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Curitiba – Os últimos 16 anos pós-ditadura de Augusto Pinochet representaram uma guinada de rumo político para os chilenos. Ricardo Lagos, que deixará o governo com 65% de aprovação popular, provavelmente terá uma sucessora, a candidata governista Michelle Bachelet, que está em primeiro lugar nas pesquisas, com 41% das intenções de votos. Se o número for este, haverá segundo turno, um cenário ainda favorável a Bachelet.

A provável vitória indica o desejo de continuidade das políticas da era Lagos, aponta o chileno Francisco Rojas, doutor em Ciências Políticas pela Universidade de Utrecht, na Holanda, e secretário-geral da Flacso (Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais), com matriz na Costa Rica. Por telefone, Rojas conversou com a reportagem da Gazeta do Povo para analisar a eleição presidencial no Chile.

Gazeta do Povo – Como o senhor analisa o cenário eleitoral chileno?Francisco Rojas – É o mais previsível da América Latina, com a candidata governista Michelle Bachelet na frente, podendo vencer já no primeiro turno. Mas como há quatro candidatos concorrendo, a tendência é de dispersão de votos. A oposição de direita apresentou dois candidatos: Joaquín Lavín, da União Democrática Independente (UDI), que é candidato presidencial pela terceira vez, e Sebástian Piñera, da Renovação Nacional, partido mais antigo do país que representa a direita mais tradicional, de origem agrária. O quarto candidato, Tomás Hirsch, representa a esquerda, que tradicionalmente conquista cerca de 5% dos votos na eleição presidencial.

Em setembro, Bachelet tinha 48% das intenções de voto. Agora está com aproximadamente 41%. O que explica a queda?Ela epresenta um fenômeno, os chilenos a ‘impuseram’ como candidata, mais do que o partido, no momento em que só havia a candidatura de Lavín, que já tinha propostas e intenções de voto conhecidas. Mas Piñera tem uma proposta populista que soa bem ao público, especialmente na tevê. É um candidato de grande empatia que atrai eleitores.

Ainda assim o senhor aposta na vitória de Bachelet? O que se espera de seu governo?Será uma grande surpresa se ela não se tornar presidente. Bachelet seria a primeira presidente mulher do Chile e eleita por voto popular na América Latina. A candidata tem compromisso com a democracia e com os problemas sociais. Dentre suas propostas sociais, está a de assegurar vagas em creches para que as mães possam trabalhar sem se preocupar. Outra preocupação, esta comum a todos os candidatos, é como desenvolver políticas para pequenas e médias empresas, que garantem de 6 a 7 empregos em média. É preciso fortalecê-las. O desafio maior será o sistema previdenciário, que precisa de reforma. No campo da economia, Bachelet deve reafirmar as políticas de Lagos, que trouxe avanços na infra-estrutura para exportações.

Os chilenos estão contentes com a situação atual do país?O presidente Ricardo Lagos tem aproximadamente 65% de aprovação. Os chilenos estão contentes com o tipo de governo de Lagos, que é a continuação dos governos do movimento pela democracia pós-Pinochet. A pobreza foi reduzida pela metade, de 40% para 18%, em 16 anos de governos democráticos. O Chile é um dos países menos desiguais da América Latina. No entanto, o povo quer mais postos de trabalho. O desemprego hoje é de 8% da população economicamente ativa. É preciso, principalmente, desenvolver políticas especiais para os setores mais vulneráveis, como por exemplo, os jovens, que têm mais dificuldade de encontrar trabalho.

O novo governo trará mudanças com relação ao Mercosul?Bachelet tem afirmado que a opção latino-americana do Chile é bastante importante, que o país tem responsabilidade com os vizinhos e cresce à medida em que crescem os países da região. O governo de Bachelet terá um sotaque latino-americano importante. O que não significa negligenciar outras relações comerciais. O Chile fechou acordos recentemente com a China, que trará uma grande abertura comercial, e os próximos serão com Índia e Japão. Mas isso sem deixar a perspectiva latino-americana de lado. A presença da esposa de Kirchner, Cristina, no Chile durante a campanha de Bachelet revelou uma empatia e sintonia com Argentina e Brasil, como sócios privilegiados do Mercosul. O Chile tem tarifas iguais para todos os produtos, em torno de 6%, enquanto o Mercosul pratica taxas diferenciadas. Isso dificulta a adesão do país ao bloco como membro pleno.

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