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Desde 2013, aumentaram as cobranças sobre o modo como o PT vem governando o país. Denúncias de corrupção só acirraram a situação. | Marcelo Camargo/Agência Brasil/Fotos Públicas
Desde 2013, aumentaram as cobranças sobre o modo como o PT vem governando o país. Denúncias de corrupção só acirraram a situação.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Fotos Públicas

Derrota eleitoral na Argentina, reviravolta no Legislativo venezuelano e, mais recentemente, tensão em um referendo para postergar para um quarto mandato o governo de Evo Morales na Bolívia. Uma série de derrotas ou quase derrotas impostas nas urnas desde novembro de 2015 pela sociedade acende um sinal amarelo na esquerda política da América do Sul.

Desde meados dos anos 90 vários países latino-americanos elegeram partidos de esquerda, que permaneceram por longo tempo no poder. Mas, crises econômicas e denúncias de corrupção têm colocado em xeque a continuidade desses projetos políticos. Além disso, a fragilidade das instituições que deveriam fiscalizar o governo, como Ministério Público, Tribunal de Contas e até a mídia, contribui para a queda da confiança da população desses países.

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“Ter uma elite política dominando o cenário por muito tempo gera um risco e fragiliza os institutos de controle – especialmente na Bolívia e Venezuela. Ficam muito dóceis em questões de corrupção e desvios. Isso porque em muitos desses órgãos, que são colegiados, cabe ao Executivo indicar os membros”, afirma o cientista político da Fundação Getúlio Vargas, Carlos Pereira, especialista no assunto.

Somado a isso, Pereira explica que mesmo com avanços sociais e econômicos trazidos por esses governos, a população sinaliza claramente a necessidade de outros avanços e também da necessidade de alternância de poder. “A despeito de tudo isso, a sociedade percebe o risco de manter a mesma elite no poder. É preciso também ter outros avanços”, diz.

Uma das explicações para a atual situação deve-se, segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP) Kai Enno Lehman, especialista em relações internacionais, ao fato de que grande parte dos partidos de esquerda terem perdido a oportunidade de mudarem o sistema político. “A esquerda fez parte do sistema. Não mudou o sistema político. A corrupção não é de um ou outro partido, está incluída no sistema”, afirma.

O pesquisador ressalta ainda que a atual fragilidade econômica contribui decisivamente para a perda de espaço dos partidos de esquerda. “Hoje vários governos de esquerda têm a economia fragilizada. A reação natural nesse cenário é perder uma eleição”, diz.

Reviravolta

Diante deste cenário, Lehman aponta que a América do Sul caminha para uma reviravolta com o retorno de governos tidos como mais conservadores. Atualmente, seis países do continente (veja no gráfico) possuem presidentes de esquerda: Equador, Chile, Brasil, Venezuela, Uruguai e Bolívia. A Argentina, depois de 12 anos, voltou no ano passado a eleger um candidato de centro-direita – o empresário Mauricio Macri.

“A esquerda surgiu como algo novo que visava representar uma classe social, uma fatia da população, que não era representada. A dúvida é o que vai acontecer com a população mais pobre. Se serão esquecidos, ou terão politicas especificas para reduzir a desigualdade, que ajuda a economia crescer, independente o partido”, assinala Lehman.

Alternância de poder faz parte do jogo político

A ida e vinda de políticos mais à direita ou à esquerda deve ser encarada como algo natural no processo democrático. O professor da Universidade de São Paulo (USP) Kai Enno Lehman, de relações internacionais, enfatiza que a democracia depende da alternância de poder, que, por sua vez, gera a tensão de ideias. “O debate é essencial para se encontrar alternativas políticas. Apenas uma linha ideológica não traz isso. Na Europa e Estados Unidos a alternância sempre existe. Faz parte do jogo”, ressalta.

Na América do Sul, dos seis países que possuem hoje governos de esquerda, o único que teve transição recente foi o Chile. A nação elegeu Michelle Bachelet em 2006 e em 2010 foi eleito Sebastián Piñera, que pertence à direita. Em 2014, Bachelet voltou a vencer o pleito.

O cientista político Carlos Pereira, que leciona na FGV, aponta, inclusive, que Chile e Uruguai são os países de esquerda com as instituições políticas mais sólidas – embora a esquerda esteja no país uruguaio três mandatos seguidos. “As instituições nesses países funcionam de forma mais madura. O Brasil vive efervescência democrática com instituições que atualmente atuam independentes do Executivo”, ressalta.

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