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Quem espera encontrar um regime fechado, com agentes de segurança por todos os lados, se surpreende ao chegar à Venezuela. No aeroporto internacional Simón Bolívar, na Grande Caracas, assim que desembarca o visitante é assediado por um batalhão de pessoas que oferecem desde serviços para carregar bagagens até câmbio de dólares.

Enquanto aumentam as críticas sobre a presença opressiva do Estado na vida das pessoas, o que se observa no país é a falta de regulamentação de muitas atividades. O poder público demonstra ser ineficiente para organizar a sociedade. Para trabalhar de taxista basta ter um carro; os cambistas agem em todas as esquinas. O transporte coletivo da capital, com exceção do metrô e do sistema de metrobus – é caótico. Os ônibus estão caindo aos pedaços.

Essa desorganização retrata as dificuldades atuais enfrentadas por quem vive em um país que atravessou décadas sob governos corruptos e hoje vê as distâncias sociais e os radicalismos ideológicos aumentarem a cada dia.

A classe média e os empresários acusam o governo de impedir a livre iniciativa e o direito das pessoas de escolher seu próprio destino. As acusações são respaldadas por estudos de renomados especialistas das principais universidades do país, que demonstram o avanço das desapropriações de empresas dos mais variados setores e propriedades rurais. Paralelamente, há um crescimento vertiginoso da presença do Estado em todos os ramos de atividade econômica.

O governo, por seu lado, contrapõe com o aumento do número de universitários do país de 835 mil para 2,2 milhões em nove anos. Os dados positivos apresentados pela "revolução socialista" passam ainda pela educação fundamental, a saúde e o crescimento do PIB, que, apesar da queda nos dois últimos anos, ainda registra crescimento superior à média dos vizinhos sul-americanos em uma década.

Os dados dos críticos e dos governistas são muitos e argumentos não faltam. Cada lado sempre quer ter razão, ser dono da verdade. E é exatamente nesse ponto que a Venezuela mergulha em uma crise com potencial para arrasar o país.

Chavistas e oposicionistas não cedem. Enquanto o governo investe contra o que ele chama de "elite capitalista", os setores que se dizem democráticos confundem programas de cunho social com medidas socialistas, estatizantes. Há truculência dos dois lados, com vantagem para o governo, que detém o poder de Estado. Não há busca de acordo.

A principal vítima dessa disputa fratricida não poderia ser outra: a população. Há um ressentimento de classe visível nas ruas. As faixas da população de maior poder aquisitivo se fecham em seus redutos urbanizados, com seus paraísos de consumo nos shopping centers e carrões importados nas ruas, enquanto as multidões de pobres nas periferias das grandes cidades engrossam as fileiras da revolução socialista.

Durante os oito dias em que estive na Venezuela, pude observar a crescente tensão entre ricos e pobres, socialistas e capitalistas, defensores da livre iniciativa e partidários das nacionalizações.

E o governo põe combustível nessa fogueira.

A Venezuela precisa, urgentemente, encontrar o caminho da reconciliação. Do contrário, estão criadas as condições para a decadência irreversível daquela que já foi uma das nações mais desenvolvidas da América do Sul.

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