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O ministro russo Sergei Kravtsov afirmou que a educação na Ucrânia “deve ser corrigida”, ou seja: transmitir somente a visão de Putin sobre a relação entre os dois países
O ministro russo Sergei Kravtsov afirmou que a educação na Ucrânia “deve ser corrigida”, ou seja: transmitir somente a visão de Putin sobre a relação entre os dois países| Foto: Wikimedia Commons

Nesta quarta-feira (24), completam-se seis meses do início da guerra na Ucrânia. Como a propaganda e as narrativas durante um conflito militar em muitos casos são tão valorizadas quanto as vitórias no campo de batalha, a Rússia acelera seus esforços para um processo de aculturação dos territórios ocupados.

Nas regiões que ocupa no leste e no sul da Ucrânia, o Kremlin adota uma estratégia radical de russificação: estabelece autoridades de ocupação locais fieis a Moscou, impõe o rublo como moeda local, distribui passaportes russos, obriga as escolas a seguir o currículo russo e faz muita propaganda. A etapa final pode ser a realização de referendos para anexação dessas áreas à Rússia, como o governo de Vladimir Putin já fez na Crimeia em 2014.

No segmento da educação dessa estratégia, o que se busca é ensinar às crianças ucranianas a visão de mundo russa a respeito das relações entre o país e os ucranianos: pátrias que seriam “irmãs”, basicamente a mesma coisa, e que a Ucrânia moderna seria uma “invenção” – argumento que Putin utilizou ao reconhecer as repúblicas de Luhansk e Donetsk em fevereiro e prometer a ambas proteção, dias antes da invasão à Ucrânia.

Além dessas regiões, a estratégia está sendo implementada em Kherson e Zaporizhzhia, onde Moscou também planeja realizar referendos de adesão.

No final de junho, o ministro da Educação da Rússia, Sergei Kravtsov, declarou que a educação na Ucrânia “deve ser corrigida”. “A tarefa principal é contar aos alunos nas escolas toda a verdade, a verdade sobre nossos povos irmãos, sobre conquistas e vitórias comuns”, justificou.

Segundo o Moscow Times, professores russos estão recebendo ofertas de salários até nove vezes maiores do que ganham para dar aulas em escolas nas regiões ocupadas da Ucrânia.

Entretanto, Daniil Ken, presidente do sindicato independente russo Aliança dos Professores, ligado ao opositor Alexei Navalny, disse que não se trata de generosidade, mas sim porque o Kremlin tem enfrentado problemas para convencer professores a se deslocarem para regiões de conflito – de acordo com o sindicalista, a procura por vagas no leste da Ucrânia permanece baixa.

“Espero que algumas pessoas tenham um entendimento moral de que ir para os territórios ocupados é errado, mas também há uma avaliação racional de que há riscos”, afirmou Ken à emissora de TV polonesa Belsat.

Georgy Grigoriyev, professor de língua e literatura russas, química e biologia, disse ao Washington Post que aceitou dar aulas nas áreas ocupadas por causa do salário. Ele estimou ao jornal dos Estados Unidos que deve ficar na Ucrânia por pelo menos um ano.

“Provavelmente vou comprar um apartamento lá. Eu não tenho nada a perder”, justificou. “E eu pensei: 'Por que não?'. Sou divorciado, meus filhos já são adultos, então eu poderia trabalhar lá, especialmente por um salário tão bom.”

Em contrapartida, professores que ensinavam o currículo ucraniano estão sendo afastados quando não concordam em ministrar o conteúdo imposto por Moscou.

Uma professora de literatura ucraniana disse ao Financial Times que “traidores [pró-Rússia], que pareciam estar esperando por isso há muito tempo, de repente se tornaram os chefes”. O diretor da escola onde ela lecionava foi substituído depois de se recusar a introduzir o currículo russo. A própria professora foi afastada.

“Esta é a nossa rotina diária, observar os acontecimentos ao nosso redor ao mesmo tempo em que nos forçamos a viver normalmente”, lamentou.

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