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BRASÍLIA e PORTO PRÍNCIPE - O tiro que matou o general brasileiro Urano Bacellar no Haiti saiu da arma do próprio militar. A afirmação foi feita pelo embaixador do Brasil no Haiti, Paulo Cordeiro Andrade Pinto, que preferiu, no entanto, não confirmar a hipótese de suicídio antes que a equipe brasileira analise a necrópsia e a perícia feita pela Organização das Nações Unidas (ONU), o que deve inviabilizar o traslado do corpo ainda nesta segunda-feira para o Brasil. Bacellar foi encontrado morto com um tiro na cabeça no Hotel Montana, onde morava, em Porto Príncipe, no sábado.

- O tiro saiu realmente da pistola do general Urano. A arma encontrada ao lado do corpo foi disparada - afirmou o embaixador

A intenção das autoridades da ONU era embarcar o corpo bem cedo, por volta das 8h, logo depois da cerimônia fúnebre que será realizada às 7h20m. Mas o embaixador brasileiro não concorda em liberar o corpo, antes que a equipe de peritos brasileiros enviada pelo presidente Lula analise a perícia e a necrópsia feita pela polícia internacional da ONU.

A delegação brasileira só chegou a Porto Príncipe na noite deste domingo, e não haveria tempo suficiente para acompanhar o trabalho feito pela ONU antes de segunda-feira bem cedo.

- Só vou deixar o corpo sair para o Brasil quando a equipe brasileira, que veio aqui para acompanhar as investigações, estiver satisfeita - disse Paulo Cordeiro.

A missão enviada pelo governo brasileiro ao Haiti para acompanhar as investigações sobre a morte de Bacellar é formada por oito pessoas: um analista de inteligência da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), um delegado e dois peritos criminais da Polícia Federal, um médico legista do Instituto Médico Legal de Brasília, e um general e um coronel do Exército, além de um representante do Ministério Público Militar.

Em nota divulgada na noite de sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou ao chanceler Celso Amorim que manifestasse à ONU a expectativa do governo brasileiro de que o organismo faça uma imediata e ampla investigação sobre a morte do oficial.

Segundo as primeiras informações que o governo brasileiro recebeu do comando internacional no Haiti, o general Bacellar, de 57 anos, teria cometido suicídio. As mesmas fontes afirmaram às autoridades brasileiras que o oficial estava muito deprimido, sentindo-se solitário e desanimado com a tarefa. O militar era tido como uma pessoa muito fechada, que não conversava e não se abria com as pessoas.

Agências internacionais também afirmam que o general teria cometido suicídio. O Exército brasileiro, no entanto, trabalha oficialmente com a informação de que houve um acidente com arma de fogo. Ao lamentar a morte do general, em nota oficial, o Exército afirmou que está acompanhando a investigação policial.

Segundo o tenente-coronel Cunha Matos, oficial de informações do batalhão brasileiro em Porto Príncipe, o general Bacellar não demonstrava um quadro de depressão ou descontentamento que pudessem levá-lo a um ato extremo. Ainda na sexta-feira, o oficial participou de um coquetel para entrega de medalhas na formatura de militares da companhia guatemalteca. Quem estava presente relatou que o brasileiro estava alegre e que participou de brincadeiras, tirando fotos na entrega da medalha aos guatemaltecos.

- Não temos nenhuma informação que indique suicídio. Mesmo porque a carga maior de cobrança da mídia era em cima do embaixador Valdez. Ainda temos que investigar essa informação não confirmada de que houve tiros na região do Hotel Montana - disse Cunha Matos.

O ministro Celso Amorim, por sua vez, disse que é preciso aguardar o fim da perícia para ter uma conclusão definitiva sobre as causas da morte.

- O general Bacellar tinha uma grande preocupação com a situação no Haiti, principalmente às vésperas da eleição. Mas nada fazia prever que ele viesse a se suicidar, se foi isso que aconteceu - disse Amorim.

Natural de Bagé, no Rio Grande do Sul, Bacellar era casado e tinha dois filhos. Procurada pela imprensa, a família não quis comentar a morte dele.

Na semana passada, segundo Cunha Matos, houve um outro acidente que culminou com a morte de outro oficial da força de paz, um capitão jordaniano. Nesse caso, o corpo só foi liberado para embarcar para a Jordânia depois da perícia feita no Haiti.

A morte do general Urano Bacellar aconteceu horas depois de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, para se posicionar sobre o adiamento das eleições do Haiti, prevista inicialmente para este domingo. O pleito será realizado no dia 7 de fevereiro, segundo confirmou o secretário-geral do Conselho Eleitoral do país, Rosemond Pradel. Em declaração, o Conselho da ONU pedira que as eleições fossem realizadas até este dia, para que o governo provisório do Haiti seja substituído pelo presidente eleito.

O general Urano assumiu o posto no dia 31 de agosto de 2005, no lugar do general Augusto Heleno Pereira no comando das forças da ONU no Haiti. Ele ocupou até recentemente o posto de subchefe do Estado-Maior do Exército, em Brasília. O nome dele para o cargo no Haiti foi indicado pelo Comando do Exército brasileiro.

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