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Suas vítimas não o perdoaram, e seus partidários glorificam as lembranças de seu reinado: de Mossul a Nassiriyah passando por Tikrit, as reações dos iraquianos à condenação à morte do ex-presidente Saddam Hussein revelam a divisão que domina o país.

No entanto, além dos profundos antagonismos, outras declarações dão a impressão de que o ditador deposto já faz parte da história, antes até de seu enforcamento anunciado. O ex-ditador foi entregue nesta sexta-feira (29) à custódia do governo Iraquiano.

Na quinta-feira (28), um alto representante do governo americano afirmou que a morte de Saddam aconteceria no sábado (30). Em carta ao povo iraquiano, Saddam Hussein disse que subirá ao patíbulo "como um mártir".

"Sofremos durante 35 anos. Saddam Hussein cometeu muitos crimes e deve ser executado", considerou em Nassiriyah, no sul xiita, Mahmud Kanu, um aposentado de 65 anos.

Para o advogado Ismail Majid, de Mossul (norte), "matar Saddam Hussein é um dever. Mesmo se o julgamento dele foi injusto, ele matou milhares de inocentes que sequer tiveram direito a um processo".

Organizações de defesa dos direitos humanos criticam os dois julgamentos do ex-presidente iraquiano, considerando que eles não foram realizados conforme as normas internacionais.

No entanto, são logicamente os ex-partidários de Saddam Hussein que denunciam uma injustiça.

"A condenação à morte foi decidida pelos americanos, os iranianos e seus aliados. Isso não é justiça", lamentou Ihsan Abdullah, estudante de 22 anos que vive em Tikrit, o antigo feudo sunita do ex-ditador.

"Saddam Hussein nunca foi um ditador. Ele nada fez além de se defender contra os que queriam matá-lo", afirmou Abu Alaa, um comerciante da cidade, referindo-se ao atentado fracassado contra o comboio presidencial em 1982 em Dujail.

Um total de 148 aldeões xiitas foram executados em represália a este atentado, um massacre pelo qual Saddam Hussein foi condenado à morte, em 5 de novembro.

Desde agosto, o ex-ditador iraquiano também está sendo julgado por bombardeios químicos e a destruição de milhares de aldeias curdas em 1987-88, como parte da operação Anfal.

"Desejo muito a execução de Saddam Hussein, pois ele é o responsável por todos os problemas no Iraque. Porém, teria sido melhor depois do processo do caso Anfal", frisou Saman Mohammed, um funcionário curdo de Erbil.

Alguns antecipam eventuais conseqüências da execução do ex-presidente iraquiano sobre a situação da segurança no país.

Para Ali Abdul-Sahib, jurista de Kut, a segurança "está relacionada à execução de Saddam Hussein. Seu enforcamento acabará com as esperanças de seus últimos partidários e contribuirá para o retorno da estabilidade".

Este otimismo, porém, não é compartilhado por muitos de seus compatriotas, nem pelo exército americano.

Para a maior parte dos iraquianos, a execução de Saddam Hussein não teria qualquer impacto sobre seu dia-a-dia, em meio a uma violência que deixa, segundo a ONU, uma média de cem mortos por dia há seis meses.

"A morte dele não vai resolver os problemas do Iraque. A maioria dos iraquianos quer que ele morra, mas a situação atual está pior do que sob seu regime. Não posso ficar feliz", disse Ibrahim Yassin, 35 anos, que vive em Baaquba, palco de sangrentos confrontos inter-religiosos.

"Executá-lo ou deixá-lo vivo não é problema. O que é necessário hoje é salvar o país. Saddam Hussein faz agora parte da história", concluiu Muhanned Jaralla, um professor de 42 anos em Mossul.

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