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A presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em coletiva de imprensa para anunciar os nomes dos novos comissários europeus, 10 de setembro de 2019, em Bruxelas
A presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em coletiva de imprensa para anunciar os nomes dos novos comissários europeus, 10 de setembro de 2019, em Bruxelas| Foto: Kenzo TRIBOUILLARD / AFP

O ramo executivo da União Europeia, a Comissão Europeia, enfrentou críticas nesta terça-feira (10) por criar o cargo de vice-presidente responsável por "proteger nosso modo de vida europeu", que trabalhará com a questão da migração, além de outras como educação, segurança e emprego.

A nova presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, nomeou o representante grego Margaritis Schinas para a função, ao apresentar os indicados para sua equipe de 27 pessoas na terça-feira.

Alguns críticos questionaram o fato de o comissário trabalhar simultaneamente com as questões de segurança e migração. A ligação direta de ambos os tópicos, eles argumentaram, poderia sugerir que os migrantes são percebidos por definição como ameaças à segurança.

"A implicação de que os europeus precisam ser protegidos de culturas externas é grotesca e essa narrativa deve ser rejeitada", escreveu Sophie in 't Veld, holandesa liberal membro do Parlamento Europeu, segundo a Reuters. Ela acrescentou que a criação da pasta foi "totalmente equivocada e repreensível".

Grupos de direitos humanos e outros concordaram que o título do novo comissário enviou uma mensagem implícita anti-migrante. "Precisamos de proteção para a nossa democracia, contra as mudanças climáticas, etc. Não contra os migrantes", respondeu o Sindicato Europeu no Twitter.

Andrew Stroehlein, diretor europeu de mídia da Human Rights Watch, acusou a equipe de von der Leyen de "adotar o discurso da extrema direita", que frequentemente retrata a migração - especialmente de requerentes de asilo muçulmanos na Europa - como uma ameaça ao que eles dizem ser a "identidade judaico-cristã" do continente.

Esse discurso também foi ecoado por adeptos da chamada "Grande Teoria da Substituição", centrada na visão de mundo conspiratória de que as maiorias brancas da Europa estão sendo deliberadamente substituídas por imigrantes da África do Norte e Subsaariana, em uma trama elaborada pelas elites globais.

Desde a chegada de grande número de refugiados na Europa em 2015, partidos anti-migrantes europeus tiveram aumento em seus índices de aprovação em algumas partes do continente, e passaram a pressionar mais a UE a adotar uma postura mais cética em relação à imigração. Estados-membros como a Hungria e a Polônia têm frequentemente entrado em conflito com a Comissão Europeia sobre o tratamento dos requerentes de asilo nos últimos anos.

Mas a Comissão Europeia negou na terça-feira que com a sua nova tarefa de "Proteger Nosso Modo de Vida Europeu" estivesse se curvando às vozes que exigem que a igualdade de tratamento seja negada aos refugiados.

"Na verdade, a missão central que o vice-presidente Schinas terá é coordenar o trabalho para inclusão e 'construir uma genuína União de igualdade e diversidade'", escreveu a porta-voz Mina Andreeva em comunicado, citando a carta de missão de von der Leyen para Schinas.

A Comissão Europeia rejeitou as críticas de que o novo título sugere que a migração está ameaçando o "modo de vida europeu". Na carta da missão de von der Leyen, a presidente eleita declarou que "o modo de vida europeu é construído em torno da solidariedade, paz de espírito e segurança", bem como "o princípio da dignidade e igualdade para todos".

Von der Leyen não é conhecida por ser uma voz anti-migração; de fato, alguns a considerariam o oposto disso. Antes de se tornar presidente eleita da Comissão Europeia, ela era um membro importante do gabinete da chanceler alemã Angela Merkel em Berlim. Em seus vários papéis - mais recentemente como ministra da Defesa da Alemanha - von der Leyen era considerada leal à chanceler Merkel, uma conservadora moderada, mesmo quando adversários dentro de seu partido a desafiavam. Quando Merkel adotou uma postura pró-refugiados em meio à chegada em massa de migrantes em 2015, von der Leyen a defendeu.

Em troca, Merkel apoiou a proposta de von der Leyen para a UE, um projeto que aliviaria parte do fardo dos Estados-membros do sul da Europa - ponto de entrada da maioria dos solicitantes de asilo - e garantiria uma distribuição mais justa dos migrantes recém-chegados.

No comando do poder executivo da UE, von der Leyen deverá pressionar por reformas em um momento crítico, enquanto a prolongada luta do Reino Unido para deixar a UE continua pairando sobre o bloco.

Em sua apresentação na terça-feira, von der Leyen enfatizou que a nova equipe da Comissão Europeia - se aprovada - terá mais diversidade de gênero do que qualquer outra na história da União Europeia. Mas, embora quase a metade de todos os comissários nomeados sejam mulheres, os críticos de von der Leyen apontaram uma outra falha de diversidade: a liderança superior da UE ainda é majoritariamente branca.

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