A Assembleia Nacional da Venezuela aprovou na quarta-feira a proposta do presidente Hugo Chávez para eliminar os limites à sua reeleição, em meio a um complicado cenário eleitoral que pode ameaçar o futuro do seu projeto socialista.
Após quase uma década no poder, o carismático ex-paraquedista do Exército afirma que precisaria de pelo menos mais dez anos para consolidar a sua "revolução", ainda muito popular graças aos milionários projetos sociais financiados pelo petróleo.
Chávez, que já foi eleito duas vezes sob a atual Constituição, tentou sem sucesso, num referendo em 2007, reformar a Constituição para concentrar mais poderes e permanecer mais tempo no cargo - seu mandato termina em 2013.
A nova reforma aprovada pela Assembleia também será submetida a referendo, em meados de fevereiro.
"Se sou imprescindível? Não. Só que mudar de ginete ou capitão (...) quando ainda não estão consolidadas as etapas de maturação iniciais de um processo é sumamente arriscado", disse Chávez na terça-feira em seu discurso anual ao Congresso, que durou mais de sete horas.
"Isso a oligarquia sabe, isso a burguesia sabe, e isso os fatores internacionais de dominação sabem. Por isso farão de tudo para me tirar do jogo, incluindo o golpe de Estado, as tentativas de magnicídio", acrescentou.
Pesquisas realizadas em dezembro mostram um rechaço à proposta, mas com um alto percentual de indecisos. Analistas prevêem que a distância entre o "não" e o "sim" diminuirá durante a campanha, até uma votação muito apertada.
Os institutos de pesquisa alertam também que os últimos levantamentos ainda não refletem a mudança de estratégia do presidente, que recentemente ampliou a possibilidade de reeleição a governadores e prefeitos.
A oposição, fortalecida após algumas vitórias importantes na eleição regional de novembro, diz que a alteração constitucional ameaçaria a alternância de poderes na Venezuela, além de ser ilegal, por já ter sido rejeitada no referendo de 2007.
Mas os adversários do presidente ainda não têm um líder nacional que os aglutine e se apresente com alternativa a Chávez, cuja popularidade permanece em torno de 60 por cento.
Após os resultados eleitorais de novembro, não tão positivos quanto ele previa, Chávez lançou uma "guerra-relâmpago" para aprovar a emenda, a fim de se antecipar aos efeitos da crise global --que derrubou o preço do petróleo, afetando a arrecadação do governo-- e a tentativas da oposição de se reorganizar.
Com a aprovação da Assembleia, onde Chávez tem ampla maioria, a proposta será entregue na sexta-feira à autoridade eleitoral, que deve convocar um referendo para dentro de 30 dias.