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Migrantes em Tapachula, no estado mexicano de Chiapas, pedem justiça para os 40 mortos em um incêndio em centro do Instituto Nacional de Migração em Ciudad Juárez
Migrantes em Tapachula, no estado mexicano de Chiapas, pedem justiça para os 40 mortos em um incêndio em centro do Instituto Nacional de Migração em Ciudad Juárez| Foto: EFE/Juan Manuel Blanco

Uma tragédia ocorrida no final de março escancarou a crise migratória no México: um incêndio ocorrido em um posto do Instituto Nacional de Migração (INM) em Ciudad Juárez, na fronteira com os Estados Unidos, deixou 40 mortos e dezenas de feridos.

Entre as vítimas, estavam imigrantes colombianos, equatorianos, salvadorenhos, guatemaltecos, hondurenhos e venezuelanos.

A repercussão dessa tragédia chegou na semana passada ao gabinete do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador (conhecido como AMLO). A Procuradoria-Geral da República abriu investigação contra o diretor do INM, Francisco Garduño Yáñez, e outros servidores do instituto.

A procuradoria justificou que outros antecedentes já indicavam as falhas no trabalho do órgão migratório, como um incidente em março de 2020 em outro centro de imigrantes, em Tenosique, no estado de Tabasco, que resultou na morte de uma pessoa e 14 feridos.

“Pareceres da Auditoria Superior da Federação dos últimos anos voltam a apontar, com total clareza, as faltas e omissões que continuam sendo cometidas no INM; e indicam um padrão de irresponsabilidade e omissões que tem se repetido e que tem sido a causa desses infelizes eventos já mencionados”, justificou a procuradoria.

Conforme a tragédia de Ciudad Juárez foi ganhando repercussão, AMLO foi mudando de tom ao falar sobre o caso. Nas primeiras horas após o incêndio, ele culpou os próprios imigrantes, ao dizer que um protesto deles provocou o fogo.

Depois que o governo de El Salvador pediu a saída do diretor do INM e de manifestações de autoridades de outros países de onde vieram os imigrantes mortos no incêndio, o presidente mexicano adotou um tom mais conciliador.

“As autoridades de El Salvador têm razão, assim como as da Guatemala, Colômbia e Venezuela. É muito lamentável. Eles têm que proteger a vida de seus concidadãos. Esse é o trabalho do governo, mas estamos em contato com eles para ajudar. E também, como eu disse no primeiro dia, não haverá impunidade, os responsáveis ​​serão punidos, a investigação vai continuar, já há detidos. E a investigação ainda não foi concluída para punir os responsáveis por esta tragédia”, disse AMLO.

Na semana passada, quando a investigação da Procuradoria-Geral foi anunciada, o presidente voltou a afirmar que não haverá impunidade, embora Garduño Yáñez siga no cargo.

“Nosso critério, o que estabeleci como conduta, é não proteger ninguém se houver a possibilidade de que tenha cometido uma irregularidade ou um crime. Não protejo ninguém”, alegou.

Fluxo recorde de Cuba, Venezuela e Nicarágua

Segundo organizações civis mexicanas, 2022 foi o ano mais trágico para os imigrantes no México, já que cerca de 900 morreram tentando cruzar sem documentos a fronteira entre o país e os Estados Unidos.

A região viveu um fluxo migratório recorde no ano passado, com 2,76 milhões de imigrantes ilegais detidos na fronteira EUA-México no ano fiscal de 2022 (outubro de 2021 a setembro do ano passado).

Segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM) das Nações Unidas, o México tem se tornado cada vez mais um centro de passagem de migrantes e menos um país de onde a população emigra.

O número total de migrantes mexicanos em outros países diminuiu de 12,42 milhões em 2010 para 11,19 milhões em 2020 (97% destes estão nos Estados Unidos). Por outro lado, em 20 anos, a população imigrante em território mexicano aumentou 123%.

As crises econômica, política e humanitária no Haiti, na Venezuela, em Cuba e na Nicarágua geraram grande crescimento na chegada de migrantes (interessados em seguir para os Estados Unidos) ao México no ano passado.

O número de prisões de migrantes em trânsito pelo território mexicano foi recorde, com 444.439 detenções, um incremento de 44% sobre 2021. A OIM destacou em comunicado “níveis sem precedentes de migrantes que chegam por terra ao México atravessando a América Central, a partir da República Bolivariana da Venezuela, Cuba, Nicarágua, Colômbia, Equador, Haiti, ou mesmo de países da África, Ásia e Europa (incluindo Rússia e Ucrânia)”.

Os venezuelanos representaram a nacionalidade predominante entre as prisões realizadas no ano passado pelas autoridades migratórias mexicanas, com 97.078 detenções, aumento de 2.127% em relação ao ano anterior.

Em artigo para o site Animal Político, a Rede de Documentação de Organizações de Defesa de Migrantes do México (Redodem) apontou que, diante desse aumento do fluxo migratório, as políticas públicas para essa população precisam mudar.

A entidade destacou que os centros de imigrantes e estadias temporárias no México violam os direitos humanos dos migrantes e representam um risco à sua segurança, vida e integridade, conforme comprovado pela tragédia de Ciudad Juárez.

“É urgente que os dez postos migratórios sejam vistoriados pela sociedade civil e órgãos públicos de direitos humanos e que sejam fechados aqueles que representam risco latente, para evitar uma nova tragédia. O Estado tem a obrigação de assegurar que os direitos dos migrantes sejam respeitados e garantir a sua segurança e integridade em todos os momentos”, sustentou a Redodem. (Com Agência EFE)

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