Com o Syriza no comando, as autoridades europeias temem que a Grécia seja mais uma vez o epicentro de uma crise no continente| Foto: Alkis Konstantinidis/Reuters

Vantagem

De acordo com três pesquisas divulgadas na última quinta-feira, dia 22, o Syriza ampliou sua vantagem sobre o Nova Democracia. Entre 31% e 32% dos entrevistados apoiam o partido de esquerda, enquanto o de direita aparece com entre 27% e 28% das intenções de voto.

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Colapso

Relembre como aconteceu a crise financeira na Grécia, iniciada em 2010 e até hoje em andamento:

Fim de 2009

As agências de rating rebaixaram a nota de crédito grega em razão da frágil situação fiscal.

2010

O país entrou em colapso, não conseguiu pagar suas dívidas e acabou sendo resgatado pela chamada troica – Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

2012

A Grécia implementou sucessivos planos de austeridade, eliminou empregos no setor público e elevou impostos, mas, ainda assim, precisou de um segundo resgate da troica. O problema se alastrou para outros membros da zona do euro e, em uma de suas consequências, elevou o desemprego para o nível recorde de 12% no bloco e de 28% na Grécia. Os empréstimos recebidos seriam pagos em prestações, revisadas a cada trimestre.

176% do pib é a dívida pública total da Grécia, o nível mais elevado da Europa, segundo dados do quarto trimestre de 2014.

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Eleição pode ter alterar a relação do país com a União Europeia
Alexis Tsipras: postura inflexível é improvável, segundo analistas

As eleições parlamentares da Grécia acontecem hoje e não são apenas os gregos que estão ansiosos pelo resultado. Líderes europeus e investidores ao redor do mundo também se mostram atentos, ou melhor, preocupados. A razão é simples: o partido que lidera as pesquisas, o esquerdista Syriza, é a principal oposição ao governo atual e tem se colocado contra o programa de austeridade, adotado pelo país em 2010 para recuperar a economia

Segundo analistas ouvidos pela reportagem, uma possível vitória do Syriza significaria apenas o início de um longo período de turbulências políticas e econômicas que poderia resultar na saída da Grécia da zona do euro, na fuga de investimentos em massa, no contágio da crise para outros países e até no ressurgimento do debate sobre o fim do euro.

Para conseguir colocar suas ideias em prática, o Syriza precisa obter maioria absoluta no Parlamento nas eleições. Pelas regras eleitorais gregas, o partido vencedor na votação ganha automaticamente 50 assentos extras, de um total de 300 integrantes – uma medida que tem como objetivo facilitar a estabilidade de um governo eleito. A maioria das pesquisas, porém, indica que o Syriza não conseguirá votos suficientes, mesmo com o bônus. "Eles terão de formar uma coalizão, com o apoio de outros partidos. Será apenas o começo de muitas incertezas no campo político", prevê a analista Jennifer McKeown, da consultoria Capital Economics.

Outra consultoria, a Oxford Economics, aposta em uma reviravolta. No cenário mais provável para eles, o Syriza venceria as eleições, mas teria dificuldades para governar. Novas eleições parlamentares seriam convocadas e o Nova Democracia, de centro-direita e favorável ao programa de austeridade, voltaria ao poder para evitar uma saída do país da zona do euro.

Com o Syriza no comando, as autoridades europeias temem que a Grécia seja mais uma vez o epicentro de uma crise no continente. Até porque, já existe a avaliação de que a dívida grega voltou a ficar insustentável e teria de passar por novo processo de renegociação, como ocorreu três anos atrás.

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Renegociar dívida não será uma tarefa fácil para o partido

O Syriza quer renegociar a dívida pública da Grécia para parcelas menores, para que o governo tenha mais recursos para investir em programas sociais e criação de empregos. Porém, mesmo que monte uma maioria no Parlamento, renegociar não será uma tarefa fácil para o partido. "É improvável que seu líder, Alexis Tsipras, adote uma postura pragmática e flexível", prevê Nicholas Spiro, da consultoria Spiro Sovereign Strategy. Alexis Tsipras, de apenas 40 anos, ganhou popularidade na Grécia por prometer uma recuperação com base em avanços sociais. Sua proposta de criar 300 mil empregos sensibilizou a população, em meio a uma taxa de desemprego de 25% no fim do ano passado. No entanto, enquanto agrada ao eleitorado grego, Tsipras incomoda as principais autoridades europeias.

Ameaça

No início de janeiro, a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, ameaçou expulsar a Grécia da zona do euro, caso o Syriza vença as eleições e adote uma postura inflexível quanto ao programa de austeridade.

Antes disso, em dezembro, o ex-ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, afirmou que uma renegociação da dívida após uma vitória do Syriza causaria pânico no mercado financeiro, provocando uma crise capaz de respingar na Itália e, com algum atraso, na França, duas das três maiores economias da zona do euro.

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Em artigo publicado no site do partido, Tsipras respondeu aos alemães: "Serei franco, a atual dívida da Grécia é insustentável e nunca será atendida, especialmente enquanto o país for submetido a um contínuo afogamento fiscal". No entendimento do político, "as exigências feitas pela troica só tornam a economia grega mais fraca, causando estragos aos meios de vida da maioria da população".