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Entrada do bairro Cota 905 em Caracas, 9 de julho. Moradores das áreas mais afetadas pelos tiroteios na capital venezuelana foram forçados a fugir de suas casas
Entrada do bairro Cota 905 em Caracas, 9 de julho. Moradores das áreas mais afetadas pelos tiroteios na capital venezuelana foram forçados a fugir de suas casas| Foto: EFE/RAYNER PEÑA R.

No terceiro dia de tiroteios entre gangues criminosas e forças de segurança do regime da Venezuela na zona oeste de Caracas, a ditadura de Nicolás Maduro tentou mostrar que está no controle da situação mobilizando um grande efetivo policial e até mesmo baterias antiaéreas. A violência obrigou famílias venezuelanas que moram nas regiões mais afetadas a buscar outros lugares mais seguros.

Imagens de uma rede de televisão local mostram tanques entrando nos bairros de Cota 905, El Valle, El Cementerio, Santa Rosalía e outros da capital venezuelana. Os sistemas de defesa aérea de médio alcance Buk-M2E, de fabricação russa, também foram vistos sendo transportados pelas ruas de Caracas sem os mísseis, que são geralmente levados em outro veículo militar, noticiou a imprensa local. O regime pode ter usado a ação para argumentar que está prevenindo ações estrangeiras no país, disseram especialistas à imprensa.

Na madrugada desta sexta-feira (9), as Forças de Ações Especiais (Faes), órgão armado acusado de crimes de violações de direitos humanos, entraram nos morros da Cota 905, reduto da gangue liderada por Carlos Luis Recete, o "Koki", criminoso que está sendo procurado pelo regime de Maduro, que ofereceu recompensa de US$ 500 mil por informações que levem à sua captura.

Cerca de 800 agentes estavam fazendo revistas "de casa em casa", em busca dos líderes das gangues.

Depois de três dias, o ditador Nicolás Maduro se pronunciou pela primeira vez sobre o conflito, afirmando que estão atuando "de maneira contundente".

"Os inimigos da pátria pretendem semear medo por meio do financiamento de gangues criminosas, não ficaremos de braços cruzados. Estamos agindo de maneira contundente", disse Maduro em seu perfil do Twitter.

A oposição responsabiliza o regime chavista pelo caos na região oeste de Caracas. "A ditadura é responsável por promover, financiar e gerar impunidade a gangues que hoje causam sofrimento, assim como fizeram com o ELN e a dissidência das Farc", acusou Juan Guaidó, líder opositor venezuelano, que disse ainda que desde 2015 há denúncias de que as áreas declaradas "zonas de paz" serviram para controle social e resultaram no armamento das gangues e impunidade.

As "zonas de paz" fizeram parte de um programa realizado entre 2013 e 2015, em que houve um acordo entre representantes do chavismo e habitantes de comunidades para que, entre outros tratos, a polícia não entrasse mais em determinados locais para operações policiais. Um deles era a Cota 905, palco principal da atual onda de violência, e uma das áreas com mais grupos criminosos na capital venezuelana. Em troca, os criminosos deveriam deixar de matar policiais, articular roubos de carros, extorsão e sequestro, segundo explica o jornal venezuelano El Nacional em matéria de 2017.

"O que acontece é que a violência desmedida rompeu com esse acordo", disse à Gazeta do Povo um jornalista venezuelano que preferiu não ser identificado. Para ele, a operação atual das forças de segurança venezuelanas não teve o resultado esperado, já que ninguém foi preso até o momento. "A operação é grande, mas de escasso efeito real", avaliou o jornalista.

As autoridades locais ainda não divulgaram um balanço de mortos ou feridos nesses tiroteios, que paralisaram o cotidiano dos moradores de grande parte da capital venezuelana.

"Estou ouvindo tiros (...) neste momento estão dando tiros", disse por telefone à Agência Efe um morador de 23 anos do bairro Prados de María que pediu para não ser identificado por medo de represálias. Ele contou que a Guarda Nacional Bolivariana (GNB) estava em uma das avenidas enfrentando os criminosos e avançando com tiros para recuperar espaço.

Algumas informações foram publicadas no Twitter pela ministra do Interior, Carmen Meléndez, embora ela não tenha dado detalhes sobre quantos agentes foram destacados, de que unidades fazem parte, ou quantas pessoas foram mortas ou feridas nas trocas de tiros.

Regime oferece recompensas

A ditadura venezuelana divulgou fotos na quinta-feira com os nomes de alguns dos líderes desses grupos criminosos e ofereceu recompensas que variam de US$ 50 mil a US$ 500 mil.

Entre eles estão Carlos Luis Revete, vulgo "el Koki", Garbis Ochoa Ruiz, conhecido como "el Galvis", e Carlos Calderón Martínez, chamado de "el Vampi", todos acusados de assassinatos.

Um morador de Santa Rosalía que também preferiu não ter o nome revelado contou à Efe que mora com a mãe e uma tia, ambas na casa dos 60 anos, que "estão bastante aflitas" com a situação e tentam "manter a calma lendo".

"O que estou sentindo é incerteza, não sei o que vai acontecer", acrescentou ele, que disse evitar ficar perto das janelas de seu apartamento por medo de ser atingido por uma bala perdida, especialmente "no quarto principal, que fica de frente para a rua".

Vários veículos de imprensa locais informaram que pedestres e comerciantes foram atingidos por balas perdidas.

Desde o início dos confrontos, e apesar da falta de informações oficiais, inúmeros vídeos têm circulado nas redes sociais, nos quais constantes explosões podem ser vistas e ouvidas.

Membros dessas gangues também podem ser vistos em alguns vídeos interrompendo o tráfego em áreas comerciais, como o Bulevar Cesár Rengifo, em Santa Rosalía.

Quase paralelamente ao início dos tiroteios, o ditador Nicolás Maduro participou de um ato na quarta-feira no qual anunciou a renovação da cúpula militar do país.

Famílias são forçadas a fugir

Várias famílias que vivem nas áreas do oeste de Caracas que estão devastadas por tiroteios desde a última quarta-feira deixaram os bairros onde moram para se estabelecer em outras partes da cidade, relatou nesta sexta o diretor da ONG Caracas Mi Convive, Roberto Patiño.

Jovem carrega sacola com donativos na ONG Otro Enfoque em Caracas, Venezuela, para famílias que foram obrigadas a deixar suas casas por causa dos tiroteios, 9 de julho
Jovem carrega sacola com donativos na ONG Otro Enfoque em Caracas, Venezuela, para famílias que foram obrigadas a deixar suas casas por causa dos tiroteios, 9 de julho| EFE/RAYNER PEÑA R.

"Fui informado pelas mães de El Cementerio e Cota 905 que as famílias que nada têm a ver com o que está acontecendo e que sofreram o horror das últimas horas estão deixando suas casas para migrar para outras partes da cidade para fugir da violência", escreveu Patiño em sua conta no Twitter.

Na mesma rede social, circulam imagens de pessoas caminhando com malas e bolsas em algumas das ruas dessas regiões de Caracas. Patiño também expressou sua solidariedade com os moradores que, segundo ele, estão sendo forçados a sair de suas residências devido à ação de grupos criminosos. "Eles estão temerosos de que esta situação continue", declarou.

Os criminosos que operam nessas regiões da capital venezuelana estão agrupados em uma montanha que conecta várias áreas. Por isso, diversas comunidades foram afetadas pelos tiros.

De acordo com a imprensa local, a situação resultou em várias mortes e ferimentos por balas perdidas. As autoridades venezuelanas não divulgaram um balanço sobre o número de vítimas e limitaram-se a informar na manhã de hoje que a polícia tinha sido enviada em uma operação por mais de 24 horas para reprimir as gangues.

A ministra do Interior, Carmen Meléndez, afirmou que a polícia "fez progressos no desmantelamento das estruturas criminais", mas não entrou em detalhes.

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