O governo da Venezuela expulsou discretamente o chefe da missão diplomática da Suíça em Caracas após mal-estar causado por protestos que constrangeram o presidente Nicolás Maduro durante visita a Genebra, segundo a reportagem apurou.

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O encarregado de negócios suíço, Benedict De Cerjat, saiu do país no início de fevereiro. Ele estava no cargo havia cinco meses.

O caso começou em novembro, quando Maduro esteve na sede do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, para defender-se das acusações de abusos cometidos pelo governo venezuelano.

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A visita ocorreu a pedido da Venezuela, o que gerou críticas de alguns diplomatas na ONU, já que o conselho não tem tradição de acatar solicitações unilaterais de discursos por parte de chefes de Estado.

O desconforto entre diplomatas era agravado pelo fato de a viagem de Maduro ocorrer apenas três semanas antes da eleição parlamentar venezuelana, que vinha sendo precedida de tensa campanha e acabou vencida pela oposição.

Em seu discurso, o presidente negou haver violações de direitos humanos na Venezuela e detalhou o que considera ser avanços sociais históricos conquistados graças às políticas chavistas.

A grave crise na Venezuela, disse Maduro, é fruto de uma guerra econômica travada por setores capitalistas que buscam jogar a população contra o socialismo.

Do lado de fora da ONU, porém, a comitiva presidencial se deparou com um pequeno grupo de manifestantes venezuelanos que ostentavam cartazes e gritaram palavras de ordem como “Maduro traidor, assassino e ditador”. Entre os manifestantes, estavam estudantes direitistas e uma tia de Leopoldo López, opositor radical preso há dois anos sob acusação de instigar violentos protestos que deixaram 43 mortos, incluindo policiais.

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Explicações

Dias depois do ocorrido em Genebra, a chanceler da Venezuela, Delcy Rodríguez, convocou o representante suíço em Caracas para cobrar explicações pelo que considerou uma falta de respeito com Maduro.

Rodríguez exigiu que autoridades tomassem as devidas providências para que o caso nunca mais se repetisse. Mas De Cerjat argumentou que a Suíça, como democracia plena, garante às pessoas o direito de se expressarem livremente.

A resposta enfureceu a ministra, que ficou alterada e interrompeu a conversa. Ela informou Maduro sobre o caso, o que levou à decisão de declarar o diplomata persona non grata.

Após o incidente, De Cerjat viajou à Suíça, onde permaneceu por algumas semanas na expectativa de que a situação se acalmasse. Enquanto isso, a oposição impôs humilhante derrota ao chavismo na eleição parlamentar.

Em janeiro, ele voltou a Caracas para encerrar a missão e ir embora definitivamente.

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O incidente foi detalhado à Folha por pessoas familiarizadas com o caso. A Embaixada da Suíça em Caracas disse que não comentaria. O governo venezuelano não retornou pedidos de contato.

Diplomata suíço retorna a Genebra

Polêmica do golfe

Espécie de embaixador itinerante, De Cerjat estava encarregado de comandar a representação suíça até a nomeação de um ocupante permanente para substituir a chefe de missão anterior, que também saiu após envolver-se numa polêmica.

Em junho de 2015, a então embaixadora Sabine Ulman colocou um cartaz no portão da residência oficial para avisar que os usuários de um clube de golfe vizinho estariam violando a legislação internacional caso alguma bola aterrissasse ferindo alguém na casa.

“De acordo com a Convenção de Viena sobre as relações diplomáticas, esta residência é território suíço. Atiras bolas nesta residência é um perigo para qualquer pessoa e uma violação da Convenção de Viena. Se uma bola de golfe ferir o matar alguém solo suíço, será de inteira responsabilidade do jogador e do clube de golfe”, dizia o cartaz, que a Federação Venezuelana de Golfe qualificou como “reação desmedida.”

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A Chancelaria suíça repatriou Ulman após o incidente, que vinha sendo motivo de chacota.

No caso do cartaz, porém, prevalece a avaliação de que o governo venezuelano estava satisfeito com a polêmica, já que considera o golfe um esporte de elite incompatível com a ideologia chavista.

Em 2006, o então presidente Hugo Chávez havia ameaçado expropria o clube de golfe para construir casas populares.

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