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China e Rússia
O presidente russo, Vladimir Putin, cumprimenta o presidente do Comitê Permanente do Congresso Nacional Chinês, Li Zhanshu| Foto: Sergei CHIRIKOV/POOL/AFP

China e Rússia assinaram nesta semana um acordo para desenvolver uma estação espacial lunar de pesquisa. Segundo um comunicado das agências espaciais das duas nações, a Estação Científica Lunar Internacional, que será construída na Lua ou em sua órbita, irá realizar uma ampla gama de pesquisas científicas, incluindo a exploração e utilização da Lua, e será aberta para países interessados e parceiros internacionais. “A China e a Rússia estão comprometidas com a cooperação nas áreas de tecnologia espacial, ciência espacial e aplicações espaciais”, diz o comunicado publicado nesta terça-feira (9).

A integração de pesquisas aeroespaciais entre os dois países deve ter chamado a atenção do Ocidente, mesmo que o objetivo do projeto seja científico e não militar, já que a competição entre grandes e novas potências no espaço sideral tem acelerado nos últimos anos. A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) reconheceu isso em um relatório sobre desafios futuros, publicado no ano passado.

“Nos últimos anos, um número crescente de atores entrou no espaço, com aumentos concomitantes nos riscos de acidente ou ação hostil. O desenvolvimento de novas tecnologias militares sofisticadas pela Rússia e pela China ameaçam a segurança dos Aliados neste domínio e tornaram o espaço sideral um novo teatro para a competição geopolítica”.

O mesmo relatório recomenda que a Otan designe “uma unidade especial dentro da JISD [Divisão Conjunta de Inteligência e Segurança] para monitorar e avaliar como a cooperação Rússia-China nos campos militar, tecnológico e político, incluindo a coordenação em desinformação e guerra híbrida, impacta a segurança euro-atlântica”.

A oposição política ao Ocidente, especialmente aos Estados Unidos, tem fortalecido a relação entre China e Rússia. Ambos são alvos de sanções norte-americanas. Enquanto isso, a União Europeia, que já não tem uma relação tão boa com o Kremlin, estuda aplicar sanções contra políticos da China por causa de violações aos direitos humanos na província de Xinjiang. Isso deve aborrecer Pequim profundamente, porque o governo chinês considera que qualquer condenação sobre o que acontece em seu território é uma interferência indevida nos assuntos internos da China.

Em um telefonema entre Pequim e Moscou no fim do ano passado, o presidente da China, Xi Jinping, disse que seu governo trabalharia "inabalavelmente" para desenvolver uma parceria cada vez mais estreita com a Rússia e que "a cooperação estratégica entre a China e a Rússia pode efetivamente resistir a qualquer tentativa de suprimir e dividir os dois países”.

Essa aproximação não é de agora, mas vem acelerando desde que os EUA passaram a mudar o foco de sua política externa de defesa para o Oriente. Além da cooperação em áreas de pesquisa científica, tecnológica e militar, ambos estão alinhados em algumas questões internacionais, como a crise em Mianmar, para citar um exemplo.

Há fatores internos que permitem essa aproximação: o Kremlin não vê a ascensão da China como uma ameaça ao seu regime, enquanto Pequim aprecia o apoio que recebe da Rússia no cenário internacional. E também econômicos: com as sanções americanas e europeias, as indústrias russas passaram a se apoiar mais no mercado chinês, e, em contrapartida, a Rússia está se tornando um importante fornecedor de energia para a China.

Tudo isso fez surgir especulações de uma aliança formal entre China e Rússia, especialmente depois que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que a hipótese não deve ser descartada, embora Pequim e Kremlin considerem que uma aliança militar, como a Otan, não seja necessária pois a relação entre eles “já é forte o suficiente”.

Os limites da cooperação entre China e Rússia

Apesar da amizade, há conflitos de interesse nessa relação. Um exemplo, segundo os pesquisadores da relação China-Rússia Natasha Kuhrt e Marcin Kaczmarski, é a postura agressiva da China em relação à Índia e outros aliados da Rússia na região do Indopacífico. “Em resposta aos confrontos na fronteira sino-indiana, Moscou fez o possível para mitigar os dois parceiros e permanecer neutra. Uma aliança com Pequim tornaria essa política muito mais difícil”, escreveram.

Formar uma aliança também poderia arriscar os interesses econômicos de ambos, porque inevitavelmente colocaria os Estados Unidos e seus aliados como inimigos. Apesar da tensão geopolítica, tanto a China quanto a Rússia querem expandir suas relações comerciais com Estados Unidos e Europa. A construção do Gasoduto Nord Stream 2 é um exemplo do interesse russo no mercado europeu – apesar da pressão dos EUA para que o projeto seja abortado. A China tem sua economia profundamente atrelada aos Estados Unidos, seu principal parceiro comercial e com quem deve retomar negociações bilaterais na semana que vem.

Portanto, transmitir a ideia de que uma aliança de defesa entre Rússia e China é possível, neste momento, é mais interessante para os dois governos do que realmente ter uma, segundo Kuhrt e Kaczmarski, porque assim, não perdem margem de manobra em suas relações internacionais.

O estreitamento da cooperação observado nos últimos anos é mais uma forma de defesa e apoio mútuo contra o discurso ocidental - e suas sanções - do que uma real intenção de criar uma aliança militar. Isso só ocorreria em um futuro no qual os Estados Unidos e seus aliados estivessem colocando em risco a segurança de China e Rússia, simultaneamente.

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