Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

A descoberta de um estranho fenômeno físico que ocorre em escala ridiculamente pequena, mas abriu as portas para o desenvolvimento de discos rígidos cada vez mais capazes e compactos para computadores deu ao francês Albert Fert, da Universidade do Sul de Paris, e ao alemão Peter Grünberg, do Centro de Pesquisas de Jülich, na Alemanha, o Prêmio Nobel em Física de 2007. O anúncio foi feito pouco depois das 7h (horário de Brasília) desta terça-feira (9), pela Academia Real de Ciências da Suécia, instituição responsável pela eleição e distribuição dos prêmios batizados em homenagem a Alfred Nobel.

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Apesar dessa cara de mera esquisitice física, a magnetorresistência gigante, descoberta independentemente pelos grupos dos dois pesquisadores em 1988, não tardou a chegar às tecnologias do dia-a-dia. Os dois pesquisadores premiados notaram, naquela ocasião, que mudanças sutis no campo magnético, em escala microscópica, produziam grandes diferenças na resistência elétrica (ou seja, na capacidade de conduzir eletricidade) de certos materiais.

Inocente útil

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Não demorou para que os cientistas percebessem a enorme utilidade desse fenômeno em sistemas eletrônicos. Essa resistência gigante induzida por magnetismo era uma forma excepcional de "ler" dados armazenados em discos rígidos de computador. Afinal, os zeros e uns que compõem a linguagem binária das máquinas precisam ser convertidos em impulsos elétricos para serem processados pelo sistema. Num disco rígido (ou HD, na sigla inglesa, como também é conhecido), esses dígitos são armazenados como pequenos campos magnetizados.

Assim sendo, nada como um esquema de pequenina interação magnética com resultados elétricos intensos para recuperar com precisão informações armazenadas de forma compacta. Quanto maior for a diferença entre o tamanho do campo magnético e a mudança das propriedades elétricas, menor precisa ser a unidade magnetizada no disco rígido para conter um bit.

O primeiro sistema de leitura de dados com GMR (sigla inglesa para a magnetorresistência gigante) surgiu em 1997, mas logo esse virou a tecnologia padrão. A revolução ajudou a manter em vigor a famosa Lei de Moore.

Concebida em 1965 pelo co-fundador da Intel, Gordon Moore, ela dizia que a capacidade dos processadores dobrava a cada 18 meses. Isso equivalia a dizer que o tamanho das peças que compõem os chips e dispositivos de memória caía pela metade neste período. Ocorre que, em meados dos anos 1990, esse ritmo já começava a diminuir. Foi quando entrou em cena a magnetorresistência gigante, que deu vigor renovado aos fabricantes de computadores e manteve o ritmo de evolução.

Embora hoje já tenham surgido versões mais sofisticadas de leitores de disco rígido, elas são basicamente aperfeiçoamentos desse sistema original, de 1997.

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Mais à frente do que atrás

O fenômeno não está limitado apenas ao uso em discos rígidos. Diversos sensores para automóveis, que participam de sistemas de freios ABS e de controle de funcionamento do motor, estão sendo desenvolvidos. Também estão em fase de criação sensores para detectar a posição das engrenagens em caixas de câmbio, dispensando os esquemas hidráulicos das transmissões automáticas.

Os cientistas que trabalham com a magnetorresistência gigante acham que ainda vem muito mais por aí, em termos de resultados tecnológicos. De toda forma, a comissão do Nobel decidiu que o que já surgiu é suficiente para elevar Fert e Grünberg ao panteão dos homens e mulheres que receberam a famosa premiação. Cada um deles leva para casa 5 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 750 mil).

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