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Opinião

Impasses venezuelanos na política e na economia

Corival Alves do Carmo, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe

Durante o governo Hugo Chávez, as estratégias de desenvolvimento passaram por três fases: no início do seu ciclo presidencial tentou reviver o modelo desenvolvimentista, com um viés nacionalista no setor petroleiro e ainda contando com o capital nacional para alavancar o crescimento. A radicalização em torno da nova política petroleira em 2002 e tentativa de golpe inviabilizaram esta estratégia.

Como alternativa, o governo Chávez procura colocar a Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) como epicentro das políticas de desenvolvimento, desde o setor leiteiro até a indústria naval, várias subsidiárias são criadas e ao mesmo tempo procura-se estimular o crescimento de empresas privadas, de propriedade social. Por fim, a última estratégia adotada voltou-se para o desenvolvimento da economia comunal, uma tentativa de associar os conselhos comunais, estruturas de democracia direta e mobilização política, com o projeto de desenvolvimento econômico.

Ao fim, a conclusão a que se chega é não ter sido construído um modelo venezuelano-bolivariano de desenvolvimento. O aumento do preço internacional do petróleo e as mudanças na PDVSA permitiram importantes conquistas sociais e suavizar os desequilíbrios econômicos internos. Mas ao assumir o governo, Nicolás Maduro não tinha uma "receita" a seguir para gerir a economia.

Diante da fragilidade política do presidente, também dentro do bloco governista, a gestão da política econômica se complica, pois qualquer mudança mais drástica pode ser interpretada como rompimento com o legado chavista. Apesar das manifestações da oposição, é um equívoco imaginar que o governo não tenha apoio. As eleições de dezembro de 2013, em nível municipal, foram vencidas pelo governo. Neste sentido, as manifestações são produto da radicalização política do país. Para retomar a iniciativa, o governo precisa avançar na reforma da política cambial para evitar o desabastecimento de produtos e favorecer o acesso da classe média a dólares.

A Human Rights Watch divulgou ontem um relatório em que denuncia violações de direitos humanos feitas por forças de segurança da Venezuela durante as manifestações que acontecem no país desde março. No documento, a organização informa sobre 45 casos de abuso policial e do governo contra mais de 150 pessoas em três estados venezuelanos e na capital Caracas.

Dentre os casos, estão agressões físicas graves e uso de munição letal contra manifestantes desarmados, prisões arbitrárias, abusos físicos e psicológicos contra presos e falta de garantia do devido processo legal.

O governo também é responsabilizado por permitir que grupos armados pró-governo, conhecidos como coletivos, agissem armados. "A comunidade internacional, principalmente a Unasul, deveria condená-los energicamente. Deve-se insistir que o governo de Maduro acabe com essas violações, liberte as pessoas detidas ilegalmente e leve à Justiça os agentes de segurança do Estado e os grupos armados responsáveis por ataques a manifestantes desarmados".

A investigação se baseou em fotografias, laudos médicos e decisões judiciais recolhidos durante março de 2014. Também foram registradas as tentativas de impedir o registro do protesto por ativistas e jornalistas.

Imprensa

O jornal El Universal, um dos mais tradicionais da Venezuela, voltou a reduzir ontem o número de páginas em consequência da falta de papel provocada por um atraso nos trâmites de importação pelo governo, afirma a publicação.

Diversos veículos do país têm sofrido com a escassez da matéria-prima, devido à fuga de dólares do país e do controle da moeda estrangeira pelo governo. Opositores acusam o presidente, Nicolás Maduro, de estar aproveitando o desabastecimento para prejudicar veículos de imprensa críticos ao governo.

Por falta de papel, mais de dez jornais da Venezuela fecharam as portas, se limitaram às edições digitais ou reduziram o número de páginas.

Para obter o papel-jornal, as empresas devem pedir à Comissão de Administração de Divisas(Cadivi) permissão para comprar dólares.

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