Chefes de Estado e de Governo da Unasul inauguram a estátua de Néstor Kirchner| Foto: Eduardo Santillán TrujilloPresidência do Equado

O colombiano Yuri Chillán, chefe de facto da Unasul, apresentou sua carta de renúncia na terça-feira (31), trazendo à tona uma série de escândalos e a situação de penúria da instituição.

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A Unasul está sem secretário-geral, sem chefe de gabinete, tem apenas 2 de 5 diretores, conta com menos de 25% do necessário para cobrir seu orçamento e corre o risco de perder sua sede.

Desde o início do ano, a Unasul não fez nenhuma reunião significativa e os funcionários estão completamente ociosos, passam o dia na internet.

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Dos 48 funcionários, sobraram 27, os únicos ocupantes dos 19,5 mil metros quadrados de um prédio de cinco andares em Quito, no Equador.

A sede de US$ 43,5 milhões (R$ 160 milhões) foi doada pelo governo do Equador à Unasul, e agora o presidente equatoriano, Lenin Moreno, pede o prédio de volta. Só em manutenção, consome US$ 2 milhões (R$ 7,5 milhões) por ano. O presidente eleito da Colômbia, Iván Duque, anunciou que vai retirar o país do órgão.

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A Unasul foi criada em 2008 pelos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez (Venezuela) e Néstor Kirchner (Argentina). O objetivo era aumentar a integração na região e funcionar como órgão regional sem influência dos EUA, que tem presença na OEA (Organização dos Estados Americanos) e na Alca (Área de Livre Comércio das Américas). A Unasul também visava integrar políticas entre os países em setores como energia, indústria, desigualdade social e erradicação do analfabetismo.

A crise começou em 2016, quando Venezuela, Equador e Bolívia bloquearam a nomeação do embaixador argentino José Octávio Bordón para substituir o então secretário-geral, Ernesto Samper. A Venezuela argumenta que o indicado precisaria ser um ex-presidente ou ex-chanceler.

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Como a decisão exige consenso, a Unasul está sem secretário-geral desde janeiro de 2017. O chefe de gabinete Yuri Chillán vem funcionando como chefe de facto, numa gestão cercada de denúncias. Foi acusado pelos diretores Pedro Silva Barros e David Álvarez de assédio sexual e moral e de mau uso de recursos em várias cartas enviadas aos governos.

Em sua carta de renúncia, Chillán diz que "o ambiente interno se tornou tóxico" e acusa Silva Barros e Álvarez de "calúnia e difamação". À reportagem Chillán negou as acusações de assédio e disse estar processando os dois.

Brasil não pretende pagar suas dívidas com a Unasul

O governo brasileiro paga uma cota de US$ 4 milhões (R$ 15 milhões) por ano à Unasul, mas está devendo US$ 12,5 milhões (R$ 47 milhões).

Em abril, Brasil, Argentina, Paraguai, Colômbia, Chile e Peru suspenderam sua participação e seus pagamentos à Unasul por causa do impasse sobre o novo secretário-geral.

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Em carta de junho, Chillán afirmava que, caso a Unasul não recebesse recursos até 30 de julho, pararia de fazer todos pagamentos. Do orçamento de US$ 9,6 milhões de 2018, só tinha recebido US$ 223 mil. Nesta quarta-feira (1º), a Venezuela pagou US$ 2,3 milhões, que garantem a sobrevivência da Unasul até o fim de 2018.

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"É um despropósito gastar dinheiro na Unasul, que não está fazendo nada", diz o diretor Álvarez, que renunciou em julho, em protesto contra Chillán.

O governo brasileiro não pretende pagar suas dívidas e culpa a Venezuela pela paralisia. Mas não cogita se retirar na Unasul.

"Precisamos de um órgão regional sul-americano, o Brasil não quer que a Unasul desapareça", diz Paulo Estivallet, subsecretário-geral de América Latina do Itamaraty. "Mas, como está, não dá para continuar."

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"A renúncia é consequência da crise criada pelos países; o Brasil está ausente e tomou partido do grupo de Lima", disse Samper à reportagem.

"A crise é consequência da omissão brasileira. Os vizinhos esperam o protagonismo do Brasil a partir de 2019, quando exerceremos a presidência do bloco. Seja para fortalecê-lo, seja para fechá-lo", diz Barros, que deixou a Unasul na semana passada.