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No início de 2016, o governo da então presidente sul-coreana Park Geun-hye ordenou a paralisação de todos os projetos conjuntos com a Coreia do Norte. | STRAFP
No início de 2016, o governo da então presidente sul-coreana Park Geun-hye ordenou a paralisação de todos os projetos conjuntos com a Coreia do Norte.| Foto: STRAFP

A tensão que envolve a península Coreana, em curva crescente desde o ano passado, trava projetos de cooperação entre as duas Coreias.

Os contatos com a Coreia do Norte estão suspensos desde fevereiro de 2016, quando o governo da então presidente sul-coreana Park Geun-hye ordenou a paralisação de todos os projetos conjuntos, incluindo o fechamento do complexo industrial de Kaesong. Nele, operários do norte trabalhavam para empresas do sul.

Em 2015, último ano completo de funcionamento, o complexo respondeu por 99,6% dos US$ 2,7 bilhões de comércio entre Seul e Pyongyang. De janeiro a julho de 2017, as trocas entre ambos foram de apenas US$ 730 mil.

Um dos projetos conjuntos, estabelecido em 2007, envolvia a exploração de recursos subterrâneos na Coreia do Norte, que poderia ajudar a demanda do sul por ferro e magnésio -Seul importa 100% do que consome desses dois minérios.

Em contrapartida, o sul enviaria US$ 80 mil em sapatos e produtos têxteis para Pyongyang. Essa parte foi concluída, entre 2007 e 2008.

“Antigamente, a Coreia do Sul só mandava. Esse foi o primeiro projeto em que o norte também ajudava”, afirmou à Folha Lee Byeong-do, da Associação de Apoio e Cooperação ao Intercâmbio da Coreia do Sul-Norte.

Palácio

Entre os séculos 10 e 14, o palácio Manwoldae abrigou a família real da dinastia Goryeo, cujo reino unificou a península Coreana e deu origem à palavra Coreia. O palácio foi destruído por inimigos mongóis por volta de 1350 e hoje seus resquícios encontram-se do lado norte-coreano, próximo à cidade de Kaesong.

O projeto de escavação começou em 2007, dois anos após uma assembleia de historiadores das duas Coreias elegê-lo como o patrimônio norte-coreano a ser estudado e restaurado para inscrevê-lo na lista da Unesco - feito atingido em 2013.

Entre as relíquias encontradas estão tipos metálicos usados para imprimir publicações no século 13, 200 anos antes do alemão Johannes Gutenberg usar tipos móveis.

O historiador Ahn Byung-woo, 63, conta que os pesquisadores do sul e do norte se encontravam na escavação durante cerca de dois meses por ano. Em 2015, esse período chegou a seis meses, e havia o plano de ficar em Manwoldae o ano inteiro em 2016 --algo que não se concretizou devido à suspensão por Seul dos projetos intercoreanos em fevereiro. Segundo Ahn, à época Pyongyang desejava manter a parceria.

Em junho deste ano, o Ministério de Unificação autorizou que o conselho de historiadores contatasse a contraparte norte-coreana, afirma Ahn. O contato, como todos os outros, se deu via China, onde Pyongyang mantém a Organização da Paz do Povo Coreano. É para essa entidade que os sul-coreanos enviam um e-mail e fazem contato com o norte.

“Não tivemos resposta até agora”, diz Ahn, que tinha a expectativa de retomar a escavação nos próximos meses.

Dicionário

Corria o ano de 1989 quando o poeta e teólogo sul-coreano Moon Ik-hwan (1918-1994) visitou Pyongyang. Recebido pelo então líder do país, Kim Il-sung (1912-1994), ele falou do sonho de criar um dicionário unificado da língua coreana.

O projeto ganhou fôlego quando, em 2005, 11 pesquisadores do sul e dez do norte se reuniram em um comitê para a compilação do dicionário, com 300 mil verbetes: 170 mil ficaram a cargo do sul, 130 mil eram responsabilidade do norte. Até dezembro de 2015, foram realizados 25 encontros, em Seul, Pyongyang, Kaesong e Pequim.

Ao término de cada etapa, um lado revisava o trabalho do outro. Os arquivos de texto foram trocados oito vezes, afirma o diretor sênior de compilação, Han Yongun, 51, que lembra de debates acalorados sobre alguns verbetes.

“Países comunistas costumam definir que língua é uma ferramenta para a sociedade socialista. A Coreia do Sul diz que é uma forma de comunicação”, compara.

“Da mesma forma, o sul ia definir socialismo como um sistema em que há uma divisão igualitária do que se produz no trabalho. O norte queria definir como o melhor sistema do mundo.”

O pesquisador afirma que a Assembleia Nacional sul-coreana pressiona para a equipe apresentar algum resultado, e Han não descarta que Seul publique a versão digital do que já foi compilado e revisado antes de Pyongyang dar uma resposta.

O projeto está 75% concluído, segundo Han. “O plano era completar o dicionário até 2019, mas acho que isso não vai acontecer. 

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