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91 ativistas foram embora

Estima-se que pelo menos 91 ativistas deixaram Deir ez-Zor desde o avanço dos extremistas e quatro juraram lealdade ao EI perante a impossibilidade de fugir. Os radicais criaram campos de treinamento para menores e impuseram o "niqab" (véu que tampa todo o corpo, menos os olhos) às mulheres. Eles também paralisaram qualquer projeto agrícola, de educação ou saúde nas partes do território que estão em seu poder.

Os ativistas sírios não contam com mais do que suas próprias palavras e o telefone celular para denunciar os abusos do Estado Islâmico (EI), mas, apesar dos riscos iminentes, esses cidadãos não desistem.

Sobre os 16 membros da organização "Al Raqqah Está Sendo Massacrada em Silêncio" pende uma fatwa, o édito islâmico dos radicais, que os condenaram a morrer após acusá-los de "apostasia" por trabalhar contra o EI.

Um desses membros, Abu Mohammed, fugiu há semanas da província de Al Raqqah, reduto dos extremistas na Síria, por temor de ser detido.

"Escapei para a Turquia porque fui descoberto pelo EI. Um amigo me avisou e disse para eu fugir porque iam revistar minha casa. Dois dias depois, entraram em meu domicílio", explicou pela internet Abu Mohammed, que também não se sente a salvo no país de amparo porque, assegura, "o EI também opera aqui".

Os ativistas de seu grupo, que começou a funcionar em abril, usam nomes falsos e 12 deles trabalham distribuídos em distintas áreas da província de Al Raqqah.

Ali, elaboram notícias e fazem fotos e vídeos com seus telefones celulares para documentar os abusos cometidos pelo EI e chamar a atenção sobre a situação humanitária, que depois publicam na internet via Facebook, Twitter e em seu próprio site.

Além de contar com essa rede de "correspondentes", o grupo tem fontes dentro do EI, sobre as quais Abu Mohammed se recusa a oferecer algum detalhe.

Equipe

Para esses ativistas, trabalhar em equipe é a melhor forma de se proteger dos radicais, embora isso não diminua o perigo.

"No passado, perdemos um dos nossos que foi capturado em um posto de controle [do EI]. Ele ficou detido por dois meses e depois o executaram", lembrou.

Um erro pode ser fatal em Al Raqqah, onde, segundo Abu Mohammed, o EI dispõe de espiões que são recompensados com dinheiro, carros e "poder", além de proteção.

Longe estão os tempos em que os agora ativistas eram estudantes universitários com sonhos ou empregos no setor privado.

O início dos protestos contra o regime de Bashar al-Assad, em março de 2011, os levou a militar em favor da oposição e, após a intromissão do EI em suas vidas diárias, dedicam seu tempo a denunciar as atrocidades cometidas pelo grupo.

Al Raqqah é a única capital provincial na Síria sob poder dos extremistas, que proclamaram um califado no território sírio e no iraquiano em junho.

Uma trajetória similar seguiram os 12 membros de "Deir ez-Zor sob o Fogo", outro grupo de ativistas presente na província de mesmo nome, entre os quais há antigos universitários, médicos, engenheiros e agricultores.

Seu diretor, Wael al Omar, detalhou pela internet que tem desdobrados oito "correspondentes" em zonas que estão sob o domínio do EI.

O grupo também recorre ao material de "jornalistas cidadãos", "que são algo típico da revolução síria", sempre e quando cumprem padrões de "clareza e precisão" nas fotografias e nos vídeos, assim como de confiabilidade.

Apesar de o risco já existir quando o conflito em Deir ez-Zor se limitava à luta entre os rebeldes sírios e as forças do governo, com a chegada do Estado Islâmico "foi multiplicado em dezenas de vezes".

Essa província foi tomada em grande parte pelos radicais islâmicos em julho; só alguns bairros e o aeroporto escaparam do regime.

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