O vazamento de uma gravação na qual o chefe da inteligência turca discute possíveis operações militares na Síria com o ministro das relações exteriores e o vice-chefe das forças armadas levou o governo da Turquia a iniciar um processo de bloqueio do site de vídeos YouTube. A decisão do governo surge um dia depois do bloqueio ao Twitter, apoiado pelo primeiro-ministro Recep Tyyip Erdogan, ser revertido nos tribunais.

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A Autoridade Turca de Telecomunicações (TIB) afirmou que tomou uma "medida administrativa" contra o site, mas há indícios de que o órgão estaria dialogando com os representantes do Google, empresa dona do YouTube. A empresa confirmou que muitos internautas não estavam conseguindo acessar o YouTube no país, mas garantiu que não se tratava de um problema técnico, e que analisava a situação.

Essa não foi a primeira vez que o YouTube enfrentou problemas com o governo turco. Em 2007, vídeos que insultavam o herói nacional Mustafa Ataturk foram a base de um processo movido contra o site, que ficou banido no país por três. Desde então os serviços do YouTube já foram bloqueados pelo governo em outras sete ocasiões.

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Eleições podem definir futuro do governo

No domingo a Turquia tem eleições municipais, e o desempenho do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AK), partido de Erdogan, pode definir o futuro do primeiro-ministro à frente do governo. O clima eleitoral não parece favorável , mas no caso de uma vitória expressiva, Erdogan pode ser o candidato do AK nas eleições presidenciais em agosto. Durante um comício na cidade de Diyarbakir, no sudeste do país, o primeiro-ministro comentou o caso, e lançou suspeitas sobre o vazamento da gravação.

"Vazaram até mesmo um encontro da segurança nacional. Isto é criminoso e desonesto. A serviço de quem se realizam gravações de um encontro tão importante?", questionou Erdogan.

O presidente turco, Abdullah Gül, utilizador assíduo das redes sociais, criticou a medida:

"É uma situação desagradável para um país desenvolvido como a Turquia, que está negociando com a União Europeia", disse.

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Oposição comemora fim do bloqueio ao Twitter

Nos últimos meses, o governo de Erdogan foi abalado por um escândalo político-financeiro, atribuído ao pregador muçulmano Fethullah Gülen, que mora nos Estados Unidos. O primeiro-ministro acusou as mídias sociais de propagaram mentiras, e incentivou a aprovação de uma polêmica lei sobre o controle da internet. Desde o dia 20, a TIB havia bloqueado o acesso dos turcos ao Twitter, e somente na última quarta-feira um tribunal da capital ordenou o fim do bloqueio.

"O Twitter deve respeitar a lei turca", afirmou Erdogan, que acusou a rede social de ataques contra a segurança nacional, na última semana. Antes do fim do bloqueio, o primeiro-ministro ameaçou repetir a medida contra outras redes, como o Facebook.

Na quarta-feira, o Partido Republicano do Povo (CHP), principal partido de oposição do país, que acusa Erdogan de querer impedir o avanço das investigações de corrupção que afetam várias pessoas ligadas a seu governo, comemorou a decisão:

"É impossível deixar que um regime totalitário silencie a tecnologia", declarou Mrehan Halici, um dos vice-presidentes do CHP.

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