formalmente acusado por ter ligado para o gabinete de Omar e a ameaçado de morte.

Quem é Omar e quem a elegeu

Omar, hoje com 37 anos, nasceu na Somália, mas fugiu com a família para o Quênia como refugiada quando tinha 8 anos. Eles moraram em um campo de refugiados por quatro anos antes de serem reassentados em Minneapolis em 1997.

Ela começou sua carreira política gerenciando campanhas do conselho municipal e trabalhando como assessora sênior de políticos de Minnesota.

A primeira vitória eleitoral veio em 2016, quando ganhou um assento na Casa dos Representantes de Minnesota, desbancando o titular que ocupava a vaga havia 44 anos.

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A pouca experiência política não foi barreira para que Omar fosse eleita para o Congresso americano nas eleições de meio de mandato do ano passado, batendo sua adversária republicana, Jennifer Zielinski, com 78% dos votos.

A vitória fácil pode ser explicada pelo histórico da região que a elegeu. O 5º distrito de Minnesota, que inclui a capital Mineápolis e os condados de Anoka e Ramsey, é predominantemente democrata e desde 1961 não elege um republicano para a Casa dos Representantes – o último mandato de um republicano foi o de Walter Henry Judd, que terminou em janeiro de 1963.

Mas não é só isso. A região, em especial a capital do estado, é casa da maior comunidade somali dos Estados Unidos, estimada em mais de 150 mil imigrantes. Segundo o governo americano, o reassentamento de refugiados da Somália no país começou em 1990, depois do início da guerra civil da Somália.

Entre 2011 e 2014, a chegada de refugiados somali quase triplicou e desde então permaneceu em aproximadamente 9 mil por ano. Estima-se que o Minnesota abrigue cerca de 50 mil somalis ou descendentes somali.

Carregando o simbolismo de uma refugiada em uma campanha na qual a imigração estava no centro do debate e fazendo forte oposição ao presidente Trump, e com apoio maciço dos somalis, Omar derrotou cinco candidatos nas primárias democratas. Conseguiu uma grande margem sobre a segunda colocada, Margaret Kelliher, com 48% dos votos contra 30% da principal adversária.

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Durante seu discurso de vitória, ela criticou as medidas da administração Trump quanto à imigração, declarando, de forma desafiadora, que "aqui em Minnesota, não apenas recebemos imigrantes — nós os enviamos para Washington".

Recentemente a comunidade somali na capital de Minnesota ganhou a pecha de “capital do recrutamento terrorista dos Estados Unidos”.

Estatísticas do FBI (polícia federal dos EUA) mostram que, nos últimos 12 anos, 45 somalis deixaram a capital do estado para se juntar ao al-Shabab ou às bases do Estado Islâmico no Iraque ou na Síria. No ano passado, outros foram presos com a intenção de deixar o país para apoiar grupos terroristas. Embora o número seja pequeno, ele é superior ao de supostos terroristas que deixaram ou tentaram deixar o país provenientes de outras áreas dos EUA onde refugiados muçulmanos foram reassentados.

"Por mais de uma década, grupos terroristas islâmicos foram capazes de recrutar em Minnesota. Isto é, em parte, porque Minnesota tem uma grande população muçulmana comparada a outras partes dos EUA", disse Robin Simcox, especialista em terrorismo e segurança nacional da Heritage Foundation, à Fox News em fevereiro.

“No entanto, isso também ocorre porque tem havido pequenos segmentos da comunidade somali que têm dificuldades para se integrar nos EUA. O Al-Shabaab e o ISIS exploraram isso - em questões religiosas, culturais políticas e de identidade para oferecer uma alternativa atraente à democracia ocidental”.

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Outras polêmicas

Omar já esteve no centro de outras discussões na política americana por dar declarações consideradas antissemitas.

Em um tuíte de 2012, que ressurgiu este ano, a congressista disse que Israel tinha “hipnotizado o mundo”. “Que Alá desperte essas pessoas e ajude-os a ver os feitos malignos de Israel”, escreveu. Em janeiro deste ano ela se desculpou pela frase.

Já como congressista democrata, ela atacou o Comitê de Assuntos Públicos Americano-israelense (AIPAC), sugerindo que o grupo lobista paga políticos para adotar medidas pró-Israel e relembrando um clichê historicamente usado, a associação ao dinheiro, para perseguir judeus — os nazistas usaram deste expediente com frequência.

Os próprios democratas se posicionaram contra Omar naquela ocasião e posteriormente promoveram uma resolução contra “o discurso de ódio”. Pelosi disse que o comentário havia sido “profundamente ofensivo” e “antissemita”.

A congressista pediu desculpas publicamente. “Quando alguém me diz que ficou magoado por algo que eu disse, vou sempre ouvir e reconhecer essa dor”.

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No entanto, no mês seguinte, ela fez mais um comentário que não foi bem recebido.

“Sou lembrada todos os dias que sou antiamericana se não sou pró-Israel. Acho que isso é problemático e não estou sozinha”, disse Omar.

O presidente Donald Trump já pediu que ela renuncie ao cargo e disse que suas desculpas pelos comentários antissemitas são pouco convincentes.

Mas a reação à mais recente controvérsia, envolvendo o 11 de setembro, foi diferente: Omar não se desculpou e foi apoiada pelos democratas quando Trump divulgou o vídeo na sexta-feira.

“Obrigada por me apoiarem — contra uma administração que se candidatou com base [em um programa] para banir os muçulmanos deste país — na luta pela América que todos merecemos”.

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Nesta terça-feira, Trump respondeu dizendo que não se arrepende de ter compartilhado o vídeo e que a deputada é "extremamente antipatriótica e extremamente desrespeitosa com o nosso país".