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Devido ao conflito armado atual entre Israel e o grupo Hamas — que domina Gaza — algumas pessoas têm manifestado opiniões em artigos na imprensa em geral, criticando a desproporcionalidade israelense ou com acusações exacerbadas de genocídio.

O governo brasileiro emitiu nota censurando Israel pelo "uso de força desproporcional", com muitas mortes, inclusive de crianças, e decidiu chamar seu embaixador para consultas, dando a entender que pode romper relações. A comunidade israelita do Paraná, formada por brasileiros judeus, lamenta, profundamente, que se esteja importando para o Brasil o conflito do Oriente Médio, uma vez que aqui sempre conviveram — e continuam coexistindo — em paz, judeus e árabes.

Nos jornais e na TV há muita desinformação sobre palestinos e israelenses. Nas redes sociais cresce a agressividade não só contra Israel, mas também contra os judeus. Foram registradas manifestações que deixam de ser democráticas com o uso de métodos e palavras de ordem que remetem ao nazismo. O governo brasileiro, com essa sua atitude, pode acabar incentivando os mais exaltados à violência e à desordem social.

Quanto à proporcionalidade, esse princípio efetivamente não consta, como se alega, da Carta das Nações, na parte que regula o direito de defesa dos países. São as Convenções de Genebra de 1949 e seus Protocolos Adicionais que tratam das leis de guerra e estabelecem as normas mais relevantes que limitam a barbárie nos conflitos e protegem pessoas que não participam dos combates, civis entre eles.

A proporcionalidade é conceito importante no Direito. Há os que procuram estendê-la aos conflitos militares, porém isso é impraticável. Embora exista o conceito de Guerra Justa, nenhuma guerra é algo normal e o Direito só se aplica à normalidade. Thomas Morus, no século XVI, em seu livro Utopia, concebe a guerra apenas com finalidade defensiva, mas acrescenta: "na realidade nenhuma guerra que se conheça na história, no presente ou no futuro que se possa prever foi justa". Os críticos de Israel insistem em que o país deva usar da proporcionalidade no combate. Se assim fizesse, o número de vítimas civis seria muito maior.

Os terroristas do Hamas, de 12 de junho a 7 de julho, véspera da operação militar, dispararam mais de 400 mísseis, indiscriminadamente, sobre a população civil de Israel. Desde 2007, lançaram 14 mil foguetes. A reação israelense tem sido de forma a evitar a população civil, e avisando-a previamente por folhetos e chamadas telefônicas. O conflito é com o Hamas, não com os palestinos.

Por que morrem mais palestinos do que israelenses? É simples. Israel investiu muito na construção de abrigos antimísseis e no Iron Dome (Cúpula de Ferro), um moderno sistema de defesa que destrói mísseis em pleno ar. A estratégia do Hamas é diferente. Os lançadores dos foguetes e os depósitos de armas estão em áreas densamente povoadas, escolas, mesquitas, hospitais, residências particulares, obrigando civis, entre eles crianças, a se transformarem em escudos humanos, com ameaças de retaliação caso deixem o local, atos considerados crimes de guerra. O Hamas espera, assim, que Israel não ataque. É como um marginal que mantém um refém com uma arma na cabeça contando que a polícia tenha escrúpulos e não atire nele.

Quanto à radicalizada expressão política "genocídio", para nós, judeus, uma única vida perdida é deplorável, mas infelizmente a realidade não é esta. Os indignados que protestam pelas mortes palestinas, hipocritamente, nunca se manifestaram contra os verdadeiros genocídios, tal como ocorre hoje na Síria, onde 180 mil muçulmanos morreram em pouco mais de três anos, ou as 200 mil mortes de 2011 na Tunísia, Argélia, Líbia e Egito na "Primavera Árabe", ou os 800 mil no Iraque, ou ainda um milhão no Sudão desde 1983 e a matança indiscriminada de cristãos pelo grupo terrorista Boko Haram na Nigéria.

Szyja Lorber, professor de Geografia, História e Estudos Sociais, jornalista e especialista em conflitos do Oriente Médio

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