O presidente da Rússia, Vladimir Putin| Foto: EFE
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Embora Rússia e Ucrânia tenham sinalizado avanços nas negociações pelo cessar-fogo, o governo do presidente Volodymyr Zelensky tem resistido a uma das principais demandas russas para o fim do conflito: o reconhecimento da região da Crimeia como território russo e a independência dos territórios separatistas de Donetsk e Lugansk, na região de Donbass, localizada na fronteira entre os dois países.

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"Em relação aos territórios ocupados, a posição da Ucrânia permanece inalterada: as fronteiras do país não podem ser cedidas", disse o conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak a um canal polonês.

Mas, ao que tudo indica, o Kremlin ampliou seus objetivos na medida em que a Rússia avança em direção à Kiev e já domina várias outras cidades. Militares sob o comando de Putin já controlam as cidades de Sumy e Kharkiv, no leste da Ucrânia, além de Donetsk e Lugansk. Ao sul, Kherson, Mariupol e Volnovakha foram tomadas, e, no norte, forças da Rússia estão em Chernihiv, Konotop e Chernobyl.

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Rússia avança em todo o território

Na opinião de Márcio Coimbra, presidente da Fundação da Liberdade Econômica e Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie em Brasília, a possibilidade de um acordo de paz sobre a independência das regiões é remota e, portanto, a Rússia só deve parar quando tomar todo o território ucraniano.

"Acho difícil a guerra ficar circunscrita à Donetsk e Lugansk, mesmo que a Rússia consiga o controle dessas regiões. Também não acredito que Ucrânia ceda parte do seu território, mas, se ceder, o objetivo é chegar até às margens do Dniepre, rio que corta a Ucrânia entre Leste e Oeste, e tomar Kiev", diz o especialista.

A Rússia também tem avançado e apertado o cerco contra Kiev - principal objetivo militar dos russos atualmente -, na tentativa de pressionar Zelensky e negociar os objetivos políticos do Kremlin.

"No caso de se tomar Kiev, acaba-se tomando o resto do país. Chegou-se em um momento da guerra em que um dos dois lados deve vencer completamente: ou a Ucrânia, de um lado, ou a Rússia, de outro", explica Coimbra.

Lugansk, Donetsk e a Crimeia faziam parte da Ucrânia quando o país declarou independência da União Soviética, em 1991. Tratam-se de regiões que continuam sendo reconhecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) como território ucraniano.

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Em 21 de fevereiro deste ano, no entanto, presidente russo Vladimir Putin assinou um decreto reconhecendo a independência das regiões autoproclamadas Donetsk e Lugansk, que declararam independência de Kiev em abril de 2014, quando milícias apoiadas pela Rússia tomaram o controle de sedes do governo local e outras infraestruturas.

"Ucrânia ocidental e isolada"

Uma outra estratégia possivelmente aventada pela Rússia, segundo apontam especialistas, seria a consolidação do controle sobre as áreas do leste do país e a criação de uma espécie de "Ucrânia Ocidental", sem necessariamente um governo russo liderando todo o país. Essa, por exemplo, é a opinião dos especialistas de Nicholas Heras, Carolina Rosa e Eugene Chausovsky em artigo para a revista New Lines.

Na perspectiva deles, a Rússia deve tentar fragmentar o país e criar uma região ucraniana ao Oeste isolada, sem litoral e enfraquecida. "Uma potencial Ucrânia Ocidental precisaria ser severamente enfraquecida econômica e militarmente. Para atingir esse objetivo, a Rússia provavelmente teria como alvo a infraestrutura civil, militar e a agricultura da região", explicam os especialistas no artigo.

"Seria preciso danificá-la a ponto de o custo para reerguer a 'Ucrânia Ocidental' e prepará-la para receber novamente a população ser extremamente caro", afirmam.

Dividir a Ucrânia dessa maneira forneceria à Rússia vários amortecedores entre países da Otan, como Polônia e Romênia, por exemplo. Além disso, ficaria para a União Europeia e a Otan a missão de reconstruir uma 'Ucrânia Ocidental devastada', explicam os especialistas.

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*Os governos de Rússia e Ucrânia não têm apresentado boletins com números de mortos. Os dados, portanto, variam de acordo com diferentes balanços.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]