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A aprovação de uma série de leis restritivas, que vão desde o controle de conteúdos na internet ao aumento das multas aplicadas em casos de difamação e caracterização de organizações patrocinadas por fundos internacionais como "agentes estrangeiros", deixou no ar a percepção de que o governo russo pode estar se armando contra uma nova onda de protestos durante a estação do outono. Esta é a avaliação do vice-presidente do Centro Carnegie de Moscou, Nikolai Petrov, feita ao Globo, por telefone. Segundo ele, as manifestações não acabaram e devem voltar às ruas depois das férias no país.

"Este seria um conjunto de medidas que prepararia uma mudança no sistema político em direção a mais controle. As autoridades estão preocupadas com a retomada dos protestos durante o outono. Houve uma pausa agora em função do período de férias, mas existe a possibilidade de as manifestações serem inclusive disseminadas para o interior do país a partir de setembro", disse Petrov.

A expectativa seria de uma nova onda de protestos econômicos e sociais, sobretudo em função da série de reformas que começaram a ser feitas no país. Desde dezembro do ano passado, após uma série de denúncias de fraudes na eleição parlamentar que renovou a Duma, como é chamada a câmara baixa do parlamento, manifestações cada vez mais numerosas tomaram as ruas das grandes cidades da Rússia. Para o especialista, o governo estaria agindo preventivamente, deixando uma espécie de ameaça no ar, mostrando que pode "apertar os parafusos", ou seja, tornar o ambiente ainda mais restritivo.

"É uma tradição soviética ter leis duras, que até podem ser infligidas aqui e acolá pela maioria, mas que podem ser usadas de desculpa para punir quem o governo achar necessário", explicou.

Mais do que lidar com os motivos dos protestos, segundo ele, o governo está atacando as suas consequências, querendo simplesmente tirar as pessoas das ruas. Segundo ele, os novos rumos do sistema político devem ficar mais claros após as eleições regionais de outubro. "É errado. Isso não vai diminuir os protestos", afirmou o especialista.

Com o controle das televisões pelo Estado ou por grupos ligados a ele, a internet se tornou um dos principais e mais eficientes canais da oposição na Rússia durante os anos Putin. Mas até agora não havia restrições oficiais contra os conteúdos nas redes, embora o governo nunca tenha deixado de monitorá-los de perto.

Autoridades negam censura

A eleição parlamentar de 2007 foi marcada por denúncias feitas por internautas nas redes sociais ou em blogs. O movimento se repetiu no pleito realizado em dezembro do ano passado. Mas, desta vez, o próprio governo tentou tirar proveito da rede e, em uma força-tarefa sem precedentes, instalou câmeras pelas principais zonas eleitorais do país para transmitir a votação a milhares de internautas e observadores e, assim, tentar garantir a lisura do processo.

No entanto, novas acusações de fraudes proliferaram e acabaram dando origem a uma série de protestos na capital, convocados, em sua maioria, pela rede. Isso só fez aumentar os boatos de que a Rússia acabaria adotando limites ao uso da internet, como se faz hoje na China, onde diversos sites têm seus acessos proibidos.

As autoridades negam que a lei aprovada na Duma seja uma forma de censura. Alegam que é uma forma de proteção às crianças contra conteúdos como a pedofilia, por exemplo.

"Este é o pretexto. Mas o texto está escrito de maneira que dá ao governo o poder decidir sozinho, sem a ajuda da Justiça, quem colocará na "lista negra"."

Quando assumiu a presidência em 2008, Dmitri Medevedev, hoje primeiro-ministro, mudou a relação das instituições governamentais com a internet. Ele e Putin, que um ano antes havia admitido jamais ter mandado um email, passaram a ter página na internet e até blog. Medvedev também deixou claro nestes últimos anos que é assíduo em redes sociais.

A Rússia é um dos países que apresentam o maior crescimento do número de internautas do mundo. Dados apresentados recentemente pelo ministro das Comunicações, Igor Shchegoley, indicam um aumento de 5,4% no número de usuários em 2011, que chegaram a 70 milhões de pessoas. Ele estima que, em 2013, já sejam 90 milhões de internautas. Estima-se que a internet já seja a principal mídia utilizada pela população com menos de 34 anos, tendo passado à frente da televisão. O número de pessoas que usam a rede diariamente cresceu 22% no ano passado, chegando a 44,3 milhões de russos.

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