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Valéria e Yuriy eram casados há nove anos e há três meses tiveram sua primeira filha, Kira; mãe e filha morreram após ataque de míssil russo em Odessa
Valéria e Yuriy eram casados há nove anos e há três meses tiveram sua primeira filha, Kira; mãe e filha morreram após ataque de míssil russo em Odessa| Foto: Arquivo da família

Dois meses depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, as notícias de bombardeios se tornaram tão comuns, que não parecem mais despertar tanta comoção como na última semana de fevereiro. No entanto, cada um dos milhares civis mortos no conflito (a ONU fala oficialmente em 2,2 mil, mas estima um número bem maior, dada a impossibilidade de acesso a áreas de combate) tem um rosto e uma história, como a do ucraniano Yuriy Glodan, que perdeu a esposa, a sogra e a única filha, de três meses, no sábado (23). O prédio onde eles moravam, em Odessa, foi atingido por um míssil russo.

No domingo (24), a reportagem da BBC encontrou Yuriy vasculhando os escombros, na tentativa de salvar lembranças, como álbuns de fotografia, notas manuscritas e uma coleção de sachês de açúcar de sua esposa. "Se eu deixar coisas no apartamento, elas se tornarão lixo e as pessoas jogarão fora", disse à BBC. "Eu quero mantê-las para minhas memórias."

Ele contou que havia ido fazer compras no momento do ataque e, ao voltar, encontrou o prédio em chamas. Assim que entrou no apartamento da família, ele se deparou com os corpos da esposa e da sogra. O corpo da bebê, Kira, só foi localizado depois, e Yuriy a viu no domingo, quando voltou ao local. “Todo o meu mundo foi destruído ontem por um míssil russo", afirmou o ucraniano.

Ele contou à BBC que era casado havia nove anos com Valéria, que era relações públicas e amava a cidade de Odessa. “Ela era uma ótima mãe, amiga, com todas as melhores qualidades. Será impossível, para mim, encontrar outra pessoa como Valéria. Ela era perfeita. Essa pessoa só pode ser dada a você uma vez na vida e é um presente de Deus”, disse.

No fim de janeiro, o casal teve a alegria de viver o nascimento de sua primeira filha, Kira. Quando a pequena tinha um mês, Valéria fez uma postagem no Instagram em que dizia estar experimentando "um novo nível de felicidade". "Ficamos tão felizes quando ela nasceu. Eu estava na maternidade quando ela deu à luz. É muito difícil, para mim, perceber agora que minha filha e esposa não estão mais aqui”, lamentou o pai, mostrando fotos no celular as fotos que sua esposa enviava do bebê.

Além da família de Yuriy, outras cinco pessoas morreram no ataque. Ao falar com a reportagem, ele manifestou o desejo que todo o mundo tome conhecimento de sua história. "O que está acontecendo é uma dor para minha família, para nossa cidade, para a Ucrânia, é uma dor para toda a civilização. Espero que nossa história ajude a parar esta guerra", pediu. Entre os poucos objetos que conseguiu salvar do apartamento, estava um pacote de fraldas descartáveis, que Yuriy pediu para que fosse enviado à caridade. “Eu não preciso delas agora."

Indignação

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, manifestou indignação ao tomar conhecimento da morte da pequena Kira. "Como ela ameaçou a Rússia? Parece que matar crianças é apenas uma nova ideia nacional da Federação Russa", disse, durante seu discurso noturno aos cidadãos ucranianos.

O líder do país tem constantemente denunciado os ataques russos a civis. No sábado, ele fez uma postagem no Instagram com fotos de Mariupol antes da guerra, destacando a beleza da cidade. “Não há mais Mariupol. E também não há mais Viktor Dedov, que tirou essas fotos”, lamentou, em referência ao autor das imagens, outra vítima da guerra.

Autoridades locais estimam que, somente em Mariupol, 20 mil civis tenham perdido a vida, vítimas da guerra.

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